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Carsharing é uma opção inovadora de mobilidade que permite que indivíduos paguem pelo uso do carro (por tempo ou distância percorrida) em curtos intervalos de tempo, por meio da locação quando necessária e de programas de membresia (MILLARD-BALL et al., 2005). Porém, na literatura o termo podem apresentar diferentes conceitos. Não há um consenso absoluto dentre os autores sobre a que tipo de compartilhamento do carro se referem. O termo é comumente usado como sinônimo de compartilhamento de viagens (ridesharing) ou compartilhamento de pessoa-a-pessoa (peer-to-peer - P2P). Conceitualiza-se:

a) P2P (Peer-to-Peer) é uma espécie de compartilhamento do carro privado. O veículo é de posse de indivíduos que oferecem seus carros para o aluguel durante períodos de não utilização, de modo privado. O operador do sistema de compartilhamento é responsável por conectar os proprietários e usuário dos carros através de uma plataforma de comunicação, website ou aplicativos para smartphones. A empresa, então, lucra com uma porcentagem cobrada sobre as transações realizadas pela plataforma. Exemplos são Relay Rides, Estados Unidos; EasyCar Club, Inglaterra; Fleety, Brasil;

b) Compartilhamento de viagem (Ridesharing) é um termo usado para definir o compartilhamento de viagens específicas, na qual um mesmo indivíduo não ocupa o papel de motorista e usuário simultaneamente, e a operadora do serviço é quem têm o papel de conectar os usuários e proprietários-motoristas dos veículos. O ridesharing pode ser dividido ainda em dois modelos de operação: carona (carpooling) e viagem em tempo real (real-time ridesharing):

− carona (Carpooling) são viagens de carro que são compartilhadas por mais que uma pessoa. São as conhecidas opções de carona. Onde geralmente os lugares vagos de um automóvel são oferecidos a outras

pessoas, que compartilham também os gastos da viagem. Exemplo é a empresa francesa Blablacar, que atualmente tem operações no Brasil. Os trajetos são predefinidos antes da viagem e os usuários têm uma pequena margem de flexibilidade quanto à rota a ser percorrida;

− compartilhamento de viagem em tempo real (Real-time ridesharing) é uma espécie de táxi comercial no qual os veículos são de propriedade individual independente. As operadoras então têm o papel de apenas conectar os usuários e os motoristas-proprietários do veículo através de reservas pela internet e aplicativos de smartphone - e o motorista é quem exerce o serviço. Um exemplo muito comum são as operações do Uber no Brasil. Neste caso, quem define os pontos de partida e chegada são os usuários.

O conceito que daremos ao termo carsharing, nesta pesquisa, não pode ser substituído por ridesharing ou peer-to-peer.

c) Carsharing é uma espécie de locação temporária, mas distingue-se dos tradicionais serviços de aluguel de carros, pois consiste em locações feitas por alguns minutos ou horas de serviço, em que existe o auto acesso a uma frota de veículos e os custos com combustível e seguros são agrupados em taxas pagas pelas viagens. Além disso, o objetivo principal da partilha de carro é muitas vezes para fornecer uma alternativa para a propriedade de veículos. (MILLARD-BALL et al. 2005). É um serviço para todos os motoristas habilitados em uma comunidade, em que se pode alugar um carro por períodos curtos de tempo, geralmente por hora.

Por um esquema compartilhado, é permitido que os indivíduos tenham acesso ao carro sem necessariamente ter um (TUAN SEIK, 2000; SHAHEEN; COHEN, 2013), ou quando se precisa ter acesso a um tipo de veículo diferente do que o usuário usaria normalmente (INSTITUTE FOR TRANSPORTATION AND DEVELOPMENT POLICY, 2015). Assim, é possível obter os benefícios do uso de carro sem os custos e responsabilidades associados à posse de um. (SHAHEEN; COHEN, 2013; AGAPITOU et al., 2014).

O carsharing é tido como auxiliar na melhoria da mobilidade através da redução da utilização de automóveis privados e dos impactos ambientais por eles causados, principalmente emissões de gases do efeito estufa no setor de transportes (PRETTENTHALER; STEININGER, 1999). Shaheen e Cohen

(2013) apresentam uma mensuração de alguns benefícios, na Tabela 1, obtida por meio de uma pesquisa sobre o crescimento carsharing no mundo de 2006 a 2015, que recorreu a surveys aplicados aos usuários em 2006, 2008 e 2010, em operações da Europa, América do Norte e Austrália.

Tabela 1 - Impactos Sociais e Ambientais devido ao carsharing

Impacto Europa América do Norte Austrália

Redução de emissões do dióxido de carbono 39 a 54% 27%(impacto observado) N/A Número de carros privados substituídos por

veículos de carsharing 4 a 10 carros 9 a 13 carros 7 a 10 carros Veículos vendidos devido ao carsharing 15,6 a 34% 25% 21,3% Adiar a compra do veículo devido ao carsharing N/A 25% 28,1%

Fonte: Shaheen e Cohen (2013).

Baseado numa tendência de mudança de comportamento de consumo, em que o anseio por ter a propriedade de algum produto físico é substituída pela necessidade do serviço que ele oferece (PRETTENTHALER; STEININGER, 1999; COHEN; KIETZMANN, 2014), o carsharing oferece às pessoas acesso temporário aos veículos, quando elas precisam. Deste modo, o serviço de carsharing pode ser considerado uma inovação no consumo de tecnologia; são produtos de uma nova forma organizacional que evidenciam a existência de motivadores do consumo já não alinhados à necessidade de ter ativos próprios.

Outras vantagens de um sistema de carsharing, apontadas na literatura, são a transparência de custos e a boa relação custo-benefício do serviço. Inclusive, muitas pessoas se juntam ao carsharing para reduzir custos de transportes (COHEN; KIETZMANN, 2014; MILLARD-BALL et al. 2005), que se refere a despesas como depreciação, seguro, reparos e ao tempo gasto com as responsabilidades relacionadas à posse do carro. (PRETTENTHALER; STEININGER, 1999).

Millard-Ball et al (2005) avaliaram os impactos do carsharing a partir de outras pesquisas feitas e os estruturaram em um esquema disposto na Figura 5. Os benefícios foram organizados por Millard-Ball (2005) em dimensões e usando uma régua para avaliar o quão especulativa é a verificação de cada vantagem. Como mostra a figura, os dados mais sólidos sobre os impactos da partilha de carros existem no nível individual. Embora os ganhos ao nível do

ambiente e da comunidade sejam substancialmente mais variados, eles não são tão bem compreendidos no presente. Millard-Ball et al (2005) também perceberam que existe uma consistência notável entre a maioria de estudos sobre os impactos gerais, principalmente, quanto à redução do número de viagem por carro e da propriedade do veículo. No entanto, a extensão desses benefícios ainda é duvidosa. Isso é provável devido às circunstâncias locais, tanto geográficas quanto relacionadas às próprias características do compartilhamento de carro.

Considerando o contexto brasileiro, a mensuração das vantagens é ainda especulativa e há dúvidas associadas ao seu desempenho e implantação. Por ser um país emergente, onde o serviço é recente, a falta de informação e as incertezas são potencializadas, ainda mais em projetos em que o modelo de operação têm sido desenvolvido a partir de políticas públicas de governos municipais, que protagonizam a implantação.

Figura 5 - Benefícios do carsharing

Fonte: Millard-Ball et al. (2005)

A operação desenvolvida e monitorada pelo setor público é apenas um aspecto das várias configurações em que se pode organizar o sistema. Alguns modelos comumente usados na realidade são explícitos no próximo tópico.

Ambiente Comunidade

Redução nas emissões de GEE Economia pelo desenvolvimento

Menores congestionamentos Melhor design urbano Desenvolvimento urbano mais

compacto

Menos energia/recursos para a fabricação de veículos

Redução da demandas por estacionamentos Maior eficiência energética

Menos viagens/veículo

Mais viagens de modo compartilhado Redução de custos Maior mobilidade Conveniência Sistemas de transporte Usuários