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6. Sobre a utilização do “nós” no texto desta dissertação

2.1 Conceituando Juventude

Muito se fala sobre a juventude e sua capacidade organizativa. O que é a juventude? Será ela revolucionária ou apática e desmobilizada? Serão características inerentes aos jovens, a rebeldia, a contestação, a disposição para mudanças? Será a juventude capaz de resolver seus problemas e transformar o mundo? Ou constitui-se em um problema social a ser enfrentado e domesticado?

Ao longo da história, muito se tentou definir, ou melhor, registrar os sentidos que diferentes sociedades atribuíram à juventude, por parte das ciências sociais, humanas e da saúde, resultando, segundo Mendonça (2008), em uma polissemia de sentidos.

Mas, ao contrário do que se pensava anteriormente, a juventude não é um fenômeno natural (PERALVA, 1997), e sim um conceito construído do ponto de vista histórico e social, e que tem a ver com a construção das idades da vida, durante o processo de constituição da modernidade.

Por outro lado, não é um conceito imutável. Novaes (2003) afirma que as definições sobre o que é ser jovem, quem e até quando uma pessoa é considerada jovem têm sofrido mudanças no tempo e no espaço, sendo resultado de disputas políticas, econômicas e entre as gerações.

Groppo (2000) alerta que essas transformações não se limitaram à juventude, ocorrendo várias alterações, abandonos, retornos, supressões e acréscimos das faixas etárias na sociedade moderna, bem como nas categorias sociais que delas se originaram- infância, adolescência, juventude,

       

adulto-jovem, adulto, maturidade, idoso, velho, Terceira Idade, principalmente no que diz respeito aos

(...) três momentos do curso da vida social- nascimento- ingresso na sociedade, fase de transição e maturidade-, muitas divisões e subdivisões foram criadas, recriadas e suprimidas ao sabor das mudanças sociais, culturais, e de mentalidade, pelo reconhecimento legal e na prática cotidiana (GROPPO, 2000, p.13).

Como se vê, as mudanças no curso da vida social com relação à cronologização da vida, às categorias sociais e à criação de conceitos, sofreram alterações não apenas na mentalidade, na literatura e no cotidiano, mas também do ponto de vista legal17.

Segundo o pensamento sociológico, a juventude nasce na sociedade moderna ocidental, como tempo a mais de preparação para a complexidade das tarefas de produção e a sofisticação das relações sociais que a sociedade industrial trouxe. O que fez com que dois elementos se tornassem centrais no entendimento da juventude: ficar livre das obrigações do trabalho e dedicação exclusiva ao estudo. Tendo seu significado social de moratória18 (ABRAMO, 2005).

No entanto, a autora alerta que essa foi uma experiência restrita aos jovens de classes médias e altas. Apesar da ausência de estudos, neste período, voltados à compreensão da condição juvenil das classes de baixa renda consideramos que, para estes/estas, a experiência não se limitava aos processos formativos.

Neste processo, é corrente a idéia da juventude como uma fase transitória, de passagem da infância para adolescência, da heteronomia da criança para a autonomia do adulto, como diz Spósito (2000).

A autora apresenta duas críticas, das quais compartilhamos, sobre a idéia da juventude como fase de transição: a primeira, diz respeito à

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Um exemplo são as alterações na cronologização da juventude. Se até 2005, os(as) jovens eram considerados os indivíduos que estavam na faixa etária dos 15 aos 24 anos, pelo Governo Federal, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). Em 2006, ocorrem mudanças na definição cronológica da juventude, que passa a ser representada pelas pessoas na faixa etária dos 15 aos 29 anos (CONJUVE. 1ª Conferência Nacional de Juventude: levante sua bandeira- Documento base para discussão. Brasília, 2008).

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A idéia de moratória diz respeito ao adiamento dos deveres e direitos da produção, reprodução e participação. O tempo deveria ser de dedicação exclusiva à formação para exercício futuro dessas dimensões (ABRAMO, 2005).

caracterização da transição como indeterminação: “jovens não são mais crianças e também não são adultos”, sendo definidos pelo que não seriam. A segunda crítica incide sobre uma necessária subordinação à vida adulta, caracterizada como uma fase estável, em contraste com a juventude, enquanto fase de instabilidade e crise. O que não se sustenta, pois “parte significativa do que denominamos condições contemporâneas da vida se inscrevem na insegurança, na turbulência, na transitoriedade” (SPÓSITO, 2000, p. 2).

Desta forma, entendemos a juventude, assim como Groppo (2000, p.7,8), como uma categoria social e histórica, o que a torna, ao mesmo tempo, uma representação sócio-cultural e uma situação social:

(...) a juventude é uma concepção, representação ou criação simbólica, fabricada pelos grupos sociais ou pelos próprios indivíduos tidos como jovens, para significar uma série de comportamentos e atitudes a ela atribuídos. Ao mesmo tempo, é uma situação vivida em comum por certos indivíduos.

Essa conceituação não se restringe apenas à juventude, alerta o autor, mas se adéqua também às outras faixas etárias, visto que, não se trata apenas de limites etários pretensamente naturais e objetivos, mas, de “representações simbólicas e situações sociais com suas próprias formas e conteúdos que têm importante influência nas sociedades modernas” (GROPPO, 2000, p.8).

A representação e situação social simbolizada dos(as) jovens é também vivida com muita diversidade na realidade cotidiana, em virtude da soma de outras situações sociais, como a classe social, e as diferenças culturais, étnicas, de gênero, nacionais e de localidade (GROPPO, 2000).

Por isso, Novaes (2002) defende que a idéia de juventude é uma palavra vazia, pois o termo por si só não designa uma problemática a todos que se encontram com a mesma idade biológica, pois a juventude nem sempre é bem demarcada e vivida da mesma maneira. Mas é o lugar social que as pessoas jovens ocupam na sociedade que influi nas maneiras como elas são ou não pensadas como jovens. E acrescenta aos elementos de diferenciação da condição juvenil, apresentados por Groppo (2000), a participação ou não dos(as) jovens em projetos sociais.

Reconhecendo a diversidade de vivências juvenis, nos propomos a falar sobre o movimento juvenil, formado por jovens, moradores(as) das áreas

pobres do Recife, compreendendo que suas necessidades sociais se inserem na dinâmica do capitalismo contemporâneo, sendo diretamente atingidos pelo impacto das transformações societárias, expressas pelos altos índices de desemprego e as precarizações das relações de trabalho, falta de proteção à saúde, precariedade do sistema escolar, violência estrutural, dentre outros.

2.2 A ação da juventude na história brasileira - dos anos 1960 aos dias