• Nenhum resultado encontrado

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.2 O Mecanismo de Pagamento por Serviços Ambientais na Gestão de

3.2.2 Conceitos e Definições sobre o Mecanismo de Pagamento pela Prestação de

O mercado de pagamento pela prestação de serviços ambientais apresenta a concepção de que beneficiários de serviços ambientais façam pagamentos diretos, regidos por contratos, condicionados aos serviços entregues, para produtores rurais ou outros detentores dos meios de provisão dos serviços ambientais (comunidades rurais, governos municipais, etc.), com a finalidade de que os mesmos adotem práticas que garantam a conservação e/ou restauração dos ecossistemas em análise. Diferente dos outros métodos que buscavam soluções que conciliassem a conservação ao desenvolvimento rural através de projetos integrados, esta abordagem assume que existe um relação entre os diferentes usos de solo e busca equilibrar os interesses conflitantes através de esquemas de compensação (WUNDER, 2006).

Para a definição de sistemas de pagamentos por serviços ambientais “puros”, devem ser utilizados cinco critérios, conforme Wunder (2006): i) ser uma transação voluntária; ii) ter um serviço ambiental bem definido ou um uso da terra que possa assegurar o fornecimento de um serviço ambiental; iii) existir pelo menos um comprador, ou usuário, de serviço ambiental; iv) existir pelo menos um vendedor, ou fornecedor, de serviço ambiental; v) haver condicionalidade, isto é, o fornecedor do serviço ambiental deve assegurar o seu fornecimento.

Dos itens acima, se depreende alguns pontos importantes, segundo Veiga Neto (2008). O primeiro diz respeito ao caráter voluntário da participação, característica do instrumento econômico, em oposição às medidas de comando e controle. E pressupõe que o potencial provedor dos serviços tem outras opções do uso da terra. O segundo ponto crucial é a necessidade da clara definição do serviço em pauta. Neste caso, quanto menor a certeza em relação ao serviço entregue, maior a possibilidade de questionamento em relação às vantagens de pagar por elas. Também fica claro que se está falando de uma transferência de recursos daquele que compra para aquele que vende, recursos estes que somente serão pagos, se os serviços forem entregues, enquanto os pagamentos durarem.

No entanto, as experiências existentes apesar de muitas vezes não contemplarem todos os itens mencionados acima, ainda sim são consideradas aplicações deste mecanismo, uma vez que para grande parte dos autores qualquer pagamento que busque promover o fornecimento

de serviços ambientais pode ser considerado como um pagamento de serviços ambientais. De acordo com Bracer et al.(2007), todos os esquemas de PSA partem do ponto comum de que os serviços ambientais têm valor econômico quantificável que por sua vez, podem gerar investimentos e práticas de restauração e manutenção dos mesmos.

Os mecanismos de pagamento por serviços ambientais podem ser classificados em três categorias, de acordo com o nível de intervenção governamental, segundo Veiga Neto (2008): a primeira delas, onde o grau de intervenção governamental é menor, diz respeito aquelas em que predominam os acordos privados entre produtores de serviços e os beneficiários; a segunda categoria seria aquela onde predominam os mecanismos de troca entre os agentes, normalmente utilizados a partir da fixação pela autoridade reguladora de um determinado padrão a ser alcançado via negociação entre os atores; a terceira é aquela onde estão situados os pagamentos realizados pelo setor público, assim considerado quando algum nível de governo ou uma instituição pública paga pelo serviço ambiental.

Outra classificação realizada para os pagamentos pela prestação de serviços ambientais está relacionada às formas de pagamento, se diretamente em dinheiro, ou se de forma indireta, através de créditos subsidiados, de assistência técnica em projetos de agricultura, ou outras formas de compensação. A periodicidade dos mesmos, os agentes de repasse, a relação contratual e diversos outros itens relacionados passam ainda por debates em cada processo de estabelecimento dos mercados em pauta e certamente tem seus reflexos nos resultados finais para a conservação e para a geração de renda dos produtores rurais envolvidos.

Bracer et al. (2007) lista os principais tipos de pagamentos, da seguinte forma:

 Pagamentos diretos em dinheiro: normalmente utilizados como compensação aos custos de oportunidade ou pela perda de receita derivada da mudança de uso de solo preconizada para geração do serviço ambiental, como por exemplo quando da passagem de um uso de solo produtivo, para um uso do solo estritamente conservacionista;

 Cobertura dos custos de transação e de gerenciamento do projeto: neste modelo, o comprador paga ao provedor do serviço pelos custos decorrentes da montagem do projeto e da conversão à pratica preconizada, sendo que esta última, geralmente capaz de gerar também alguma receita, como por exemplo, a conversão de áreas degradadas para sistemas agroflorestais;

 Apoio financeiro para objetivos comunitários específicos, tais como a construção de escolas ou hospitais. Muito utilizado em esquemas que envolvem a participação de comunidades rurais como provedoras dos serviços;

 Pagamentos em produtos, tais como caixas de abelhas, tanques-rede e outros equipamentos, que possam agregar outras formas de renda à comunidade. Também muito utilizados em esquemas que envolvam comunidades de produtores rurais e quando se deseja utilizar os esquemas PSA como indutores de novas formas de receitas nas comunidades rurais.

No debate com relação a forma de pagamento, se em dinheiro ou em outros meios, como insumo ou apoio, é interessante perceber que a discussão permeia visões de mundo diferente, e que estão também no centro da discussão sobre serviços ambientais. Segundo Wunder (2006), os economistas geralmente sugerem que os pagamentos em dinheiro, sendo os mais flexíveis, são os preferíveis, particularmente quando os provedores de serviços ambientais deixam de auferir outras rendas por conta dos contratos estabelecidos. Por outro lado, quando o objetivo central é o desenvolvimento rural em geral têm-se dificuldade de apoiar os pagamentos em dinheiro, no caso de comunidades rurais, por conta do receio quanto a habilidade desta comunidade gerar bem estar sustentável a partir destes pagamentos. Sob esta ótica, os pagamentos em dinheiro podem causar estresse social, no entanto, por outro lado, a transferência constante de recursos tem uma efetividade maior na redução da pobreza, do que contribuições em insumos e produtos, ou através de projetos de desenvolvimento.

Um aspecto que pesa favoravelmente em relação ao apoio através de produtos ou serviços, ao invés de dinheiro, diz respeito ao valor envolvido na transação. No caso de valores pequenos, os produtos ou serviços podem ser mais bem recebidos e entendidos como algo maior do que pagamentos em dinheiro. Mas, por outro lado, os pagamentos em dinheiro permitem uma flexibilidade no uso, que os outros tipos de apoio não permitem.

Outras questões relevantes quanto ao modelo de pagamento pela prestação de serviços ambientais referem-se à periodicidade dos pagamentos, se mensais, anuais, ou ainda se pagos adiantadamente ou somente com a entrega do produto. E também, quanto à titularidade do contrato, se o produtor de forma individual, ou se a comunidade, de forma coletiva. Para cada uma destas situações, há vantagens e desvantagens, que devem ser analisadas no processo de construção destes mercados de PSA.

3.2.3. O Mecanismo de Pagamento por Serviços Ambientais e a Promoção De Benefícios