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3. SISTEMA DE INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

3.5 CONCEITO , PRINCIPAIS AGENTES E FUNCIONALIDADE DO SRI

Após essa breve discussão sobre as categorias inerentes ao SRI, torna-se oportuno introduzir o respectivo conceito. Chung (2004, p. 4) define SRI como “um complexo de atores e instituições de inovação em uma região que está diretamente relacionada com a geração, difusão e apropriação de inovação tecnológica e com uma inter-relação entre esses atores de inovação regional”. Alguns autores como Autio (1998) e Cooke e Memedovic (2003) trabalham o conceito de SRI sob a perspectiva de um sistema social. Doloreux, Bitard e Hommen (2004) destacam a funcionalidade do SRI em conformidade com arranjos organizacionais e institucionais. Apesar das diferentes opiniões, em pelo menos um ponto os autores concordam: a necessidade de interação entre os diversos atores para influenciar a geração e disseminação do conhecimento indispensável à inovação.

Nesse sentido, com intuito de harmonizar e contemplar as principais categorias conceituais discutidas acima, Cruz, Amorim e Santos (2006, p.17) definem SRI como:

[...] um sistema social formado por um conjunto de atores e organizações (empresas, universidades, institutos de pesquisa e tecnologia, agências financeiras, agências regionais de governo, entidades e associações representativas, etc.) que atuam e interagem, sob arranjos organizacionais e institucionais, influenciando a capacidade de inovação de uma região.

A natureza da relação entre SNI e SRI é uma questão que foge do objetivo aqui proposto. Contudo, é necessário tecer alguns comentários. Cooke (2001), por exemplo, defende uma maior autonomia do governo regional na alocação de recursos e na definição de prioridades para política de C&T. Em sua discussão sobre o método de avaliação da pesquisa e do desenvolvimento tecnológico nos SRIs, Autio (1998) afirma que o conceito de SNI envolve menos elementos sócio-culturais do que o conceito de SRI, pois na abordagem nacional a preocupação central não são os atores individuais e suas interações. Nos sistemas nacionais, argumenta o autor, são deixados de fora muitos elementos tácitos, fluxo de conhecimento, recursos e capital humano, configurando-se assim em uma avaliação classificatória e descritiva.

Nesse sentido, Autio (1998) propõe um modelo de SRI que abarca dois subsistemas, os quais interagem entre si e sofrem influências externas de instrumentos de política e de outros arranjos institucionais, conforme demonstrado na Figura 2.

Fonte: Autio (1998)

De acordo com Autio (1998), os dois subsistemas - geração e difusão de conhecimento e, aplicação e exploração de conhecimento - constituem a estrutura central do SRI. A diferença entre ambos corresponde à divisão entre o setor público, envolvendo atividades não comerciais (ensino e pesquisa) e o setor privado, envolvendo e abarcando atividades de produção e comercialização.

Assim, o subsistema de aplicação e exploração de conhecimento é formado principalmente, mas não exclusivamente, por empresas industriais, enquanto o subsistema de geração e difusão de conhecimento é composto por várias instituições (em sua maioria públicas), envolvidas em atividades de criação e difusão de conhecimento51. No primeiro caso, tanto as redes verticais (consumidores - fornecedores) como as horizontais (colaboradores - concorrentes) exercem diferentes influências sobre o desempenho produtivo e comercial. Ao passo que, no segundo caso, as instituições influenciam a produção e difusão

51 O próprio autor reconhece que essa distinção é apenas para efeito de simplificação, já que em qualquer um dos dois subsistemas pode haver tanto geração e difusão de conhecimento, como aplicação e exploração de conhecimento.

de conhecimento tácito e codificado, bem como na produção e difusão de habilidades e técnicas (AUTIO, 1998).

No entanto, apesar da coerência funcional, da riqueza de detalhes e elementos, o modelo sugerido por Autio deixa algumas lacunas. A principal delas refere-se à ausência do governo regional, o qual exerce um papel inegavelmente fundamental, fomentando, orientando e coordenando atividades científicas e tecnológicas, vis-à-vis às políticas e responsabilidades do governo nacional (LÓPEZ, 2003; CHUNG, 2004). É preciso frisar também que no caso do Brasil as fundações de amparo à pesquisa e as incubadoras de empresa e empreendimentos tecnológicos, constituem uma infra-estrutura de apoio muito importante para a geração, adoção e difusão de inovação. O Quadro 1, a seguir, apresenta um resumo da atuação exercida pelos principais agentes no âmbito de um SRI.

Apesar do nível de abstração, o quadro exemplifica de forma simples e objetiva como os diferentes agentes atuam e interagem sob um ambiente de cooperação, no intuito de estimular, gerar e difundir conhecimento e novas tecnologias. A aplicação e exploração desse conjunto de know how, desde que adequado às realidades naturais específicas e as necessidades socioeconômicas, contribui para o processo de desenvolvimento regional.

Quadro 1 – Papel dos Principais Agentes Econômicos no Sistema Regional de Inovação.

Agentes Participação no SRI Principais Funções

Empresas - Empresas do setor industrial; - Empresas de consultoria; - Empresas prestadoras de serviços diversos; - etc.

- Atores responsáveis pela aplicação e exploração de novas tecnologias, mediante aprimoramento e introdução de novos produtos e processos no mercado.

- Desenvolver produtos e processos de conteúdo inovador, em parceria ou não com outras empresas e instituições de pesquisa; - Interagir e cooperar com universidades e

instituições de pesquisa na busca por novos conhecimentos;

- Interagir com consumidores, fornecedores, concorrentes e colaboradores na busca por aprimoramento de produtos e processos; - Atuar em parceria com os governos local e

regional na busca por políticas alternativas de incentivo as atividades inovadoras; - Entre outras. Governo - Secretaria de ciência e tecnologia; - Bancos oficiais de fomento ao desenvolvimento; - Agências de

- Atores responsáveis por incentivar, fomentar e coordenar atividades científicas e tecnológicas, em consonância com políticas de desenvolvimento

regional, bem como estimular a interação e a

- Implementar e coordenar a política regional de ciência, tecnologia e inovação, coerente com a política de desenvolvimento regional;

- Investir e incentivar atividades inovativas; - Promover e apoiar empreendimentos de

caráter inovador;

- Incentivar e estimular um ambiente interativo e cooperativo entre os agentes

Desenvolvimento Regional;

- etc.

cooperação entre o setor produtivo e as instituições de ensino e pesquisa.

econômicos, mediante mecanismos de governança sistêmica; -Entre outras. Instituições de Ensino e Pesquisa - Universidades; - Instituições de Pesquisa; - Centros de Educação Tecnológica; - Fundações de Apoio a Pesquisa; - Incubadoras Tecnológicas - etc. - Atores responsáveis pelo apoio, geração e difusão de novos conhecimentos e novas tecnologias para o SRI, bem como pela formação de capital social necessário aos processos inovativos;

- Estimular e produzir conhecimento científico e tecnológico necessário às inovações;

- Interagir e cooperar com empresas, governo e sociedade na busca por novos conhecimentos e aprendizados;

- Compartilhar infra-estrutura institucional científica e tecnológica, tendo em vista a realização de atividades inovativas;

- Estimular e realizar atividades de P&D em parceria com o setor produtivo e com outros agentes;

- Entre outras. Fonte: CRUZ; AMORIM; SANTOS, 2006.

Se for possível compreender um SRI por essa ótica, então pode-se inferir que uma investigação que determine as características e o comportamento dos principais elementos desse sistema poderia contribuir não só para o seu fortalecimento, enquanto instrumento de desenvolvimento, como também para melhorar a articulação da política de C&T com a política de desenvolvimento regional, em favor de um crescimento econômico mais qualificado e equânime.

4. O PROCESSO DE GERAÇÃO E DIFUSÃO DE INOVAÇÃO NA ECONOMIA

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