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1.2. Depressão no idoso

1.3.1 Conceito de Solidão

Acredita-se que a solidão é universal e inevitável nos idosos, devido à significativa relação com a depressão e constitui um grande problema de saúde mental (de Jong Gierveld & Havens referido por Steed, Grenade & Iredell 2007; Steed et al., 2007; Adams, Sanders & Auth, 2004). As suas implicações são sentidas independentemente da cultura em que os indivíduos estão inseridos, trata-se de um fenómeno dinâmico, que varia em termos de causas e contextos (Rokach, Orzeck & Neto, 2004; Peerenboom, Collard, Naarding & Comijs, 2015).

Os idosos apresentam muitas das vezes risco de solidão, devido à interrupção nas suas redes sociais ao longo do tempo, pois os filhos já não estão tão próximos como os idosos desejam, a reforma reduz as suas relações sociais relacionadas com o trabalho, as doenças ou incapacidades podem impedi-los de participar nas atividades habituais com os outros indivíduos, podendo também significar a perda da independência. Pode ainda salientar-se o facto de o conjugue ou os amigos poderem adoecer ou morrer (Alpass & Neville, 2003; Pedroso & Portella, 2003; Pinquart & Sörensen, 2001).

A literatura revela ser impossível encontrar uma definição universal para o conceito de solidão e varia consoante a cultura de cada individuo e apesar de estar ligado ao conceito de isolamento social são distintos (Perlman, 2004; Grenade & Boldy, 2008; Savikko, Routasalo, Tilvis, Strandberg & Pitkälä, 2005; Paul, Ayis & Ebrahim, 2006). De acordo com Cattan & White, o isolamento social refere-se à serie de contactos e integração de um individuo no ambiente social envolvente (referido por Savikko et al. 2005). Por outro a solidão segundo Neto (2000, p.322) trata-se de “uma experiência comum e é um sentimento penoso que se tem quando há discrepância entre o tipo de relações sociais que desejamos e o tipo de relações sociais que temos”. Pedroso & Portela (2003) revelam que para que a se possa afirmar que uma pessoa sofre de solidão não é suficiente que esta tenha consciência da disparidade entre as relações que tem e aquelas que gostaria de ter. Ainda nesta linha de pensamento é possível salientar que a solidão é encarada como um sentimento negativo causador de sofrimento, contudo por vezes estar sozinho pode ser experienciado como um estado de solidão positiva e criativa (Savikko et. al, 2005; Anderson). A solidão pode ocorrer independentemente da existência ou ausência de contacto social e o facto de um indivíduo ser socialmente ativo não implica que este não se sinta solitário (McWhirter, referido por Alpass & Neville, 2003; Luanaigh & Lawlor, 2008; Taube, Jakobsson & Kristensson, 2015; Niedzwiedz et al., 2016).

A teoria evolucionista proposta por Caciopo, Hughes, Waite, Hawkley & Thisted (2006), sobre a solidão revela que a solidão se trata de uma característica humana que evolui e é hereditária, sugerindo deste modo que alguns indivíduos apresentam uma maior vulnerabilidade a desenvolver sentimentos de solidão, que outros sujeitos, como resposta a

acontecimentos ambientais. Os mesmos autores postulam que os nossos primeiros antepassados que tinham tendência a formar conexões sociais, comunicar, trabalhar em conjunto e compartilhar comida possuíam uma vantagem seletiva para sobreviver.

Segundo Luanaigh & Lawlor (2008), referem que talvez a forma mais abrangente para ver a solidão seria como uma construção heterogénea que pode ser definida em termos do modelo “bio-psico-social”, em que um indivíduo pode ter uma predisposição biológica para experienciar a solidão relacionando-a possivelmente com traços de personalidade herdados, enquanto que outros podem experienciar a solidão e relaciona-la com precipitantes psicológicos, como a tristeza ou a depressão. Por outro lado, e consoante a perspetiva social pode-se experimentar a solidão devido ao isolamento social. Estes revelam ainda que explicar a solidão de tal modo pode ser vantajoso na medida que são destacados os fatores subjacentes causadores de solidão no indivíduo e assim há uma ajuda na identificação da terapêutica mais adequada.

Weiss (1973), defendeu uma separação entre as dimensões mais sociais e pessoais da solidão, distinguindo os conceitos de solidão emocional e a solidão social. O mesmo revela que a solidão emocional está relacionada com a inexistência de uma figura íntima ou de um vínculo emocional próximo do indivíduo, podendo este ser um companheiro, melhor amigo ou confidente. Por outro lado a solidão social vai de encontro à ausência de um grupo mais amplo de contactos sociais, assim como também falta de participação numa rede social de amigos, colegas ou vizinhos (referido por Dykstra & Fokkema, 2007). A distinção entre solidão emocional e social é particularmente importante em estudos com idosos porque, devido à morte de familiares e amigos que vão envelhecendo, vai sendo difícil encontrar ou ter figuras de relacionamento íntimo e, por isso, a incidência e prevalência da solidão emocional em particular por ser (Luanaigh & Lawlo, 2008).

Através de um estudo realizado por Portela e Pedroso (2003) com o intuito de conhecer o significado da solidão para os idosos, estes autores reterão cinco categorias como significado de solidão, sendo estas: aflição emocional, momentos de solidão são momentos de revisão de vida, solidão é um vazio deixado pelas perdas, é esquecer de viver, sentir-se só mesmo acompanhado, é não ter sonhos e por fim não ter propósitos. Estes constataram ainda que para alguns idosos a solidão é necessária e não é encarada como algo negativo, permitindo reformular pensamentos e ideias.

Verifica-se através da literatura que as estimativas da prevalência da solidão em pessoas idosas na comunidade é variável. Num estudo realizado por Savikko et al. (2005), na população Finlandesa, em 2002, constatou-se que 5% dos inquiridos sentiam frequentemente ou sempre solidão e 39% sofriam de solidão pelo menos às vezes. Por outro lado Forbes (1996), revela que a prevalência de solidão em pessoas idosas pode atingir os 50% (referido por Tiikkainen & Heikkien, 2005). É de salientar ainda que são diversos os estudos baseados na comunidade que revelam que uma minoria das pessoas idosas apresenta solidão “grave”, ou seja indicam que se sentem sozinhos “sempre” ou “numa grande parte do tempo” ou a

partir da avaliação através de sistemas específicos de classificação em escalas de solidão (Grenade & Duncan, 2008).

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