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A Síndrome de Asperger tem o seu nome associado a um médico vienense, Hans Asperger (1944) que realizou um estudo a um conjunto de doentes que apesar de apresentarem um nível de desenvolvimento da linguagem considerado normal, ao nível dos comportamentos, revelavam défices de competências sociais e comunicativas.

O trabalho pioneiro de Asperger, em 1944, não obteve ressonância na comunidade científica da época, por ter sido escrito numa altura muito difícil e conturbada, a Segunda Guerra Mundial, e por apenas estar acessível aos leitores da língua alemã. Assim, esta Síndrome começa a suscitar maior interesse quando o seu trabalho Psicopatias Autistas na Infância foi traduzido para inglês por Van Kreevelan, em 1971. Todavia, foi Lorna Wing que introduziu em 1981 o termo Síndrome de Asperger no seu trabalho de investigação sobre o autismo.

Asperger, no seu trabalho, destacou o uso de um vocabulário peculiar, sofisticado, mas com dificuldades em compreender metáforas. A entoação era monocórdica e observou dificuldades na compreensão de que, numa determinada situação, “não dizemos o que pensamos, e pensamos o que não dizemos.” (Asperger, 1944).

Wing, em 1981, baseado na análise da comunicação original de Asperger, enumerou os seguintes critérios para a Síndrome de Asperger: limitação da interação social, linguagem peculiar e pedante, capacidades limitadas de comunicação não verbal, resistência à mudança e gosto por atividades repetitivas, interesses especiais circunscritos e boa capacidade de memorização, fraca coordenação motora, com aspeto e porte peculiares, e alguns movimentos estereotipados (Cumine et al, 1998).

Caracteriza-se a Síndrome de Asperger por ténues limitações em três áreas de desenvolvimento: interação social, comunicação em contextos sociais e imaginação social.

Os portadores de Síndrome de Asperger apresentam uma perturbação que afeta a sua competência social e comunicacional, apesar de não afetar a sua competência linguística, demonstram uma incapacidade no uso dessa competência. Os indivíduos podem expressar-se, mas podem não captar a atenção de quem os ouve. Um grupo de psicólogos de investigação, Cohen, Leslie e Frith, em 1985,

concluiu que as crianças com autismo sofriam de ausência de teoria da mente. Este termo, inicialmente proposto por Premack e Wooddruff, em 1978, designava o facto de os chimpanzés terem a capacidade de interferir nos estados mentais dos seus semelhantes.

Em psicologia, a teoria da mente é definida como a capacidade para imputar estados mentais aos outros e a si próprio de maneira a explicar e a predizer os seus comportamentos (Pereira, 1999). Esta capacidade é fundamental para a autorefexão e para a coordenação da ação social. Nas crianças com Síndrome de Asperger esta teoria constitui uma área de dificuldade que resulta da ausência de capacidade de leitura, deteção inata para a perceção espontânea das emoções e atitudes dos outros e de si mesmo, o que, justifica as limitações identificadas na tríade de Wing.

Para Jordan e Powell (1985), citados por Cumine et al (1998), nesta área as crianças com Síndrome de Asperger revelam dificuldades em prever o comportamento dos outros e em compreender os motivos que justificam o seu comportamento; dificuldade em explicar o próprio comportamento, em compreender as emoções, as suas e as de terceiros, o que provoca uma falta de empatia; revelam uma dificuldade em entender que o comportamento afeta o que os outros sentem ou pensam; incapacidade para compreender e reagir ao nível do interesse do interlocutor relativamente ao que se está a dizer; falta de compreensão da interação social, o que origina dificuldades em ceder a vez, fraca manutenção de assuntos na conversa e utilização indevida do contacto ocular.

Todas estas características e dificuldades afetam o relacionamento da criança com Síndrome de Asperger com todos aqueles que a rodeiam. Apesar de terem capacidade e habilidade verbal têm muita dificuldade em se relacionar e comunicar. Metáforas e expressões usadas no quotidiano podem ser compreendidas literalmente (ex.º “aqui há gato”) causando-lhes muita confusão. Geralmente não entendem piadas pois habitualmente estas são ditas com recurso a uma linguagem simbólica, exagerada ou com metáforas. Os indivíduos com Síndrome de Asperger apresentam frequentemente uma voz monocórdica, sem entoação e expressão, sendo-lhes muito difícil interpretar as entoações utilizadas pelos outros. Apresentam também dificuldade em utilizar e interpretar a comunicação não-verbal (gestos, linguagem corporal e expressões faciais).

O conceito de coerência central apresentado por Uta Frith (1989) é compreendido como a capacidade de reunir informações dispersas de maneira a construir um significado de nível superior no contexto, não acontece em crianças co

Síndrome de Asperger. Isto traduz-se na dificuldade que elas apresentam em estabelecer associações, em generalizar capacidades e conhecimentos e em dificuldades de organização pessoal, de materiais e experiências (Cunine et al., 1998). A permanente dificuldade nas relações sociais e comunicativas, transformando rotinas e comportamentos comuns em aventuras de uma dificuldade extrema para todos os que apresentam esta Síndrome, é originada pela incapacidade em interpretar e aprender as capacidades da interação social e emocional com terceiros.

As crianças com Síndrome de Asperger demonstram um défice na função executiva. Luria (1966) citado por Cumine et al. (1998) descreve esta função como a “capacidade para manter um determinado conjunto de comportamentos organizados em cadeia, dirigidos à solução de problemas e, por isso, apropriados para atingir um objetivo consequente”.

As crianças com esta Síndrome têm não só dificuldade em planear tarefas como também em iniciá-las e concluí-las. Demostram interesses absorventes e considerados estranhos pelos outros, insistindo também no seguimento e cumprimento de uma rotina. Também apresentam uma capacidade limitada para brincar, pensar e pouca criatividade. Têm um comportamento rígido, inflexível e persistente. Estão frequentemente concentrados nos detalhes.

A compreensão e o conhecimento destas teorias são fundamentais para entender a criança com Síndrome de Asperge, ao conhecer as suas limitações e as implicações das mesmas nas suas vidas é mais fácil planear qualquer intervenção pedagógica que promovam o sucesso e a auto estima da criança

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