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2. APROVEITAMENTO DA ÁGUA DA CHUVA

2.4. CONCEITOS E APLICAÇÕES DA ÁGUA DA CHUVA

O uso da água da chuva implica, em geral, um nível de investimento moderado, mas é uma boa alternativa pois possui uma qualidade satisfatória, permitindo uma maior longevidade dos componentes do sistema por ser uma água menos dura que a utilizada para consumo humano. Contudo, deve ser evitada a sua ingestão directa, com vista a minorar os riscos para a saúde humana (Silva-Afonso, 2008). Esta alternativa permite reduzir o consumo numa habitação doméstica quase na sua totalidade, dependendo da disponibilidade e volume de armazenamento, mas não permite reduzir as descargas de poluentes (Sousa & Silva, 2006).

Segundo May (2004, citado por Bertolo & Simões 2008), a utilização de água de chuva torna-se atraente nos seguintes casos:

a) Áreas de precipitação elevada;

b) Áreas com escassez de abastecimento;

c) Áreas com alto custo de extracção de água subterrânea;

d) Áreas com distribuição muito irregular das chuvas, com grandes períodos de estiagem.

Os principais benefícios da recolha e aproveitamento de água de chuva são (Bertolo & Simões, 2008):

a) Economia de água proveniente dos sistemas de tratamento e distribuição destinada a usos não potáveis ou menos exigentes;

b) Controle do escoamento superficial;

c) Prevenção de enchentes;

d) Conservação da água;

e) Disponibilização da água para usos diversos em regiões com escassez de água;

f) Conservação da água;

g) Disponibilização da água para usos diversos em regiões com escassez de água.

A água da chuva pode ter, entre outros, os seguintes usos: - Descarga de bacias de retrete;

- Lavagem de roupas;

- Lavagem de pavimentos, automóveis, entre outros; - Rega de zonas verdes;

- Usos industriais (torres de arrefecimento, redes de incêndio armadas, AVAC, entre outros).

No entanto, estes ainda suscitam muitas dúvidas, no meio técnico e científico, relativamente a algumas soluções teóricas, tornando-se por isso necessário (e prioritário) desenvolver investigação no âmbito das relações com a saúde pública e nos domínios técnicos da captação, do tratamento, da armazenagem, e da condução em sistemas prediais de algumas águas não potáveis ou de efluentes específicos. Para além de que a utilização da água da chuva, suscita discórdia em relação a algumas utilizações.

Nos SAAP realizados de acordo com Especificação Técnica ANQIP 0701, são salvaguardados os tratamentos básicos de filtragem (no filtro de montante) e de sedimentação (na cisterna). Poderão ainda ocorrer na cisterna processos de precipitação e processos de decomposição biológica, com efeito geralmente favorável na qualidade da água (ANQIP, 2009). No caso da rega de zonas verdes e da lavagem de pavimentos, a utilização de água da chuva, observadas as presentes prescrições técnicas de instalação, pode não carecer de qualquer tratamento complementar físico-químico ou bacteriológico (ANQIP, 2009).

A utilização de água da chuva sem tratamento em descargas de autoclismo, apenas deve ser admitida quando a água respeite, no mínimo, as normas de qualidade de águas balneares, nos termos da legislação nacional e das Directivas europeias aplicáveis (Decreto-Lei n.º 236/98, de 1/8, que transpõe a Directiva n.º 76/160/CEE, do Conselho, de 8/12). No entanto, não sendo cumpridos os valores máximos admissíveis estabelecidos para os parâmetros microbiológicos, deve prever-se uma desinfecção da água por ultravioletas, cloro ou outro processo adequado. No caso de serem utilizados compostos de cloro para desinfecção, recomenda-se que o cloro residual livre se situe entre 0,2 e 0,6 mg/l (ANQIP, 2009).

A lavagem de roupas com água da chuva sem tratamento específico apenas deve ser considerada quando a temperatura da água de lavagem atingir, no mínimo, 55ºC. Para esta utilização, deve ser prevista a aplicação de um microfiltro com malha mínima de 100 μm. Estes filtros devem ter manutenção adequada. Nos usos industriais, os tratamentos eventualmente necessários deverão ser analisados caso a caso (ANQIP, 2009).

Segundo Sousa & Silva (2006), a utilização da água da chuva para a descarga do autoclismo, máquina de lavar roupa e para lavar louça, não aumenta a exposição dos utilizadores a substâncias perigosas desde que seja desinfectada (Tabela 11).

Tabela 11 - Risco de exposição a microrganismos durante a utilização da chuva.

Utilização Risco Associado

Autoclismo

Probabilidade baixa de os microrganismos escaparem em aerossóis

Enteropatogénicos provenientes da fezes são mais significativos que os da água usada na descarga

Máquina de Lavar-roupa Roupas não apresentam maior carga microbiológica do que se fossem lavadas com água da rede de abastecimento

Irrigação do jardim Possível se houver formação de aerossóis (no caso da utilização de um sistema de rega de sprinkler’s)

Fonte: Sousa & Silva, 2006.

A água da chuva é pouco mineralizada e por isso tem vantagens na utilização em máquinas de lavar louça, permitindo reduzir a necessidade de sal para regeneração e de silicato para protecção do vidro. O uso da água para consumo humano ou para a higiene pessoal não é o mais aconselhado devido ao risco de contaminação. O risco pode ser controlado com a

utilização de um sistema de recolha e armazenamento adequado e a sua monitorização e manutenção regular.

Actualmente, a maior parte da água que é utilizada em usos domésticos é proveniente da rede pública de abastecimento e apresenta qualidade para consumo humano ao abrigo do Decreto-Lei n.º 306/2007, de 27 de Agosto. No entanto, segundo estudos realizados na Alemanha, cerca de metade do consumo de água de um edifício, dependendo do tipo de utilização, pode ser substituído por água proveniente da chuva, no caso de uma habitação falamos em cerca de 46%. O potencial de utilização desta água é elevado, conforme se mostra na Figura 12 (Bertolo & Simões, 2008).

Figura 12 - Distribuição dos consumos de uma habitação comum. Fonte: Alumasc, 2009, p.6.

A água da chuva pode ser aproveitada por exemplo para a lavagem de sanitários, estima-se em termos médios que este consumo seja da ordem dos 20 l/hab/dia dentro da habitação. Outras utilizações habitualmente consideradas são a lavagem de roupa (12 l/hab/dia), serviços de limpeza (4 l/hab/dia), lavagem de automóveis, entre outras (4 l/hab/dia em conjunto). Adicionando a utilização em sanitas obtém-se um valor médio de 40 l/hab/dia (Bertolo & Simões, 2008)

Desta forma, admitindo apenas a utilização da água da chuva para fins menos nobres descritas anteriormente, atinge-se em termos médios um valor de 45 l/hab/dia (Bertolo & Simões, 2008).

No entanto, alguns autores defendem a utilização da água das chuvas para produção de água quente (consumo actual de cerca de 40 l/hab/dia), havendo exemplos do seu

aproveitamento em países como a Austrália. Admite-se que o aquecimento da água melhora a sua aptidão para esses usos. Dos 40 l/hab/dia de água quente, admite-se que cerca de 20 l/hab/dia se possam utilizar em banhos. Assim, admitindo a utilização da água da chuva para fins menos nobres e para banhos, atinge-se em termos médios um valor de 65 l/hab/dia (Bertolo & Simões, 2008). É importante ter presente que com equipamentos tradicionais os valores dos consumos médios admitidos seriam substancialmente maiores.

Assim, e corroborando um princípio enunciado no ponto IV da Carta Europeia da Água, proclamada em Estrasburgo a 6 de Maio de 1968, a qualidade da água deve ser mantida a níveis adaptados à utilização a que está prevista, nunca negligenciando as exigências em termos da saúde pública e segurança do utilizador (Soromanho-Marques, 2010).