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Buscando esboçar os passos iniciais para atendermos aos objetivos desta pesquisa, sentimos a necessidade de conceituar as categorias sucesso e insucesso, embora não seja uma tarefa fácil visto que se trata de um conceito muito relativo, entendendo ambas como uma relação com dimensões sócio-econômica, política, cultural e pedagógica, como Tavares e Silva (2001, p. 150), também compreendemos que ao invés de falarmos em sucesso escolar, poderíamos falar em sucesso acadêmico do estudante, porque este:

Não poderá, na realidade, ser medido apenas pelo rendimento escolar atingido nas diferentes disciplinas do seu plano de estudos e pelo nível mais ou menos elevado das suas classificações. Hoje, conta, sobretudo, o seu desenvolvimento integrado pessoal e social, o seu equilíbrio, o bom senso e maturidade, a sua capacidade de criatividade e de desenvolver relações humanas entre pares e superiores hierárquicos e de ajudar a resolver tensões e conflitos em ambientes de trabalho [...] sucesso académico integra, por um lado, de alguma forma o sucesso familiar, escolar, educativo e, por outro, possibilita e potencializa o sucesso social, profissional, cultural, axiológico, numa palavra, humano.

Desse modo, o conceito de insucesso escolar é menos abrangente dizendo respeito, sobretudo, a retenções e evasões, isto é, ao impedimento do prosseguimento “normal” dos estudos, definido institucionalmente. Assim, o conceito de insucesso acadêmico é mais abrangente porque,

para além de abarcar as qualificações escolares, abarca outros aspectos relacionados com a transição/adaptação ao ensino superior, bem como variáveis relacionais e pedagógicas. Neste caso, o insucesso académico (ou o sucesso) já não é somente definido pela instituição e de acordo com os seus parâmetros; é face ao estudante, aos seus objectivos, às suas características, que o insucesso é definido (CORREIA, 2003, p. 19, grifo nosso).

Embora partilhemos dessa visão mais ampliada de sucesso e insucesso acadêmico, por uma questão metodológica, ao falarmos em sucesso estamos nos referindo aos estudantes que

conseguem trilhar a trajetória universitária até a conclusão do curso sem interrupções que os levem ao prolongamento ou desistência da sua vida acadêmica. Cabendo, assim, ao insucesso a situação em que o estudante reprova e repete componentes curriculares e/ou disciplinas, abandona ou evade do curso de graduação.

Para compreendermos melhor estas duas faces - sucesso e insucesso - do processo educacional, julgamos pertinente apresentar a definição da UNESCO, adotada pelo Ministério da Educação/MEC, de estudante repetente, que abandona ou evade:

• Repetente - é o aluno que se matricula no início de um ano letivo na mesma série em que estava matriculado no ano anterior.

• Abandono - aluno que deixou de frequentar o estabelecimento de ensino, tendo sua matrícula cancelada.

• Evadido - aluno que estava matriculado no início do ano letivo em uma determinada série e não consta na matrícula inicial do ano letivo seguinte: nem como aluno promovido (série seguinte), nem como aluno repetente.

Com relação à repetência, Parente e Luck (2004, p. 15) nos ajudam a entender que "repetente é o aluno que frequenta a mesma série no ano seguinte porque foi reprovado ou porque abandonou essa série no ano anterior". Elas afirmam que esse conceito engloba também aqueles que abandonam a escola, uma vez que muitos deles fazem isso ao perceberem que serão reprovados.

Tratando mais particularmente do espaço universitário, esclarecemos que repetente é o discente que realiza matrícula em componentes curriculares já cursados sem aprovação. Os que abandonam e/ou evadem são aqueles que não renovam a sua matrícula nem fazem o trancamento do semestre, perdendo o vínculo com a instituição.

Perrenoud (1999, p. 18) escreveu:

Normalmente, define-se o fracasso escolar como a simples consequência de dificuldades de aprendizagem e como a expressão de uma falta “objetiva” de conhecimentos e de competências. Essa visão, que “naturaliza” o fracasso, impede a compreensão de que ele resulta de formas e de normas de excelência instituídas pela escola, cuja execução local revela algumas arbitrariedades, entre as quais a definição do nível de exigência, do qual depende o limiar que separa aqueles que têm êxito daqueles que não o têm.

Buscando compreender o sucesso e o insucesso numa dimensão mais ampla, para além do âmbito individual do sujeito e do espaço escolar pontuados por Perrenoud (1999),

recorremos a Penin (1992) quando afirma que condições objetivas e subjetivas contribuem para o sucesso e o insucesso escolar/ acadêmico.

Com relação às condições objetivas, a autora enfatiza as questões relativas às políticas nacionais no que diz respeito à verba destinada à educação, bem como o mau uso desses recursos, devido à desorganização e à ineficiência dos sistemas de ensino, como fatores que contribuem incisivamente para o insucesso, propondo como alternativa para a construção do sucesso escolar "redefinições de metas e reformas administrativas profundas no Sistema Nacional de Ensino" (PENIN,1992, p.5).

Neste ponto observamos a relevância da dimensão política, a qual engloba a descentralização e desburocratização da educação, na construção do sucesso escolar.

No que diz respeito às condições subjetivas, a autora destaca as ações político- pedagógicas e as representações dos sujeitos - docentes, gestores, coordenadores pedagógicos - envolvidos no processo educativo que prenunciam as possibilidades de produção de sucesso ou insucesso escolar; isto é, a disposição destes sujeitos "em enfrentar crenças e valores estabelecidos, sejam no imaginário social, sejam nas suas representações sobre o processo educativo” (PENIN, 1992, p.7), pois não podemos esquecer que as representações orientam as práticas dos sujeitos.

Para essa autora, essa análise poderá identificar as representações e ações do corpo docente que estão interferindo no desempenho dos estudantes, além de permitir perceber a influência da organização escolar orientada por essas representações.

Essa autora acredita, ainda, que o desvendamento destas possibilitará a compreensão das ações geradoras de sucesso e insucesso que se estabelecem na vida cotidiana escolar, porque através das representações é possível "identificar aquelas que permitem explorar possíveis transformações da escola no sentido de construção do sucesso" (PENIN, 1992, p. 8), contribuindo-se para o enfrentamento daquelas que insistem sobre o insucesso escolar/acadêmico.

Face ao exposto, apresentaremos as versões de algumas correntes teóricas para estes fenômenos (sucesso e insucesso).