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Embora o termo tenha origem no movimento negro americano, Ações Afirmativas têm, atualmente, um conceito usado para definir ações mais abrangentes, capazes de atingir outros grupos minoritários, como é o caso das minorias étnicas, raciais, mulheres, pobres, entre outros (MOEHLECKE, 2002).

as ações afirmativas podem ser entendidas como um conjunto de políticas, ações e orientações públicas ou privadas, de

caráter compulsório, facultativo ou

voluntário que têm como objetivo corrigir

as desigualdades historicamente

impostas a determinados grupos sociais e/ou étnico/raciais com um histórico comprovado de discriminação e exclusão. Elas possuem um caráter emergencial e transitório. Sua continuidade dependerá sempre de avaliação constante e da comprovada mudança do quadro de discriminação que as originou [Grifo nosso] (GOMES, 2003).

Para Silva (2006, p. 134), elas “são definidas de modo geral como políticas que beneficiam grupos desfavorecidos na alocação de recursos escassos, como empregos, vagas na universidade e contratos públicos”. Tais benefícios ocorreriam por conta da garantia de disputa de vagas por indivíduos que vivem dentro de uma mesma situação social.

Ribeiro (2011, p. 169) diz que as ações afirmativas podem ser entendidas como “normas jurídicas que visam eliminar conjunturas discriminatórias sofridas por determinados grupos sociais, dispensando tratamento desigual em benefício de tais grupos”. Nesta perspectiva, o autor estende a questão para o âmbito da justiça material, pois segundo ele, a justificativa para tais ações passa pela “promoção de uma realidade materialmente igualitária” (2011, p. 169). O autor lembra que as denominações “discriminação positiva” ou “ação positiva” foram adotadas na Europa, enquanto que nos Estados Unidos o nome utilizado para estas políticas foi “ações afirmativas”, sendo o Brasil signatário da nomenclatura norte-americana. Originalmente, a expressão “Ação Afirmativa” vem vinculada à questão racial e, por muito tempo, ficou relacionada ao movimento negro (2011, p. 169).·.

Fundamentalmente, ações afirmativas vinculam-se à noção de igualdade de oportunidades e não necessariamente

igualdade de tratamento para essas oportunidades. Portanto, são consideradas como “um conjunto de políticas que compreendem que, na prática, as pessoas não são tratadas igualmente e, consequentemente, não possuem as mesmas oportunidades, o que impede o acesso destas a locais de produção de conhecimento e de negociação de poder” (MOYA, 2014, p. 01).

Dalfon et al. (2013, p. 306) consideram que sob esta denominação “ações afirmativas” está um conjunto de procedimentos que visam “ mitigar desigualdades”, podendo abranger desde políticas de identidade e medidas protetivas quanto o atendimento de reivindicações coletivas, como distribuição de terras, de moradias ou outros. Os autores fazem ainda uma distinção entre políticas antidiscriminatórias e ação afirmativa. As primeiras seriam de natureza meramente punitiva e destinadas a atuar em favor de grupos ou indivíduos discriminados por alguma razão. Já a ação afirmativa tem caráter preventivo e de reparação dos efeitos da discriminação.

Embora sejam muitos os conceitos encontrados para ação afirmativa, observam-se nestes alguns pontos em comum, como é o caso do caráter compensatório em relação a um passado histórico de segregação. Outro aspecto consensual nas diferentes definições encontradas diz respeito à notória desigualdade de condições com as quais esses grupos sociais disputam as oportunidades que se apresentam no presente.

No que se refere à origem, a expressão “ações afirmativas” tem gênese nos Estados Unidos, em 1960, como resultado da luta de grupos raciais que reivindicavam, junto ao governo, maior espaço social e acesso à Educação. Posteriormente, estendeu-se a vários países da Europa, assim como a Índia, o Canadá, a Argentina, Cuba, entre outros (MOEHLECKE, 2002).

Daflon et al. (2013) lembram que, no Brasil, foi o processo de redemocratização do país, especialmente na década de 1980, que trouxe à pauta essa discussão, quando grupos sociais até então silenciados por conta do governo ditatorial começaram a lutar e reivindicar seus direitos. Posteriormente, já no final da década de 1990, o movimento negro ganhou maior

expressão, com ampla divulgação de dados relativos às desigualdades raciais no país, principalmente a partir de pesquisa apresentada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA. Assim, os governos democráticos que se seguiram ao período ditatorial mostraram-se receptivos às causas destas minorias e fizeram o movimento ganhar força (DALFON et Al., 2013).

Na Educação, foram as universidades estaduais do Rio de Janeiro que primeiro sinalizaram com a possibilidade de ações afirmativas também para o ingresso no Ensino Superior. A Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ e a Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF, no ano de 2000, já apresentavam uma reserva de 50% de suas vagas para alunos egressos de escolas públicas. Em 2001, estas mesmas instituições reservaram 40% de suas vagas para a “população negra e parda”, em cumprimento à Lei Estadual n. 3.708/2001 (RIO DE JANEIRO, 2001), o que culminou com 90% das vagas destas duas Universidades destinadas às Ações Afirmativas. Posteriormente, este percentual de reserva para cotas raciais ficou dentro do percentual destinado à escola pública, fazendo com que os candidatos tenham que atender, além do critério racial, também aquele que o situa entre os candidatos economicamente desfavorecidos. Após este pioneirismo das universidades do Rio de Janeiro, a opinião pública assumiu intenso debate sobre o assunto, com apresentação e defesa de prós e contras, mas também levando a uma posição irreversível de adoção da política de Ações Afirmativas, no âmbito da Educação.

Atualmente, apesar de as Universidades Estaduais terem sido as primeiras, são as Universidades Federais que mais adotam esta política. Assim, de 96 universidades públicas no país, 70 delas possuem ingresso por Ações Afirmativas, das quais mais de 50% são federais (DALFON et Al., 2013).

2.2 AS AÇÕES AFIRMATIVAS NA POLÍTICA DE

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