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Concentração inibitória mínima de antimicrobianos contra Streptococcus uberis associados à mastite bovina

RESUMO

Nas últimas décadas a mastite ambiental tornou-se um problema crescente, principalmente em rebanhos nos quais as medidas adotadas para o controle de infecções por patógenos contagiosos foram bem sucedidas. Entre os agentes da mastite ambiental, Streptococcus uberis destaca-se pela grande participação em infecções clínicas e subclínicas. A aferição do perfil de susceptibilidade do agente aos antimicrobianos fornece dados valiosos para a escolha adequada de fármacos para o tratamento de casos clínicos e a terapia no período seco. O objetivo do presente estudo foi determinar, por meio da concentração inibitória mínima (CIM), pelo método de microdiluição, a susceptibilidade aos antimicrobianos para 47 S. uberis isolados de mastite bovina em rebanhos leiteiros na região sul de Minas Gerais (Brasil). Foi determinada a CIM para 50% e para 90% dos S. uberis para os antimicrobianos ampicilina, cefalotina, ceftiofur, enrofloxacina, estreptomicina, florfenicol, gentamicina, lincomicina, penicilina e tetraciclina. Observou-se elevado nível de resistência a estreptomicina (MIC90=1024,0 μg/mL). Os demais antimicrobianos apresentaram níveis altos de susceptibilidade, entretanto, na maioria dos fármacos avaliados foram encontrados isolados resistentes. As variações observadas nos perfis de resistência, entre os diferentes isolados e em relação aos dados da literatura, apontam a necessidade de execução de testes de susceptibilidade aos antimicrobianos para indicação adequada da terapia ou para monitoramento da resistência aos antimicrobianos.

Palavras-chave: Mastite bovina. Streptococcus uberis. Concentração inibitória mínima. Susceptibilidade a antimicrobianos. Perfil de resistência.

ABSTRACT

In recent decades, environmental mastitis has become a increased problem, particularly in well-managed herds that have obtained successful in controlling infectious agents. Among these pathogen, Streptococcus uberis is responsible for a large proportion of infections. Informations about antimicrobial susceptibility can be valuable in the election of suitable drugs for the treatment of mastitis by S. uberis. The aim of this study was to determine the antimicrobial susceptibility of S. uberis isolated from bovine mastitis in dairy cattle in southern Minas Gerais, in Brazil, by means of minimum inhibitory concentration (MIC) by microdilution method. Was determined the MIC for 50% and 90% of S. uberis for the following antimicrobials: ampicillin, cephalothin, ceftiofur, enrofloxacin, streptomycin, florfenicol, gentamicin, lincomycin, penicillin and tetracycline. high-level resistance to streptomycin was observed The others presented high levels of antimicrobial susceptibility, however, in most of the drugs evaluated were found resistant isolates. The observed variations in resistance profiles, between the different isolates and compared to literature data, suggest the need to perform antibiotic susceptibility tests to indicate adequate therapy and for monitoring antimicrobial resistance.

Keywords: Bovine mastitis. Streptococcus uberis. Minimum inhibited concentration. Antimicrobial resistence.

1 INTRODUÇÃO

A mastite bovina é a doença mais cara do rebanho leiteiro. Os prejuízos gerados pela mastite a produtores e laticínios são atribuídos a vários fatores relacionados à doença, como o gasto com medicamentos para o tratamento dos casos clínicos, perda de animais por morte ou descarte, diminuição da qualidade do leite, redução do tempo de prateleira, redução do rendimento na produção de derivados e, principalmente, redução na produção do leite, que é a perda menos percebida pelo produtor, porém a mais importante (PHILPOT; NICKERSON, 2002).

Nas últimas décadas a disseminação das medidas de controle da mastite tem sido eficiente na diminuição das infecções intramamárias (IIM) causadas por patógenos contagiosos, entretanto têm sido pouco efetivas contra patógenos ambientais, consequentemente, a mastite ambiental tornou-se um problema crescente, principalmente em rebanhos bem manejados que obtiveram sucesso no controle dos agentes contagiosos (JAYARAYO et al., 1999). Entre esses agentes está Streptococcus uberis, um importante patógeno ambiental associado à mastite bovina, responsável por grande proporção das infecções (DOUGLAS et al., 2000; PHUEKTES et al., 2001).

IIM causadas por S. uberis tem aumentado nos rebanhos leiteiros em todo o mundo. Atribui-se a esse patógeno prevalências de até 23% dos casos de mastite em alguns países (BRADLEY, 2002), sendo agente muito frequente em países como Canadá, Estados Unidos, Holanda, Reino Unido, Nova Zelândia e Austrália. Contudo, apesar de sua importância, a epidemiologia da mastite por S.

uberis ainda é pouco estudada (PHUEKTES et al., 2001).

A antibioticoterapia via intramamária é um método de combate amplamente utilizado em casos de mastite bovina. Prévios estudos têm reportado cepas resistentes a alguns antimicrobianos (OWENS et al., 1990). Assim,

informações de susceptibilidade aos antimicrobianos podem ser valiosas na eleição de fármacos adequados no tratamento da mastite por S. uberis (ROSSITO et al., 2002).

O objetivo do presente estudo foi determinar a susceptibilidade aos antimicrobianos de S. uberis isolados de mastite bovina em rebanhos leiteiros na região sul de Minas Gerais, no Brasil, por definição da concentração inibitória mínima (CIM) pelo método de microdiluição.

2 MATERIAL E MÉTODOS

Todos os 47 isolados previamente identificados como S. uberis, por PCR com uso de primers espécie-específicos, foram avaliados quanto a sua susceptibilidade aos antimicrobianos pelo método de microdiluição em caldo seguindo a metodologia padronizada pela Clinical and Laboratory Standads Institute - CLSI (2006).

Para realização dos testes foi utilizado o caldo Müller Hinton (Difco, USA) suplementado com cátions divalentes, cálcio e magnésio (CAMHB) e 5% de sangue lisado de eqüino.

Os antimicrobianos testados foram: ampicilina, cefalotina, ceftiofur, enrofloxacina, estreptomicina, florfenicol, gentamicina, lincomicina, penicilina e tetraciclina. Solvidos, diluídos e estocados conforme as recomendações do CLSI (2008). O intervalo de diluições de cada antibiótico, apresentados na tabela 2, foi escolhido com base em prévias publicações de estudos sobre CIM em S. uberis e foi, em alguns casos, reformulado para maiores ou menores concentrações visando aumentar a precisão do resultado.

Os isolados selecionados foram incubados em caldo BHI aos 36 °C por 18-24 h e após crescimento foram preparadas as suspensões bacterianas em solução salina 0,85% ajustadas a escala 0,5 de MacFarland, o que corresponde a aproximadamente, 108 unidades formadoras de colônias (UFC) por mililitro (mL). Essa suspensão foi diluída na proporção 1:10 em CAMHB suplementado com sangue lisado de equino, obtendo-se uma concentração final de aproximadamente 107 UFC/mL.

Tabela 2 Intervalos de diluição dos antimicrobianos usados na determinação da concentração inibitória mínima para Streptococcus uberis associados a mastite bovina Antimicrobiano Concentração (μg/mL) Estreptomicina 2-1024 Gentamicina 0,25-128 Lincomicina 0,016- 128 Ceftiofur 0,06-64 Cefalotina 0,06-64 Penicilina 0,016-8 Ampicilina 0,016-8 Enrofloxacina 0,016-8 Florfenicol 0,13-64 Tetraciclina 0,016-64

Microplacas estéreis de 96 poços foram utilizadas. Em cada poço foram adicionados 100 μL de CAMBH com 5% de sangue lisado de equino, nos poços da primeira coluna das placas foi adicionado 100 μL de solução do antibiótico testada, diluída no mesmo caldo (solução de uso) obtendo-se assim a concentração inicial de cada droga. A partir da primeira coluna de poços diluições seriadas de base 2 foram realizadas nas demais colunas de poços com o auxílio de pipeta automática multicanal, obtendo-se concentrações decrescentes, com intervalos de diluição variáveis entre os antimicrobianos testados. Os testes foram feitos em duplicata. As duas últimas colunas da microplaca não receberam antibiótico, a penúltima coluna usada como controle positivo de crescimento e a última, contendo apenas o meio de cultura, como controle de esterilidade do material, dos meios e das soluções utilizadas.

Após a diluição do antibiótico, foi feita adição de 5 μL do inóculo em cada poço. As microplacas foram depois agitadas suavemente por cinco minutos e então incubadas aos 37 ºC por 20 horas. Após o tempo de incubação foram

feitas as leituras dos resultados considerando-se CIM a menor diluição do antibiótico capaz de inibir visivelmente o crescimento bacteriano.

O controle de qualidade dos testes de microdiluição foi feito como recomendado pelo CLSI (2008) com as amostras: Staphylococcus aureus (ATCC 29213), Streptococcus pneumoniae (ATCC 49619), Escherichia coli (ATCC 25922), Pseudomonas aeruginosa (ATCC 27853), Enterococcus

faecalis (ATCC 29212) .

Em função da carência de critérios interpretativos bem estabelecidos para S. uberis, o perfil de susceptibilidade foi avaliado com base em diferentes critérios de interpretação citados em outros trabalhos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na tabela 3 encontram-se relacionados os valores de CIM para 90% das amostras (CIM90) e para 50% das amostras testadas (CIM 50), bem como a distribuição dos isolados entre as CIM dos antimicrobianos avaliados, com exceção de estreptomicina.

Tabela 3 Distribuição da concentração inibitória mínima (CIM) de nove antibióticos para 47 Streptococcus uberis associados à mastite bovina em rebanhos leiteiros no sul de Minas Gerais, Brasil

Número de isolados para CIM indicada (μg/mL)

Antibiótico 0,016 0,03 0,06 0,13 0,25 0,5 1 2 4 8 16 32 64 128 Gentamicina 1 0 8 11 16 9 2 0 0 0 Lincomicina 20 3 4 0 2 0 0 2 5 4 2 2 1 2 Ceftiofur 10 5 15 9 4 1 1 2 0 0 0 Cefalotina 1 5 5 19 4 4 5 1 3 0 Penicilina 7 6 7 11 5 6 4 0 0 0 1 Ampicilina 0 7 10 5 10 11 3 0 0 0 1 Enrofloxacina 0 0 0 1 0 5 16 23 2 Florfenicol 0 0 1 6 26 14 0 0 0 0 Tetraciclina 1 0 7 7 10 5 3 0 4 3 3 3 1 0

Números sublinhados indicam a CIM para 50% das amostras (CIM50), números em negrito indicam a CIM para 90% das amostras (CIM90) e números em negrito sublinhados indicam mesmo valor para CIM50 e CIM90

Em recentes pesquisas sobre CIM, isolados tem sido classificados como susceptíveis ou resistentes baseado em valores de corte epidemiológico espécie- específicos publicados pelo European Committe on Antimicrobial Susceptibility

testing (EUCAST) (HTTP://www.eucast.org). No entanto, não há valores

definidos para Streptococcus uberis, em função da carência de dados, o que impossibilita o uso desse método de avaliação (BENGTSSON et al., 2009). Pela

falta de padrões para interpretação, optou-se nesse trabalho por discutir os resultados baseado nos critérios adotados por outros pesquisadores.

Detectou-se alto nível de resistência a estreptomicina no presente estudo. 40,4 % da população de S. uberis pesquisada apresentaram CIM maior ou igual a 1024 μg/mL. Guérin-Faublée et al. (2002) reportaram resistência de S. uberis a estreptomicina em 18% dos isolados S. uberis, níveis também bastante elevados. Owens et al. (1990) classificaram como resistentes 80% de Streptococcus sp., incluindo S. uberis, e 12% como intermediário pelo método de disco de difusão e relataram 73% das amostras de S. uberis analisadas apresentando CIM maior do que 128 μg/mL. Neste estudo encontrou-se CIM50 e CIM90 de 32 e 1024 μg/mL. Pitkälä et al. (2004) e Pitkälä, Koort e Björkroth (2008), em estudo realizado na Finlândia, encontraram valores de CIM50 e CIM90 consideravelmente mais baixos, 64 e 128 μg/mL, respectivamente, ainda assim, como nos demais trabalhos citados e no presente estudo, os autores consideraram alto o nível de resistência a estreptomicina na população de S.

uberis estudada.

O CIM50 e CIM90 encontrados para Gentamicina (4 e 8 μg/mL, respectivamente) foram consideravelmente mais baixos do que os relatados por outros autores. Pitkälä et al. (2004), que relataram CIM50 E CIM90 de 16 e 32 μg/mL, respectivamente. Pitkälä, Koort e Björkroth (2008), relataram CIM50 e CIM90 ambos de 32 μg/mL e não observaram níveis baixos de resistência a aminoglicosídeos, conforme o critério interpretativo recomendado pelo CLSI de triagem de altos níveis de resistência a gentamicina (500μg/mL) e a estreptomicina (1000μg/mL). Guérin-Faublée et al. (2002) também relataram ausência de cepas altamente resistentes a gentamicina entre os isolados investigados.

O teste de CIM para lincomicina foi feito com intervalo de diluições mais amplo, de 128 a 0,016 μg/mL. Não há valores definidos de critérios interpretativos específicos para S. uberis isolados de mastite bovina disponibilizados pelo CLSI ou pelo EUCAST. Considerando-se o padrão interpretativo adotado por Guérin-Faublée et al. (2002) (S<2,0 μg/mL e R>16,0 μg/mL) 10,6% dos isolados pesquisados foram classificados como resistentes. Os autores citados relataram que entre 50 amostras testadas, 14 apresentaram-se altamente resistentes a lincomicina com CIM>128 μg/mL, e cinco amostras apresentaram susceptibilidade intermediária. Embora os níveis de resistência relatados por esses autores sejam maiores em relação aos observados no presente estudo, o nível de susceptibilidade de 64% foi semelhante.

Rossitto et al. (2002) classificaram apenas 27,1% das amostras de S.

uberis estudadas como sensíveis a tetraciclina, utilizando critério definido por

National Committee for Clinical Laboratory Standards - NCCLS (2000) baseado em dados humanos (sensíveis menor ou igual a 2 μg/mL). Utilizando-se o mesmo critério para os resultados do presente estudo, 70,2% dos isolados foram classificados como susceptíveis a tetraciclina, assim, o nível de resistência é muito inferior em relação ao encontrado pelos autores citados. Nível aproximado foi encontrado por Guérin-Faublée et al. (2002), que relataram 78% de susceptibilidade de S. uberis a Tetraciclina. Entretanto, critérios interpretativos de susceptibilidade baseados em dados de isolados humanos podem não predizer a eficácia clínica do antimicrobiano no tratamento da mastite bovina (ROSSITTO et al., 2002). Isso ocorre em função do limitado histórico de dados de CIM disponíveis para patógenos de mastite bovina, particularmente, estreptococos ambientais (SALMON et al., 1998; WATTS; SALMON; YANCEY JUNIOR, 1995). Rossitto et al. (2002) reportaram CIM50 e CIM90 ambos de 16 μg/mL em 133 S. uberis analisados, o resultado de CIM50 foi superior em relação ao resultado do presente trabalho, no qual se observou

CIM50=0,25 μg/mL. O CIM90 é próximo ao valor de 32,0 μg/mL encontrado neste estudo. Embora resultados de algumas pesquisas, como os deste trabalho, revelam existência de isolados resistentes a tetraciclina, Gianneechini, Concha e Franklin (2002) não encontraram resistência a tetraciclina em S. uberis associados à mastite, Roesch et al. (2006) relataram resultado semelhante. Contudo, distribuição de CIM que se assemelha à deste estudo foi relatada por Bengtsson et al. (2009), que, embora não tenham aplicado critérios pela ausência de valores de corte epidemiológico específicos definidos pelo EUCAST, consideraram a distribuição bimodal de CIM como indicativo da aquisição de resistência em alguns isolados.

Pitkälä, Koort e Björkroth (2008) relataram nove isolados resistentes a tetraciclina, oito desses foram classificados como sendo do mesmo tipo por RFLP (polimorfismo de tamanho de fragmentos de restrição) (ribotipagem). Os isolados resistentes à tetraciclina apresentaram participação nos casos clínicos significativamente maior que o no número de isolados de casos subclínicos. Considerando-se o critério de interpretação definido pelo CLSI (2008) definido para outros microrganismos isolados de doença respiratória de bovinos (resistentes CIM maior ou igual a 128μg/mL), apenas três das oito amostras associadas a casos clínicos apresentaram resistência, todas com CIM=1024 μg/mL. Entre as 21 amostras consideradas resistentes a tetraciclina, apenas três foram isoladas de casos clínicos. Ou seja, a associação relatada por Pitkälä, Koort e Björkroth (2008) não foi encontrada no presente estudo.

Considerando o critério adotado por Rossitto et al. (2002), baseado em patógenos isolados de doença respiratória de bovinos (sensível menor ou igual a 2 μg/mL), 93,6% dos isolados testados neste estudo seriam classificados como sensíveis ao ceftiofur, nível muito semelhante ao encontrado por esses autores (93,2%). A CIM50 e CIM90 de ceftiofur encontradas no presente estudo (0,25 e 2,0 μg/mL) foram próximas aos valores encontrados por Rossito et al. (2002) de

0,5 e 2 μg/mL, respectivamente, entretanto 0,5 μg/mL foi a menor concentração avaliada por esses autores. Pol e Ruegg (2007) reportaram CIM50 e CIM90 de ceftiofur para espécies de Streptrococcus sp. isolados de mastite, excetuando-se

S. agalactiae, ambos de 0,5 μg/mL e não encontraram nenhum isolado com crescimento em concentrações maiores do que 1 μg/mL. Utilizando-se de critérios delineados pelo CLSI para patógenos de doença respiratória de bovinos, o mesmo limiar utilizado por Rossitto et al. (2002), classificaram todas as amostras testadas como sensíveis ao ceftiofur.

Para cefalotina, o valor de CIM50 encontrado no presente trabalho (0,5 μg/mL) foi mais baixo que o CIM50 de 1,0 μg/mL relatado por Rossitto et al. (2002), mas essa diferença pode ser explicada pelo fato de que essa foi a menor concentração testada por esses autores. O referido autor relatou o mesmo valor de 1 μg/mL para CIM90, concentração mais baixa do que a encontrada neste estudo (8,0 μg/mL). Salmon et al. (1998) encontraram valores de semelhantes ao deste trabalho de 0,25 e 8,0 μg/mL respectivamente para CIM50 e CIM90. Considerando o critério adotado por Rossitto et al. (2002) (sensíveis menor ou igual a 8,0 μg/mL), 93,6% S. uberis pesquisados neste trabalho podem ser classificados como susceptíveis. Nível de susceptibilidade próximo dos 97,2% relatados por esses autores. Tomando como base os critérios definidos pelo CLSI (2008) (resistentes maior ou igual a 32,0 μg/mL) todos os isolados analisados no presente trabalho são considerados sensíveis a cefalotina, resultado semelhante ao relatado por Pitkälä et al. (2004) e Pitkälä, Koort e Björkroth (2008), no entanto esses autores relataram CIM90 de 0,25 μg/mL, consideravelmente menor em relação a encontrada neste trabalho.

A distribuição das CIM dos dois fármacos do grupo das cefalosporinas, possibilita a observação de que o representante da terceira geração, o ceftiofur, teve maior eficácia in vitro que o representante da primeira geração, a cefalotina,

em inibir o crescimento de S. uberis isolados de mastite bovina. A mesma observação foi relatada por Watts, Salmon e Yancey Junior (1995).

Adotando-se o ponto de corte recomendado pelo CLSI (2008) (resistentes maior ou igual a 4 μg/mL) apenas uma amostra foi considerada resistente a penicilina, apresentando CIM maior do que 8 μg/mL. Essa mesma amostra mostrou-se também resistente a ampicilina (CIM maior do que 8 μg/mL) e foi o isolado que ampresentou maior CIM também para ceftiofur (4 μg/mL). A existência de CIMs elevados para β-lactamicos (penicilina, ampicilina e ceftiofur) é um indicativo de que o mecanismo primário resistência a penicilinas de S. uberis é, aparentemente, a produção de β-lactamases (ROSSITTO et al., 2002).

Em geral os estreptococos ambientais são sensíveis as penicilinas. Salmon et al. (1998) reportaram alta susceptibilidade de S. uberis a penicilina, com CIM50 e CIM90 ambos de 0,06 μg/mL, entre isolados da Nova Zelândia e iguais valores, de CIM50=0,06 e CIM90=2 μg/mL, para penicilina e ampicilina entre isolados provenientes da Dinamarca. Pitkälä, Koort e Björkroth (2008) encontraram sensibilidade a penicilina em 100% das amostras analisadas de S.

uberis e o MIC50 e MIC90 relatados por estes autores foram ambos 0,064

μg/mL, valores diferentes, porém próximos aos do presente estudo, no qual se encontrou CIM50=0,125 e CIM90=1 μg/mL tanto para penicilina quanto para ampicilina. Outros pesquisadors relataram valores mais elevados, como Rossito et al. (2002) que reportaram MIC50 e MIC90 de penicilina ambos de 0,25 μg/mL. Guérin-Faublée et al. (2002) relataram distribuição semelhante a deste trabalho, porém com sensibilidade ainda maior da população de S. uberis avaliada. No entanto o autor classificou 14% das amostras como moderadamente susceptíveis, usando como critério interpretativo um ponto de corte bem mais baixo (sensível menor do que 0,12). Esses autores relataram ainda distribuição bimodal da população entre as CIM de penicilina e outros β-lactamicos, o que

pode ser interpretado como indicativo de existência de mecanismos de resistência na população bacteriana (TURNIDGE; KAHLMETER; KRONVALL, 2006). Diante disso especula-se que um gradual aumento no surgimento de isolados resistentes a penicilina poderia ocorrer em Streptococcus

uberis como foi observado para Streptococcus pneumoniae em humanos

(GUÉRIN-FAUBLÉE et al., 2002).

Ampicilina pertence ao grupo de amplo espectro de penicilinas chamadas aminopenicilinas. Esses componentes são similares as penicilinas naturais em seu espectro de atividade, mas são mais ativas contra alguns gêneros de bactérias (SALMON et al., 1998). No entanto, assim como encontrado neste estudo, a maioria dos estudos aponta valores muito próximos de CIM50 e CIM90 para ampicilina e penicilina, embora os dados disponíveis de ampicilina para S. uberis seja escassos (KIRK et al., 2005; ROSSITO et al., 2002).

Os valores encontrados de CIM50 e CIM90 (2,0 μg/mL) para enrofloxacina foram um pouco mais elevados em relação aos poucos relatos encontrados na literatura: CIM50=0,5 μg/mL e CIM90=1,0 μg/mL (SALMON et al., 1998; WATTS; SALMON; YANCEY JUNIOR, 1995), CIM50=0.5 μg/mL e CIM90=2 μg/mL (OWENS et al., 1997). A CIM 50 mais elevada pode ser um indicativo de maior ocorrência de resistência em função de uso mais disseminado de enrofloxacina nos rebanhos pesquisados, em relação aos trabalhos citados, que mencionam não ser aprovado ou não ser comum o uso de enrofloxacina para mastite bovina na ocasião da pesquisa (SALMON et al., 1998; WATTS; SALMON; YANCEY, 1995). Entretanto, a falta de critérios padronizados torna difícil tirar conclusões pela comparação dos relatos.

No presente estudo os valores de CIM50 e CIM90 de florfenicol foram 2 μg/mL e 4 μg/mL, respectivamente. Não foram encontrados na literatura dados sobre CIM de florfenicol para S. uberis, o que impossibilita a comparação dos resultados. No entanto, a distribuição dos isolados por CIM (Tabela 2), sugere

não haver resistência ao florfenicol na população estudada. Tomando como referencia os critérios do CLSI (2008) para bactérias associadas a doenças respiratórias de bovinos (resistentes CIM maior ou igual a 8 μg/mL) não há isolados que possam ser considerados resistentes.

O uso indiscriminado de antibióticos na bovinocultura pode promover mudanças no perfil de susceptibilidade dos patógenos de mastite. O monitoramento regular da resistência é necessário para identificar possíveis mudanças nos padrões de resistência aos antimicrobianos (PITKÄLÄ; KOORT; BJÖRKROTH, 2008). O aumento da resistência aos antimicrobianos por patógenos de mastite pode ocorrer em consequência do uso de determinada base no tratamento de outras doenças e até mesmo em animais de outras categorias além das vacas em lactação. Bengtsson et al. (2009) em um levantamento do perfil de susceptibilidade antimicrobiana em isolados de mastite aguda na Suécia, encontraram isolados resistentes a antimicrobianos não comumente usados no tratamento de mastite naquele país.

As variações observadas nos perfis de resistência, entre os diferentes isolados e em relação aos dados da literatura, apontam a necessidade de execução de testes de susceptibilidade aos antimicrobianos para indicação adequada da terapia ou para monitoramento da resistência aos antimicrobianos.

4 CONCLUSÕES

Embora não existam parâmetros específicos para interpretação de CIM dos antimicrobianos testados para Streptococcus uberis, dentro dos limites do experimento, pode-se concluir que: A população de S. uberis estudada apresentou níveis elevados de resistência para estreptomicina. Para a maioria dos

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