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CAPÍTULO 2 – ARGUMENTAÇÃO NAS AULAS DE CIÊNCIAS

2.1. CONCEITO E IMPORTÂNCIA DA ARGUMENTAÇÃO NAS AULAS DE CIÊNCIAS 34

No contexto do ensino de Ciências, a argumentação é definida por Jimenez-Aleixandre e Díaz-de-Bustamante (2003) como

a capacidade de relacionar dados e conclusões, de avaliar enunciados teóricos sob luz de dados empíricos ou procedentes de outras fontes (JIMENEZ-ALEIXANDRE, DIAZ-DE-BUSTAMANTE, 2003, p. 361, tradução nossa).

Bricker e Bell (2012, p. 119) definem a argumentação como o processo de construção de argumentos. Toulmin (2006, p. 135) considera

O argumento é como um organismo: tem uma estrutura bruta, anatômica, e outra mais fina e, por assim dizer, fisiológica. Quando explicitamente exposto em todos os seus detalhes, um só argumento pode precisar de muitas páginas impressas ou talvez um quarto de hora para ser narrado; e, naquele tempo ou espaço, podem-se distinguir as fases principais que marcam o progresso do argumento a partir da afirmação principal de um problema não resolvido, até a apresentação final de uma conclusão. Cada uma dessas fases principais ocupará alguns minutos ou parágrafos, e representa as principais unidades anatômicas do argumento – seus “órgãos”, por assim dizer. E pode-se reconhecer uma estrutura mais fina, dentro de cada parágrafo, quando pode-se desce ao nível das sentenças individuais; com esta estrutura mais fina é que os lógicos têm-se principalmente ocupado. Neste nível fisiológico introduziu-se a ideia de forma lógica e, afinal de contas, é ali que a validade de nossos argumentos tem de ser estabelecida ou refutada (TOULMIN, 2006, p. 135).

No campo dos processos de ensino e de aprendizagem de ciências, o argumento pode ter lugar como atividade individual, por meio do pensamento e da escrita, ou como uma atividade social que tem lugar dentro de um grupo – um ato social negociado dentro de uma comunidade específica (DRIVER; NEWTON; OSBORNE, 2000).

García-de-Cajén, Domínguez-Castiñeiras e García-Rodeja Fernandez (2002, p. 220) apontam as habilidades desenvolvidas por meio da argumentação em aulas de ciências conforme o Quadro 13.

HABILIDADES DESENVOLVIDAS POR MEIO DA ARGUMENTAÇÃO 1. Identificar provas e dados

2. Diferenciar atos e explicações teóricas

3. Comparar modelos teóricos e situação física real 4. Identificar razões

5. Elaborar razões 6. Formular explicações 7. Formular conclusões

8. Avaliar uma hipótese ou enunciado 9. Justificar respostas

10. Analisar criticamente 11. Realizar crítica

12. Elaborar, modificar e justificar hipóteses sobre fenômenos naturais 13. Dar argumentos e contra-argumentos

14. Avaliar consistência e coesão da argumentação 15. Usar a linguagem da ciência

16. Resolver um conflito mediante negociação social 17. Avaliar alternativas

18. Refletir acerca da evidência

19. Avaliar a viabilidade de conclusões científicas 20. Buscar coerência e globalidade

Quadro 8. Habilidades desenvolvidas por meio da argumentação nas aulas de ciências (GARCÍA DE CAJÉN; DOMÍNGUEZ-CASTIÑEIRAS; GARCÍA-RODEJA FERNANDEZ, 2002, p. 220).

As habilidades argumentativas acima destacadas também permitem elucidar a aprendizagem dos alunos. Motokane (2015, p. 128-129) considera que:

o desenvolvimento de habilidades argumentativas também promove a exteriorização da aprendizagem de um conteúdo ensinado quando os argumentos têm a chance de ser produzidos com base em elementos científicos aprendidos em aula. Ao apresentarem seus argumentos, os alunos podem expressar como utilizam um determinado conceito científico para justificar uma opinião. Dessa forma, temos um indicador claro da aprendizagem do aluno (MOTOKANE, 2015, p. 128-129).

Leitão (2011) acrescenta que ao engajar-se na argumentação, o indivíduo é levado a formular claramente seus pontos de vista e fundamentá-los mediante a apresentação de razões que sejam aceitáveis a interlocutores críticos.

Por fim, é de interesse de a educação científica formar alunos críticos e capazes de optar os diferentes argumentos que lhe são apresentados, de modo que possa tomar decisões em sua vida como cidadãos (SARDÀ JORGE; SANMARTÍ PUIG, 2000).

2.2. COMPONENTES DO ARGUMENTO: O LAYOUT DE TOULMIN (TAP)

As investigações relacionadas à argumentação em aulas de ciências geralmente estão apoiadas no layout de argumento de Toulmin (TAP) (2006). Discutir este modelo exige introduzir as noções de argumento e de argumentação dentro do contexto das aulas investigativas.

A estrutura básica do argumento de Toulmin (2006) obedece ao seguinte encadeamento lógico: “a partir de um dado [D], desde que garantia [G], então

conclusão [C]”.

Toulmin (2006) conceitua dado (D) como fatos que apoiam uma alegação e também são os fundamentos com os quais se constrói o suporte à conclusão (C). Como somente os dados não são suficientes para validar a conclusão, são necessárias informações adicionais a fim de relacionar D e C. Essas informações adicionais são garantias (G), e que permitem entender como se vincula e se constrói a relação que vai dos dados à conclusão (Figura 1).

ESTRUTURA DO LAYOUT DE ARGUMENTO DE TOLMIN (2006)

Figura 1. Layout de argumento de Toulmin (2006) constituído pelos elementos dado, garantia e conclusão.

Contudo, Toulmin (2006) define outros componentes do TAP: apoio (A), qualificador modal (Q) e refutador (R). O TAP incorpora explicitamente o grau de certeza (ou incerteza) do argumento mediante o qualificador modal (Q). As principais expressões que auxiliam na construção de qualificadores modais são expressões como

sempre, às vezes, provavelmente, depende, necessariamente, obrigatoriamente. Em

suma, o qualificador modal é uma referência explicita ao grau de força que os dados (D) conferem à conclusão (C) em virtude da garantia (G).

O apoio (A) são avais que conferem autoridade ou vigência às garantias (G). O apoio (A) se refere às circunstâncias gerais, podendo ser encontrado na forma de citações de teorias, princípios e leis científicas. O refutador (R) indica circunstâncias

DADO (D) CONCLUSÃO (C)

que reduz a autoridade geral da garantia (G). Por fim, conforme a Figura 2 é apresentada o layout de argumento de Toulmin (2006) contendo todos os seus componentes.

ESTRUTURA DO LAYOUT DE ARGUMENTO DE TOLMIN (2006)

Figura 2. Layout de argumento de Toulmin (2006).

O próximo item discute os usos do TAP nas pesquisas em aulas de Ciências. Será priorizada a aplicação do TAP na argumentação oral dos alunos.

2.3. OS USOS E AS LIMITAÇÕES DO TAP EM PESQUISAS EM ENSINO DE

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