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“Quem não sonhou em ser um jogador de futebol...” (Samuel Rosa, do Skank).

Futebol, esporte de amor, paixão, desejo, delírio e, às vezes, até de loucura. Desta pode emergir o perverso, o impulso de ódio, o descrédito, a decepção, o desengano, a amargura. Os que criaram este esporte não podiam imaginar que ele seria, no futuro, o futebol da esperança, do sonho, da paz, da política, da boa ventura, do fanatismo, da guerra, da opressão, do trabalho, da economia, da verdade nua e crua; o futebol que canta e encanta, a beleza cálida, a beleza fria, com seus gestos de arte, (criação divina), de esplendor brilhante, da empolgante alegria; mas também o do desencanto, da pobreza, da dor, do escândalo, da corrupção, da mentira. Futebol do mundo... futebol do Brasil!

O futebol tem suas diversas facetas, nos múltiplos e diferentes lugares, povoados, cidades, estados do Brasil, países do Globo. Sempre há um espaço em que se pode disputar um jogo caracterizado como futebol: aquele da rua, da praia, da praça, da garagem, da quadra, do campinho, do estádio. Cancha da disputa, seja ela pequena, média ou grande, adequada ou não, está lá, esperando para receber os ingredientes, os elementos que fazem a criança jogar como criança, o jovem, o adulto e o idoso brincarem como e com a criança, sentirem-se como tais, driblarem o adversário e o tempo, marcando o gol com o descompromisso da alegria.

O futebol, ou melhor, os esportes em geral demonstram uma grande capacidade de despertar, em seus entusiastas torcedores e nos praticantes, sentimentos coletivos de identidade de pertença expressos facilmente por meio da confissão de emoções que, em determinados momentos, se manifestam em sorrisos largos e em satisfação intensa; em outras, se traduzem em choro e lamentações profundas. Não importa a hora nem o dia da semana, se há futebol, há sentimentos. “Num domingo normal, qualquer um pode morrer de emoção enquanto se celebra a missa da bola. Num domingo sem futebol, qualquer um morre de aborrecimento” (GALEANO, 2009, p. 135).

Essas emoções parecem demonstrar sentimentos de pertencimento, de identidade, de solidariedade coletiva a um grupo; também podem gerar, ao contrário, situações de conflito, de desordem com outros que não pertençam ao mesmo grupo, que não tenha participado da mesma aliança implícita, em outras palavras, do mesmo laço simbólico não pactuado explicitamente. Assim, grandes grupos se formam, com faixas etárias distintas, ainda que muitos deles não se reconheçam pelo tipo genético, ou pela classe social. Porém, vestidos pelas mesmas cores, trajados com o mesmo uniforme, com bandeira e objetos congêneres na mão, reconhecem-se por manifestações semelhantes. E se não são, necessariamente, circunscritos pelo mesmo parentesco, são filiados de uma mesma linhagem, comungam iguais sentimentos, são unidos pela mesma paixão.

O futebol materializou-se no cotidiano de muitas das famílias brasileiras; culturalmente, instituiu-se como prática física e entretenimento e, consequentemente, foi reconhecido como o esporte mais popular, portanto, fator de identificação nacional no Brasil. Para se ter uma ideia da dimensão dessa identificação, no início do ano de 2006 o IBGE anunciou, dados sobre o perfil dos municípios brasileiros em relação ao desenvolvimento dos esportes no ano de 2003. Nesse estudo verificou-se que o futebol está presente em 95,5% do total dos eventos, seguido pelo futsal (futebol de salão), com 66%, e pelo voleibol, com 60,3%. Diante desses dados, fica clara a importância cultural, social, política e econômica que a sociedade brasileira atribui a esse esporte. Além disso, observa-se que o futebol se consolidou também como uma destacada prática de lazer da população.

Sabe-se que o futebol brasileiro é muito admirado em todo o mundo. O Brasil é o país que mais vezes conquistou a Copa do Mundo de Futebol – principal competição desta modalidade –, totalizando cinco campeonatos. É o único concorrente que conseguiu esse feito. Destaca-se ainda por ser a única seleção que participou de todas as edições desse evento esportivo. A grande maioria da população brasileira acompanha a história e trajetória em que se desenvolveu o futebol no país. Nos fins de semana, os apaixonados por futebol vão aos estádios, levando seus aparatos eletrônicos para acompanharem os jogos de seus clubes, tornando o ambiente de participação mais próximo e real dos acontecimentos presenciados no jogo. Quando não seguem seus times nos locais das partidas, os torcedores assistem aos jogos em casa, ou em lugares públicos, por meio da televisão ou de outro aparato de comunicação. Na ausência física no local do jogo, essa forma de acompanhar os jogos difere-se da assistência in

praesentia, mas com pouca, ou nenhuma alteração em relação às manifestações das emoções, expressadas por meio de gritos, rostos apreensivos e tensionados que revelam sentimentos de felicidade, de ansiedade ou de tristeza. O jogo de futebol é sempre imprevisível e a perspectiva da vitória, do empate ou da derrota são resultados que se modificam repentinamente no decorrer de toda a partida, provocando, portanto, a variedade de sentimentos que se exprimem nas personae dos torcedores.

No futebol, como em tudo mais, são muito mais numerosos os consumidores que os criadores. O cimento cobriu os campos baldios onde qualquer um podia jogar uma pelada a qualquer momento, e o trabalho devorou o tempo do jogo. A maioria das pessoas não joga, mas vê outros jogarem, pela televisão ou da arquibancada cada vez mais longe do campo. O futebol se transformou, como o carnaval, em espetáculo para a massa. Mas assim como no carnaval há os que se põem a dançar na rua além de contemplar os artistas que cantam e dançam, também no futebol não faltam os espectadores que de vez em quando se fazem protagonistas, pela pura alegria, além de olhar e admirar os jogadores profissionais. E não só os meninos: de certa forma, e por mais longe que estejam os campos possíveis, os amigos do bairro e os companheiros da fábrica, do escritório da faculdade, continuam dando um jeito para se divertir com a bola até que caem esgotados, e então vencedores e vencidos bebem juntos, e fumam, e partilham uma boa comida, esses prazeres proibidos para esportista profissional (GALEANO, 2009, p. 87 - 88).

Futebol e lazer se integram e assumem importante relevância na vida dos brasileiros, tanto no que se refere ao entretenimento relativo à assistência aos jogos, quanto participando efetivamente do jogo nos locais especificamente destinados, ou não, para a prática desta modalidade esportiva.

É claro que o futebol tornou-se um fenômeno de sucesso dentre as principais atividades de lazer esportivo do século XX por causa, em grande parte, dos investimentos dos meios de comunicação de massa, transformando-o no eixo da informação esportiva e conquistando enorme clientela (REIS, 2006).

É importante destacar que os espaços destinados à prática do futebol vêm sofrendo mudanças estruturais e, devido ao crescimento desorganizado dos centros urbanos, vêm sendo reduzidos. A redução progressiva desses espaços “naturais” tem exigido a intervenção dos poderes públicos, para que seja garantida a preservação de áreas para a prática do futebol relacionada ao lazer. Por outro lado, incorporado na cultura contemporânea como um direito, o lazer vem se colocando entre as prioridades no universo das políticas sociais. No entanto, o capital também está atento à escassez desses espaços e, aí, também constrói campos e quadras com finalidades comerciais. No caso específico do futebol, os chamados “campos de várzea” vão desaparecendo diante

da especulação imobiliária e da necessidade de suprir o déficit habitacional. Os espaços públicos destinados ao lazer da população vão pouco a pouco cedendo lugar a outras “prioridades”. Mas, com o progressivo reconhecimento do lazer à condição de direito até das populações mais pobres, a pressão da demanda por campos de “futebol society” e por quadras faz com que os governos locais não desconheçam totalmente a necessidade dos espaços públicos destinados ao lazer. Embora este fato seja muito importante e possa ser constatado na maioria das grandes cidades brasileiras, ele não será tematizado nesta tese. Essa breve referência foi apenas para chamar a atenção para este aspecto, diga-se de passagem, peculiar do futebol: o de chamar a atenção das autoridades para a importância do lazer do proletariado, como também para demonstrar que, mesmo sob a capa do lazer da população em geral, ele sofre influências do processo de acumulação capitalista.

De todo modo, o futebol é uma modalidade esportiva que tem provocado um singular encantamento de muitos brasileiros, tonando-se, por isso, preocupação dos responsáveis pelas políticas públicas (public policy makers). Como este encantamento atinge brasileiros de todas as idades, o futebol acaba se insinuando nas políticas, planos, programas e projetos de todos os âmbitos e níveis de governo.

Na maioria das vezes, este encantamento é incentivado, desde a mais tenra idade, pelos pais, parentes e amigos frequentadores do mesmo ambiente familiar. Todos estimulam as crianças a jogarem bola com os pés. E quando não há bola de couro, joga- se com latas, tampinhas de refrigerante, laranjas, bolas de meia e outros objetos que são reinventados nessa nova função. Os infantes imitam os adultos, atraindo-lhes a atenção com gestos e trejeitos típicos do jogo de futebol. Não é demais afirmar que o maior divertimento das crianças brasileiras ainda é jogar bola. E não importa onde seja: no pequeno quintal de casa, na garagem, nos corredores do prédio, nas ruas asfaltadas ou de terra, na praia, nos becos, vielas, ou seja, em qualquer pedacinho de chão que possa travestir-se de cancha. Improvisada a bola e o campo, os jogadores logo emergem e, daí em diante, insinuam-se os “craques”, os que têm jeito para o futebol, e, ao mesmo tempo, a fantasia toma conta de todos os participantes e a alegria torna-se senhora da situação entre gestos, passes, chutes, defesas e gritos de gol, a emoção é uma só, indescritível, soberana (FREIRE, 2003).

Seja para os mais envolvidos e estudiosos do futebol, seja para simples torcedores e espectadores, é fácil perceber quais crianças e jovens brasileiros potencializam trajetórias que possam ser trilhadas na direção da fama, da realização

financeira e da elevação do status por meio do profissionalismo futebolístico. Nesse sentido, também é fácil perceber a tentativa de identificação de crianças e jovens com os jogadores de maior expressão, em outras palavras, os aspirantes ao profissionalismo no futebol imitam, em geral, a figura de algum ídolo esportivo, repetindo seus gestos, cacoetes, trajes, seu penteado. Ou seja, o prolongamento do atleta no fã ultrapassa os limites dos estádios e acompanha o próprio dia-a-dia de muitos candidatos a jogador. Segundo Chaves (1985), a criança quando inicia sua prática em um desporto logo se espelha em seu ídolo, sonhando em alcançar os mesmos feitos e sucesso, bem como desfrutar de todas as regalias de uma carreira bem sucedida.

E assim, o futebol no Brasil acaba por ser

Um fenômeno cultural que cativa e impressiona pela sua grandeza, e cuja prática tem crescido rapidamente, envolvendo um número significativo de participantes, desde a infância até a idade adulta. Especificamente, na iniciação esportiva ao futebol, em um país como o Brasil, em que um único esporte merece a esmagadora atenção da mídia, é complicado mostrar às crianças que, muitas vezes, a escolha por esta modalidade esportiva é muito mais uma questão cultural do que um gosto pessoal. Até mesmo os pais são influenciados por isso, já que muitos deles, fanáticos por futebol, têm dificuldades em permitir que seus filhos optem por outro caminho para a prática esportiva (FILGUEIRA; SCHWARTZ, 2007 p. 246-247).

O futebol, praticado há mais de um século, consolidou-se incontestavelmente como o esporte mais popular do mundo, cristalizando-se como uma modalidade de prática maciça e possibilitando que as relações comerciais em torno da indústria futebolística, com seus produtos e serviços, ganhassem dimensões expressivas. As oportunidades de geração de significativos lucros conjugaram interesses da mídia que, em contrapartida, tornou o futebol, certamente, o esporte mais divulgado, promovido, vendido e comprado. Esse esporte tornou-se uma verdadeira indústria de negócios em determinados nichos do mercado. Nessa seara de movimentações financeiras, assiste-se a criação de ídolos, de estereótipos de craque que promove determinado clube, marca ou produto, voltados para o “consumo” de uma quantidade considerável de torcedores/consumidores fiéis.

Desde que houve a preocupação da “indústria do futebol” em criar profissionais que se tornassem mitos, cresceram também as estratégias para transformá-los em modelos a serem seguidos pelos que mergulham na aventura e realização do desejo do eldorado futebolístico. Para a manutenção da rotatividade de verdadeiras lendas desse esporte, são utilizadas as mais diversas ferramentas e estratégias de marketing que

consolidam a imagem do vencedor – meio de enriquecimento nos diversos setores da comercialização de produtos e serviços relacionados ao futebol.

A mídia joga um papel fundamental na criação de ídolos. É interessante não só para os meios midiáticos, como para a indústria do esporte que a criação, a manutenção e a reprodução de ícones esportivos continuem sendo práticas renovadas, sendo aí realizados negócios de diversa natureza, alimentando a lógica de mercado, transformando torcedores em consumidores alienados e fortalecendo não o sistema desportivo, mas o capitalista. Desse modo, é interessante para a mídia promover a imagem de jogadores que estimulem a imaginação das crianças e dos adolescentes, desejosos de se tornarem atletas do futebol profissional com o mesmo sucesso de seus ídolos.

Essa relação atleta/fã se intensifica por época de novas conquistas da seleção nacional e dos clubes, em torneios promovidos pelas federações e confederações correspondentes, que mantêm o cenário futebolístico nacional e mundial em constante efervescência, fazendo com que o Brasil seja reconhecido como uma grande potência do futebol, que produz e exporta grandes talentos desse esporte. Desde cedo, o jovem candidato a atleta elabora sonhos, não apenas de sucesso financeiro e reconhecimento social no próprio país, mas de projeção mundial. A vida dos grandes jogadores é cercada de certo glamour que esconde a realidade de que apenas poucos chegam ao status de grande jogador ou jogadora. A imaginação do desfrute das benesses do prestígio que deriva do sofisticado ambiente esportivo, do mundo dos espetáculos esportivos e sociais, das fantasias desses verdadeiros garotos imaturos que ganham e gastam fortunas com futilidades permeia os pensamentos dos jovens, mobilizando uma cadeia de esforços, sacrifícios e renúncias para a realização da utopia futebolística. Toda a família é mobilizada quando se pensa que um dos filhos pode “chegar lá”. Configuram-se iniciativas obstinadas, sacrifícios financeiros imensos são praticados no altar do sonho de sucesso, principalmente por aqueles oriundos do proletariado. Aí, o futebol joga, com força desmedida, o papel de canal de ascensão social, principalmente para aqueles que têm a bola como único brinquedo: "a bola é a única varinha mágica em que [se] pode acreditar. Talvez ela lhe dê de comer, talvez ela o transforme num herói, talvez em deus" (GALEANO, 2009, p. 51).

Nesse caminho, outras pessoas acabam se envolvendo na aventura individual; entre elas, quase sempre estão os familiares ou pessoas próximas, que vislumbram usufruir das migalhas que cairão da mesa da fama. Todos que estão no entorno desses

jovens promissores atletas se predispõem a permanecer na área da sombra do herói que está emergindo. O desejo de sucesso de um membro da família passa a ser o desejo de todos os seus membros. Essa situação, gerada pela expectativa de mudança de vida, de ascensão econômica e de status também dos agregados, é um fato recorrente nas famílias que se envolvem nesse contexto. Toda essa concentração de esforços se transforma em projetos de vida, especialmente se o jovem candidato a atleta demonstra indícios de um talento promissor.

Porém, mesmo essa soma de talento e dedicação coletiva não garante que tudo correrá às mil maravilhas. Aqui se repete o velho mecanismo das sociedades hierarquizadas verticalmente, socialmente divididas em classes sociais, com tendência estrutural à desigualdade: a cada canal de ascensão social correspondem critérios de discriminação social, para que não ocorra a universalização do sucesso, mas que ele seja potencialmente acessível a poucos. O encantamento é potencializado pela possibilidade de sucesso acenado por esses canais de ascensão social; o desencanto e a frustração são revelados pela dura realidade das “peneiras”, dos “internatos”, dos “pistolões”, dos “cartolas”, dos “empresários”, das discriminações nas escalações, das negociatas na compra e venda de passes.

Quando o pretendente reconhece a possibilidade de realizar o desejo de construir uma carreira futebolística, a atividade de jogar futebol, antes voltada para o lazer, toma outra proporção e se transforma em projeto de vida, em dever, alterando o enfoque de diversão e entretenimento para assumir o caráter de obrigatoriedade, incluído na esfera do trabalho. O futebol passa a ser, para esses aspirantes a atleta, uma profissão, uma maneira de ganhar a vida. Começa, então, uma vida de prática permanente, com afinco, ainda que, inicialmente, de maneira informal, no universo ainda da ludicidade entre colegas, mas já com o objetivo de desenvolver as aptidões elementares da modalidade, aguçando cada vez mais o desejo do profissionalismo.

A prática do esporte com os amigos, informalmente, é considerada por Venlioles (2001) como “pelada” – expressão da cultura popular que revela a inocência própria da ludicidade, da democracia e da arte – é o vestíbulo dos sonhos profissionais. Essa prática esportiva que se dava nas ruas e nos “campos de várzea” foi migrando para as quadras comerciais, para as “escolinhas”, principalmente nas grandes cidades, devido ao crescimento urbano e à especulação imobiliária. Os dribles, as fintas, os gols, a comemoração pelas vitórias, ou a derrota em uma partida, moviam as fantasias desenvolvidas nas disputas inocentes, dos amores juvenis, das competições entre

amigos. Aí se desenvolvia a criatividade, a participação, a socialização e o aprendizado “natural” das técnicas. As peladas jogadas nas ruas e nos campos de várzea se notabilizaram por serem grandes celeiros da maioria dos nossos craques. São inúmeros os relatos que apontam essas verdadeiras “escolas” de formação de atletas de futebol.

É importante contextualizar a gênese e o desenvolvimento inicial desse processo de formação do jogador de futebol que encantava as mentes juvenis. Alguns desses sonhadores eram formalmente inseridos em um programa sistematizado de detecção de talentos dos clubes, que desenvolviam o processo de recrutamento e de formação das diferentes categorias. Muitos dos adolescentes então se inscreviam nas chamadas “peneiras”, ou seja, nos mecanismos de seleção utilizados pelos clubes e que constava de simples demonstração das habilidades pelos aspirantes a atleta em jogo organizado e assistido por “olheiros” – em geral veteranos ou ex-atletas – que, atentos, escolhiam, por critérios nem sempre revelados, os afortunados que ingressavam nas “categorias de base”. Esse procedimento seletivo é um dos mais antigos, porém, ainda bastante empregado pelos clubes. A função do “olheiro”, que também pode ser um treinador, é de “garimpar”, no meio da ganga bruta, os diamantes, os jovens talentosos. “Ganga bruta” porque a quantidade de candidatos quase sempre é muito numerosa, provocando um tempo demasiadamente reduzido para que cada aspirante consiga efetivamente demonstrar suas habilidades e atrair e sensibilizar a atenção dos avaliadores.

De acordo com Moraes e Medeiros Filho (2006), as “peneiras” abarcam uma quantidade significativa de pretendentes às categorias de base dos clubes de futebol. Ressaltam também que, mesmo aprovados neste processo, muitos continuam sendo submetidos a constantes avaliações dentro do elenco de cada categoria e a cada processo de promoção de uma categoria a outra. Ainda que sejam de caráter amador, são essas categorias que qualificam os jogadores para galgarem ao último estágio, a categoria profissional. Percebe-se que as chances de se chegar ao futebol profissional são diminutas, na medida em que ocorre um verdadeiro “afunilamento” a cada obstáculo, a cada limite de categoria, até a profissionalização. O processo de ascensão às diversas categorias pode ocasionar desajustamentos emocionais e psicológicos, uma vez que a competição é muito acirrada e as reprovações são muito mais numerosas do que as aprovações, esboroando-se projetos de carreira e até mesmo de vida. É que o fracasso, dada a natureza dos processos seletivos, em geral é debitado na conta do próprio “fracassado”.

Atualmente, o processo seletivo de atletas mais comum no mundo do futebol é a indicação de um diretor, de um empresário, ou até mesmo de pessoas que exercem

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