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Conceito Residual

No documento SETOR INFORMAL: UMA CATEGORIA IMPRECISA (páginas 53-56)

3 CONCEITOS E CONSEQÜÊNCIAS DA INFORMALIDADE

3.1 Conceitos da Informalidade

3.1.1 Conceito Residual

Segundo pesquisa realizada pelo IPEA, em 2004 51,2% da População Ativa do Brasil estavam na informalidade, indicando, assim, uma significativa mudança na concepção da relação empregado e empregador na qual a lógica do emprego estava, até então, baseada na formalidade. Pode-se notar através da tabela 20 que a informalidade já era significativa em 1992.

Tabela 20 – Grau de informalidade (em %)

1992 1999 2001 2004 Brasil 51,9 53,5 52,5 51,2 Setor Indústria 33 36,5 35,3 33,9 Serviços 53,5 51,2 52,7 52,4 Comércio 57,7 57,6 55,5 53,5 Agricultura 81,6 80,6 80,2 78,5 Fonte: IPEA (p. 340) – 2006.

Esse considerável percentual gera instigantes debates políticos, econômicos e sociais com propósitos de entender essa nova realidade no mercado de trabalho acerca de sua origem, formação e função na sociedade, embora Hirata (2008, p.125) afirme que o debate em torno da definição e compreensão deste setor no Brasil, está associado não propriamente à sua origem, mas à sua expansão.

A primeira vez em que uma atividade foi considerada informal ocorreu no Kenya, decorrente de um relatório desenvolvido pela Organização Internacional do Trabalho - OIT sobre “Emprego e Renda no Kenya”. A finalidade da conceituação apresentada neste relatório, na visão de Cacciamali (1983, p.17-18), era de criar uma terminologia que descrevesse algumas atividades desenvolvidas naquele que pais, que por sua vez, possuíam uma forma de produção diferente do sistema capitalista.

Setor Informal: termo aplicado ao mercado de trabalho urbano e que em sua origem, significa a maneira de produzir caracterizada por: facilidade

de entrada; dependência a recursos nativos; propriedade familiar do empreendimento; pequena escala de operações; intensidade de trabalho e tecnologia adaptada; qualificações (no trabalho) adquiridas fora do sistema escolar formal e mercados não regulados e concorrenciais. Sendo que a maior parte das atividades do Setor Informal são economicamente eficientes e lucrativas, apesar de pequenas na escala e limitadas por tecnologias simples, pouco capital e falta de vinculo com o Setor Formal. Além disso, esse Setor compreende uma variedade de carpinteiros, pedreiros, alfaiates, negociantes, varejistas e artesãos, vem como cozinheiros e motoristas de táxi. (OIT apud CACCIAMALI: 11)

A vocação da expressão “economia informal” formulada pela OIT, não teve maiores ambições conceituais a não ser englobar uma série de formas de organização da produção e de possibilidade de inserção no mercado de trabalho que não correspondiam à estrutura das firmas e relações trabalhistas predominantes nas economias centrais. (RAMOS 2007, p.116).

Ainda para Ramos, o conceito de informalidade estava pautado em observações empíricas do conjunto de atividades que tinham a forma diferenciada de produzir, não se assemelhando a um depósito do excedente de mão-de-obra que o setor moderno da economia seria capaz de absorver.

De acordo com a observação de Ramos, o motivo da existência do setor informal é um fator importante a ser considerado quando busca-se fazer uma correlação com o mercado formal, pois a intenção e o motivo de desenvolver e estar na economia informal não necessariamente é o inverso do motivo de estar no setor formal.

De acordo com Cartaya (1987, p.80) a OIT buscou focar fundamentalmente as técnicas das unidades produtivas, além do caráter de “autogestão”, buscando

dar “um nome” àquela forma de produção que em nada se parecia com a produção capitalista.

Quando alguns autores descrevem a economia informal como subordinado às necessidades do capital - preenchendo as lacunas deixadas pelas empresas formais - não estavam levando em consideração a qual sociedade estavam se referindo, pois sabe-se que mesmo com a globalização ainda há povos com culturas diferentes do sistema capitalista, o que pode resultar em diversas interpretações sobre a informalidade, afirma Noronha

O significado de “informalidade” depende, sobretudo, do de “formalidade” em cada país e período, e, embora isso seja evidente, as análises sobre o tema tendem a ignorar a noção contraposta da qual ela deriva. Assim, a compreensão da “informalidade” ou dos contratos atípicos depende antes de tudo da compreensão do contrato formal predominante em cada país, região, setor ou categoria profissional. (NORONHA 2003, p.112)

Alguns autores, como Bruno Lautier, afirmam que as particularidades da noção de setor informal começam na própria forma como se deu sua concepção, pois se trata de um caso único: um conceito inventado no interior de uma instituição executiva e que a seguir invade os meios acadêmicos (Lautier apud Theodoro 2000, p. 8-9).

Theodoro (2000, p.8-9) afirma que a fragilidade teórica de ideologia forte da informalidade possibilitou uma avalanche de recurso e mesmo de montagem de uma rede de pesquisadores porque esse setor econômico assim exigia dada a sua existência cada vez maior na economia mundial.

A informalidade passou a ser objeto de estudo de pesquisadores em diversos centros de pesquisas motivando diferentes conceituações por perspectivas diversas, crenças ideológicas e correntes de pensamentos chegando, até, a confundir o próprio termo em questão.

Após quinze anos do surgimento da conceituação dada pela OIT (escreve Cartaya em 1987), o setor informal não é mais somente patrimônio dos

especialistas de mercado, pois se encontra presente em comentários diários dos empresários, sindicalistas e do governo. Por isso Cartaya (1987, p.78) chama atenção para a necessidade de uma mesma noção para descrever este fenômeno que é dissimilar entre alguns países.

Em busca de conceitos mais próximos da realidade do mercado informal, diversos autores têm se dedicado a trabalhos acadêmicos e científicos para entender de forma consistente este conceito residual que ainda persiste na sociedade atual.

Desta forma, o conceito dado a uma forma residual e ínfima de trabalho que em nada se identificava com o trabalho capitalista tomou forma e cresceu significamente, não mais comportando o conceito residual, pois este não pode ser aplicado a “um resto” que se tornou maior que a parte.

3.1.2 – Ótica da Industrialização – Produção (Setor Moderno Versus

No documento SETOR INFORMAL: UMA CATEGORIA IMPRECISA (páginas 53-56)

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