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2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS SOBRE A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES,

2.1. Conceitos de formação de professores, gestão, educação bilíngue e

2.1.1. Conceitos básicos sobre a formação de professores, gestão e educação

2.1.1.3 O conceito educação bilíngue

A abordagem do conceito educação bilíngue, no passado e no presente, carrega consigo uma complexidade e variedades de definições. O nosso objetivo, neste subcapítulo, é apresentar e refletir em torno das diferentes concepções sobre a definição do conceito educação bilíngue, mostrando as diversas formas de compreensão dos investigadores. Também, é nosso objetivo apresentar e debater os diferentes modelos de educação bilíngue. À medida que formos debatendo as diferentes definições e modelos de educação bilíngue, verificaremos as inter- relações entre as diferentes conceptualizações de investigadores. Ainda neste subcapítulo analisaremos a definição e modelos de educação bilíngue que possam ser mais aplicáveis em Moçambique, atendendo as diversidades linguísticas e culturais existentes o português como língua oficial. Este subcapítulo divide-se em duas partes, sendo a primeira parte o conceito educação bilíngue e a segunda os modelos de educação bilíngue. Para o suporte científico, deste subcapítulo, trabalhamos com as obras dos seguintes investigadores: Titone (1976), INDE (2003), Megale (2005), Baker (2006), Garcia (2009) e Chimbutane e Stroud (2012).

Antes de entrarmos na definição da educação bilingue, é fundamental que definamos o conceito bilínguismo. Entendemos por bilinguismo o uso de duas línguas, sendo elas L1 e L2 em contexto de comunicação. Segundo Titone (1976),

O bilinguismo é o poder possuído por um indivíduo para ser capaz de expressar em uma segunda língua adaptar fielmente os conceitos e estruturas próprias, sem parafraseando a mesma língua nativa. A pessoa bilíngue tem o poder de ser capaz de expressar em qualquer uma das duas línguas sem dificuldade, sempre que surge a ocasião (TITONE, 1976, p. 13).

A definição do conceito bilinguismo tem o seu historial já faz muito tempo. Os estudiosos como Baker, Bloomfield, Haugen, Weinreich e Diebod deram seu

contributo. A seguir os contributos dos estudiosos sobre o conceito bilinguismo: segundo Baker (2001), citado por Garcia (2009),

Bilinguismo é a capacidade de utilizar mais do que um idioma. Os primeiros estudiosos do bilinguismo, em particular Bloomfield (1933), considera apenas o controle nativo como de duas línguas, como um sinal de bilinguismo. Mas os estudiosos posteriores, como Einar Haugen e Uriel Weinreich, tinham muito mais amplas definições de bilinguismo, talvez porque, como bilíngues eles estavam cientes de sua complexidade, e que havia trabalhado em contextos de imigrantes dos Estados Unidos, onde as diferentes formas de bilinguismo eram comuns. Haugen (1953) considerou mesmo proficiência mínima em duas línguas um sinal de bilinguismo. Weinreich (1953) considera alguém que alternava entre as duas línguas como um bilíngue. Diebod (1964) fala de bilinguismo incipiente para designar aqueles que estão nos primórdios da aquisição de alguma competência em outro idioma, proporcionando, assim, uma definição minimalista de bilinguismo (GARCIA, 2009, p. 44).6

Macnamara (1967), por seu turno, citado por Megale (2005, p. 2), define que um indivíduo bilíngue é alguém que possui competência mínima em uma das quatro habilidades linguísticas (falar, ouvir, ler e escrever) em uma língua diferente de sua língua nativa. Ainda Titone (1976), de seu ponto de vista, afirma que,

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Bilingualism, according to Baker (2001), is the ability to use more than one language. Early scholars of bilingualism, in particular Bloomfield (1933), only considered native-like control of two languages as a sign of bilingualism. But later scholars, such as Einar Haugen and Uriel Weinreich, had much broader definitions of bilingualism, perhaps because as bilinguals themselves they where aware of its complexity, and they had worked in immigrant U.S contexts where different forms of bilingualism were common. Haugen (1953) labeled someone who alternated between the two languages as a bilingual. Diebold (1964) speaks of incipient bilingualism to designate those who are at the very beginnings of acquiring some competence in another language, thereby providing a minimalist definition of bilingualism. (GARCIA, 2009, p. 44).

Verdadeiro bilinguismo abrange não só o domínio de dois códigos linguísticos instrumentais, mas, em sentido mais profundo, altamente personalizado posse de dois sistemas de pensamento, que envolve modelo coordenada ou paralela do bilinguismo proposto por Ervin e Osgood-e, portanto, duas culturas. O bilinguismo é verdadeiro tanto biculturalismo. É somente nesse sentido que o bilinguismo, ao invés de atrapalhar neste sentido que o indivíduo representa um enriquecimento da personalidade (TITONE, 1976, p. 51-52).

Na definição do conceito bilinguismo encontramos outros estudiosos como Barker e Prys (1998), Li Wei (2000), citado por Megale (2005, p. 2), argumenta que o termo bilíngue basicamente pode definir indivíduos que possuem duas línguas. Mas deve-se incluir entre estes, indivíduos com diferentes graus de proficiência nessas línguas e que muitas vezes fazem uso de três, quatro ou mais línguas.

Baker (2006, p. 3) define o conceito bilinguismo como sendo a capacidade de um indivíduo falar e escrever em duas línguas.

Depois de termos apresentado as definições do conceito bilinguismo de diferentes autores, como Titone (1976), Megale (2005) e Baker (2006) entendemos que o conceito bilinguismo é variado e diversificado, dependendo de cada investigador. Na nossa percepção, do ponto de vista educacional, o bilinguismo é a competência que um indivíduo tem em dominar duas línguas, sendo elas L1 e L2 ou LE, nas quatro habilidades, designadamente falar, ouvir, ler e escrever.

Em seguida vamos definir o conceito educação bilíngue, interagindo com obras de diferentes estudiosos, nomeadamente Megale (2005), Cañete (2008), Garcia (2009).

A primeira definição do conceito educação bilíngue é do Harmers e Blanc (2000), citado por Megale (2005, p. 9), descreve educação bilíngue como qualquer sistema de educação escolar no qual, em dado momento e período, simultânea ou consecutivamente, a instrução é planejada e ministrada em pelo menos duas línguas. Nesta definição está patente que a educação bilíngüe é aquela que é feita em duas línguas de forma simultânea ou consecutivamente.

A segunda definição está centralizada em língua da minoria, considerada língua materna do aluno e língua majoritária, a segunda língua do aluno. Segundo

Appel e Muysken (1996), citado por Cañete (2008, p. 25), a Educação Bilíngue consiste naquele sistema em que uma língua minoritária joga um papel de certa importância junto a uma língua majoritária.

A terceira definição do conceito da educação bilíngue da Garcia (2009) define educação bilíngue como sendo alguém que tenha um domínio de duas línguas.

Finalmente, a quarta definição, do Baker (1993), citado por Garcia (2009, p. 5), o conceito educação bilíngue refere-se ao termo usado para a educação dos alunos que já são falantes de duas línguas e, em outras vezes, com a educação daqueles que estão estudando línguas adicionais. Na última definição notamos que o conceito educação bilíngue refere-se aos já falantes e àqueles que estão estudando línguas adicionais.

Em Bisqué (2012), a educação bilíngue é entendida como o uso de duas línguas no processo de ensino aprendizagem. O caso concreto de Moçambique, o ensino bilíngue é o uso das línguas locais e da língua portuguesa no processo de ensino aprendizagem.

Nas definições sobre o conceito de educação bilíngue, já mencionadas, verificamos que há divergências nas definições do conceito educação bilíngue. No nosso entender a educação bilíngue é o conceito ou termo usado para o ensino no qual são usadas duas línguas, sendo a língua materna da criança (língua local) e uma língua segunda ou mesmo estrangeira. Educação bilíngue, a sua definição, depende de contextos sócio-culturais e políticos de cada país. Conforme Markey (1972), citado por Magale (2005, p. 7), Educação bilíngue pressupõe conceitos distintos em países e contextos diferenciados em função de questões éticas dos próprios educadores e legisladores e de fatores sócio-políticos.

Em Moçambique, no ensino monolingue, a partir da 6ª classe os alunos aprendem o Inglês (língua estrangeira) como disciplina, neste caso não se está perante a educação bilíngue. A educação bilíngue é aquela em que o aluno aprende os conteúdos das disciplinas com a língua segunda ou estrangeira. Conforme Garcia (2009),

Educação bilíngue é diferente de programas de ensino de língua tradicional que ensinam uma segunda ou uma língua estrangeira. Para a maior parte, aprender em segunda ou em língua estrangeira em programas tradicionais é ensinar a

língua como sujeito, enquanto que nos programas de educação bilíngue é ensinar o conteúdo através de outra língua que não seja língua materna das crianças (GARCIA, 2009, p. 6).7

A educação bilíngue é vista como um meio articulador entre as diferentes culturas dentro duma comunidade ou sociedade. As escolas da educação bilíngue em Moçambique localizam-se nas zonas rurais onde a cultura é veiculada através da sua língua local. Os alunos ao terem a língua portuguesa pela primeira vez, na sua vida, na escola, aprendem outra cultura e outra convivência, por exemplo, a forma de cumprimentar, de gesticular e as regras de convívio. Eles aprendem a respeitar as outras culturas e outras línguas. Conforme Bortoni (1993), citado por Hilgemann (2004), a educação bilíngue permite:

a) respeito às características culturais e linguísticas do aluno, o que lhe garantirá a manutenção de sua auto-estima e viabilizará sua integração na cultura da escola que lhe é razoavelmente estranha, e

b) o conhecimento, por parte da escola, das características da competência comunicativa que o aluno traz consigo e que deverá ser ampliada e diversificada ao longo de sua formação escolar (HILGEMANN, 2004, p. 35).

A educação bilíngue dá possibilidades e permissas para que o indivíduo, partindo da aprendizagem de outras línguas locais ou estrangeiras, como língua segunda ou estrangeira, tenha o potencial cultural de outros povos, tornando-se num cidadão globalizado. Segundo Garcia (2009)

7 Bilingual education is different from traditional language education programs that teach a second or a

foreign –language. For the most part, these traditional second or foreign-language programs teach the language as a subject, whereas bilingual education programs use the language as a medium of instruction; that is, bilingual education programs teach content through an additional language other than the children’s home language (GARCIA, 2009, p. 6).

Na educação em geral, a educação bilíngue não se concentra apenas na aquisição de educação de idiomas adicionais, mas também em ajudar os alunos a se tornarem cidadãos globais e responsáveis como eles aprendem a função entre culturas e mundos, isto é, para além das fronteiras culturais em que a escolaridade tradicional muitas vezes funciona. Na educação de forma equitativa, a educação bilíngue se concentra em fazer a escolaridade significativa e compreensível para os milhões de crianças cujos idiomas de casa são diferentes da língua dominante da escola e da sociedade (GARCIA, 2009, p. 6-7).8

A educação bilíngue permite que os alunos tenham a possibilidade de conhecerem outras culturas e outros mundos, facilitando-os a serem cidadãos do mundo globalizado e rompem com as fronteiras físicas que barram o desenvolvimento de muitos indivíduos.

Quadro 4: Diferenças entre Educação Bilíngue e Ensino da Língua

Educação Bilíngue Ensino da Língua Estrangeira ou Segunda

Objetivo primordial Educar significativa e algum tipo de bilinguismo.

Competência em língua adicional

Objetivo acadêmico Educar bilíngue e ser capaz de funcionar entre as culturas.

Aprenda um idioma adicional e familiarizar-se com uma cultura adicional.

Uso da língua Idiomas usados como meio de instrução.

Língua adicional ensinou como sujeito.

Uso de instrução Usa alguma forma de duas Usa uma linguagem alvo

8 In educating broadly, bilingual education focuses not only on the acquisition of additional languages,

but also on helping students to become global and responsible citizens as they learn to function across cultures and worlds, that is, beyond the cultural borders in which traditional schooling often operates. In educating equitably, bilingual education focuses on making schooling meaningful and comprehensible for the millions of children whose home languages are different from the dominant language of school and society. (GARCIA, 2009, p. 6-7).

da língua ou mais línguas. principalmente.

A ênfase

pedagógica

Integração da linguagem e conteúdo.

Ensino da língua explícita.

Fonte: Garcia (2009, p. 7)

No quadro 4 estão nítidas as diferenças entre a educação bilíngue e programas de ensino de línguas. Na educação bilíngue as duas línguas são usadas como meio de instrução enquanto nos programas de ensino de línguas a língua adicional é ensinada como disciplina.

Apesar da educação bilíngue em Moçambique ser uma realidade nova, existindo desde 2003, há boas experiências no convívio escolar com as comunidades pelo fato da língua local ser o grande unificador dos indivíduos. Nas zonas rurais, como já afirmamos anteriormente, os indivíduos comunicam-se em línguas locais. As crianças ao aprenderem os conteúdos em suas línguas locais têm a possibilidade transmitir aos seus pais e familiares o que aprendem, para além destes ajudarem os seus filhos em tarefas de casa e em conteúdos que os seus filhos não entendem. A valorização da cultura das comunidades, a auto-estima dos alunos e pais e o conhecimento de outra cultura fortificam o desenvolvimento harmonioso e intelectual dos alunos, preparando-os para novos desafios do mundo globalizado. Também através de educação bilíngue em Moçambique, estão perpetuados e valorizados os âmbitos, as tradições, as danças, canções, poesias e histórias do nosso povo através dos livros didáticos, mini-dicionários, romances, poemas escritos em diferentes línguas locais. Conforme Garcia (2009),

Educação Bilíngue, para nós, é simplesmente qualquer instância em que as crianças e os professores nas suas práticas de comunicação na escola, normalmente, incluem o uso de múltiplas práticas multilíngues que maximizam a eficácia de aprendizagem e de comunicação, e que, ao fazê-lo, promovem e desenvolvem a tolerância em relação a diferenças linguísticas, bem como a valorização das línguas e de proficiência bilíngue. Em outras palavras, nosso objetivo é ter educação bilíngue reconceptualizado em resposta à interação social entre os alunos, professores e outros

membros da comunidade educativa, utilizando duas ou mais línguas diferentes, não apenas como o sumário de práticas de linguagem desprovida das realidades sociais complexas do multilinguismo (GARCIA, 2009, p. 8-9).9

Na realidade do mundo de hoje, mundo globalizado, é pertinente o domínio de muitas línguas, pois fortalece um mosaico cultural e intelectual alargado aos indivíduos. Esta convivência com muitas línguas permite que os indivíduos convivam com outros sem complexos de superioridade ou mesmo de inferioridade. A visão destes indivíduos bilíngues ou multilíngues é mais ampliada e favorece ao mundo de concorrência de emprego e do bem estar consigo e com os demais. Conforme Garcia (2009, p.9) “Educação bilíngue no século XXI deve ser reinventada e ampliada, uma vez que leva o seu lugar de direito como uma forma significativa para educar todas as crianças e alunos de línguas no mundo de hoje.” Também Webb (1998), citado por Stroud e Tuzine (1998, p. 72), reforça a ideia do mosaico linguístico do indivíduo ao afirmar, “O princípio do multiculturalismo implica também o desenvolvimento obrigatório do bi/trilinguismo individual e do multilinguismo geral da sociedade, como um meio de estabelecimento de respeito cultural mútuo e comunicação intercultural.”

As línguas locais têm consigo grandes ensinamentos para as comunidades que as falam, como por exemplo, os provérbios, histórias, contos tradicionais, ritos de iniciação que só soam bem nas próprias línguas locais, a sua tradução para outras línguas perdem, muitas das vezes, o seu sentido e o seu ensinamento. Na

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Bilingual education, for us, is simply any instance in which children’s and teachers’ communicative practices in school normally include the use of multiple multilingual practices that maximize learning efficacy and communication; and that, in so doing, foster and develop tolerance towards linguistic differences, as well as appreciation of languages and bilingual proficiency. Our definition, then, does not depart greatly from the ways in which others have defined bilingual education. Where we perhaps differ is in grounding bilingual education firmly on the language and literacy practices that we observe in schools, on what has become widely known as bilingual encounters (Martin, 2003), instead of on theoretical frameworks of how language ought to be and ought to function, frameworks that have little to do with actualizing the potential of children’s intellect, imagination, and creativity (GARCIA, 2009, p. 8-9).

minha língua local sena, para se referir a negócio obscuro diz-se: malonda a paca10, traduzindo a frase sublinhada fica negócio de gato. Para os que não são falantes desta língua é difícil entender que se pretende dizer negócio obscuro. Segundo Bourdieu (1991), citado por Garcia (2009),

O sociólogo francês Pierre Bourdieu (1991) associou a educação à reprodução como capital, um ativo de valor quantificável. Na escola, os alunos adquirem capital cultural, isto é, conhecimento, habilidades e estratégias relacionadas com a apresentação do auto, bem como capital simbólico que tem a ver com a respeitabilidade e dignidade. Também é valioso capital linguístico, a capacidade de usar as normas adequadas de linguagem. Ser capaz de usar linguagens de forma eficaz, Bourdieu argumenta, aumenta a sua riqueza, porque permite interagir com outras pessoas em diferentes contextos sociais. Em certo sentido, saber usar uma língua é uma forma de ganhar capital cultural e simbólico (GARCIA, 2009, p. 12).11

A língua materna como meio de ensino é eficaz no processo de ensino aprendizagem para as crianças pelo fato delas trazerem de casa vocabulário suficiente para a comunicação com as outras crianças e professores na sala de aula e no ambiente escolar no seu geral. Quando o meio de ensino é uma língua segunda ou estrangeira as crianças ficam tímidas e apreensivas, tornando-se a sala de aula e a escola um local opressor. Os resultados pedagógicos, assim como a

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A expressão malonda a paca, da língua sena, é um provérbio que traduzindo para a língua portuguesa significa negócio obscuro, isto é, sem a observância de regras de negócios.

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The French sociologist Pierre Bourdieu (1991) has linked education to reproduction of the social order. Bourdieu proposes that we view education as capital, an asset of quantifiable value. At schools, students acquire cultural capital, that is, knowledge, abilities, and strategies related to the presentation of self; as well as symbolic capital having to do with respectability and worthiness. Also valuable is linguistic capital, the ability to use appropriate norms of language. Being able to use languages effectively, Bourdieu argues, increases one’s wealth because it allows one to interact with others in various social contexts. In a sense, knowing how to use a language is a way of gaining cultural and symbolic capital (GARCIA, 2009, p. 12).

interação na sala de aula, são mais animadores quando o meio de ensino é a língua local da criança. Segundo UNESCO (2003), citado por Garcia (2009), UNESCO propõe três princípios básicos, não mais simplesmente focados na língua materna como era em 1953, mas em educação multilíngue intercultural como um recurso para todos:

1. Instrução de língua materna como meio de melhorar a qualidade Educacional, construindo sobre o conhecimento e a experiência dos alunos e professores;

2. Educação bilíngue e/ou multilíngue em todos os níveis da educação como um meio de promover tanto social e igualdade de gênero e como um elemento fundamental das sociedades linguisticamente diversos;

3. A linguagem como um componente essencial da educação intercultural, a fim de estimular a compreensão entre diferentes grupos populacionais e assegurar o respeito pelos direitos fundamentais (GARCIA, 2009, p. 15-16).12

O uso da segunda língua ou língua estrangeira como meio de ensino no processo de ensino aprendizagem sem ter passado por ensino das crianças em suas línguas locais cria muitas dificuldades, nomeadamente fraca interação na sala de aula entre aluno-professor, aluno- aluno e professor aluno, fraco domínio da leitura e escrita para além da fraqueza em compreender os conteúdos de outras disciplinas curriculares. Segundo Lopes (2001),

Os alunos de língua segunda são menos proficientes em português, visto que são menos loquazes, precisam de maior

12 1. Mother tongue instruction as a means of improving educational quality by building upon the

knowledge and experience of the learners and teachers:

2. Bilingual and/or multilingual education at all levels of education as a means of promoting both social and gender equality and as a key element of linguistically diverse societies;

3. Language as an essential component of inter-cultural education in order to encourage understanding between different population groups and ensure respect for fundamental rights (GARCIA, 2009, p. 15-16).

apoio na comunicação (estimulação pedagógica pontual) para realizar uma tarefa verbal, têm maiores dificuldades em organizar suas produções e evidenciam muito mais formas não-nativas, isto é, erros, em seus discursos. São menos proficientes na leitura, pois a controlam menos, usam pouco “boas” estratégias do ato de ler e têm uma compreensão mais fragmentada do que leram (LOPES, 2001, p. 5).

Em Moçambique a educação bilíngue dá bases sólidas aos alunos nos primeiros três anos do ensino, pois o fato de terem as suas línguas locais como meio de ensino, proporciona-lhes requisitos importantes para o domínio da leitura e escrita iniciais da sua língua materna e, assim, têm recursos linguísticos para a