• Nenhum resultado encontrado

Parece que há ganho em, quando se toma uma teoria ou um ponto de vista para o exame de um tema, não se deixar completamente de fora o que outros tipos de estudo oferecem a respeito. Por isso estão aqui menções a ensinamentos linguísticos e a gramáticos tradicionais, dos clássicos aos associados ao atual ensino tradicional brasileiro.

As noções de sintagma não são comumente abordadas no ensino tradicional brasileiro. A palavra pode ser utilizada para designar, por exemplo, objetos não linguísticos, como o que compõe uma mesa disposta para o jantar, as roupas que se combinam para cobrir alguém ou itens linguísticos como os que se combinam numa sílaba (como ‘l + a’, por exemplo), e é comum no estudo da língua para itens maiores que palavra e menores que frase, que se combinam e entram em unidade maior, como ‘a + virtude’ ou ‘em + o meio’ em ‘A virtude está no meio’44.

O sintagma é o resultado de operação da sintaxe. Os formantes de ‘sintaxe’ do grego ‘sýntaxis’ (σύνταξις), são perfeitos para designar o que o vocábulo designa: o prefixo ‘syn-’, ‘junto’, o radical ‘tak’ de ‘tassein’, verbo que significa fazer arranjo, pondo algo em seu devido lugar, e o sufixo ‘-sis’, formador de substantivo, que indica ação ou processo, sendo o grego sýntaxis paralelo ao latim constructio, ‘construção’. Em ‘sintaxe’ e ‘sintagma’, há prefixo e radical iguais (-tag- com /g/ em vez de /k/, porque agora /m/, que se segue, é vozeado), e o sufixo é mudado em ‘-ma’, indicador do resultado de um processo ou ação, como em ‘poema’ (de ‘poein’, criar) e ‘thema’ (de pôr, apresentar, comparável a ‘thesis’).

Um sintagma nominal preenche casa típica com função de argumento do verbo, como sujeito e objeto direto, podendo ser constituído por expressão substantivada (‘o falar calmamente’, ‘teu se me alegra’), oração (dita substantiva) ou, prototipicamente, substantivo, inclusive, por pronome substantivo. O substantivo é ensinado, como dizem que o foi na gramática greco-latina clássica, como mera questão morfológica, quase morfossintática ou superficialmente semântica (para usar certo jargão estruturalístico quase sempre

44

“Virtus in medio (est)”, é expressão conhecida em latim. De fato diz Aristóteles que a virtude é “um estado mediano entre dois vícios”, “μεσότης δὲ δύο κακιῶν” (mesótēs dè dúo kakiōn) sendo considerados os dois vícios o excesso e a deficiência. (“A mean state between two vices”, Aristotle, Nicomachean Ethics, 1106b-1107a, Loeb Classical Library, https://www.loebclassics.com/view/aristotle-nicomachean_ethics/1926/pb_LCL073.95.xml)

desvalorizante, “nocional”).

Com Platão, veio a noção de ‘partes do discurso’45, importante para as discussões filosóficas, porque via assim o que chamou ónoma, para a parte da frase correspondente a sujeito, “aquilo de que se fala”, e rhêma, para a parte da frase correspondente ao que flui na predicação, ao predicado (no sentido de nossas gramáticas) o que se diz sobre o sujeito, que podia ser representada por um verbo ou um núcleo adjetivo, predicativo. Essas duas classes “não são coextensivas com as classes às quais esses rótulos foram aplicados em sistemas posteriores de análise, nos quais nossas gramáticas escolares são baseadas” (LYONS, 1968, p. 19), antes mostram o interesse em unidades maiores, mais próximas das que vieram a ser chamadas, no gerativismo das primeiras versões, de sintagma nominal e sintagma verbal, designadoras, respectivamente, da parte estática e da parte dinâmica da frase. Como está em Bagno (2012, p. 415), Platão descobriu a predicação quando distinguiu no lógos (para o que o autor sugere a tradução sentença) duas partes, ónoma (sujeito / nome) e rhêma, (predicado / verbo). O adjetivo, que com Platão era uma das possibilidades de realização do rhêma, sob os alexandrinos (e na gramática romana de Varrão) ficou como subtipo do nome (que se dividia em nome substantivo e nome adjetivo).

A classificação das palavras da gramática de Dionísio da Trácia, a Techné Grammatiké, foi inspirada em Aristarco46, devendo-se notar que, nessa classificação,47 os particípios (assim chamados por terem a ver com verbos e adjetivos) são uma classe à parte, enquanto os adjetivos são uma subclasse de Ónoma / nomes, tanto na obra de Dionísio, quanto na de Varrão (Marcus Terencius Varro), sobre o grego e o latim clássicos, respectivamente. Dionísio e Varrão tratam das classes de palavras, de classes gramaticais, de flexão, embora as denominações dadas às classes de palavras deixem implícitos critérios discursivos, semânticos e sintáticos. É assim, por exemplo, com a classe do “nome” (que nomeia, estática e referencialmente), dividido em “substantivo”, com a parte substanciosa a ser especificada, determinada, modificada; e “adjetivo”, lançado junto da parte nuclear, que pode ser substituído por um “pronome” e antecedido por uma “preposição”.48

O que pensaram Platão, Aristóteles, os filósofos estóicos e os estudiosos de

45 Em grego, mérê lógou, em latim, pars orationis, por isso é em inglês parsing ‘análise (sintática)’. 46 Ibid., p 421.

47

Com as classes nome, verbo, particípio, pronome, artigo, advérbio, preposição e cojunção, termos que são atualização da gramática de Varrão (De língua latina), que copiou e adaptou ao latim a de Dionísio (sem a de artigo, que não existe em latim).

Alexandria, Dionísio, por exemplo, e Varrão, em Roma, gramáticos dos séculos seguintes (ver Lyons, 1968 p. 4-20), teve motivações diferentes, como não podia deixar de ser.

Como no estudo de outros itens da língua, no estudo do ‘nome’ e do ‘Sintagma Nominal’ (termos não comuns no ensino tradicional), tanto a nomenclatura gramatical brasileira quanto a portuguesa mostram o interesse de reduzir termos. Assim, o sintagma nominal ou o nome com função de sujeito é classificado quanto a ser simples ou composto, se é indeterminado (ou determinado, claro), o que pode ser devido ao interesse em corrigir falhas na chamada concordância verbal, quando deixa de haver na forma verbal repetição da categoria de número do núcleo ou dos núcleos do sujeito.