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2. CAPÍTULO II CONCEPÇÕES ALTERNATIVAS REFERENTES AO

2.4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

2.4.3. Análise das entrevistas

2.4.3.3. Grupo C Respostas com concepções alternativas

2.4.3.3.3. Concepção alternativa relacionada à comparação de tamanho entre

A natureza complexa e abstrata do conteúdo de citologia é um dos que contribuem fortemente para as dificuldades de aprendizagem dos alunos em relação à disciplina de Biologia. Diversos estudos (CAMACHO GONZÁLEZ et. al, 2012; CARDAK, 2009; DÍAZ DE BUSTAMANTE; JIMÉNEZ ALEIXANDRE, 1996; PALMERO, 2000) apontam críticas em relação à forma como esses conceitos são ministrados em sala de aula, de modo que os aprendizes ficam limitados às imagens bidimensionais presentes em livros didáticos e não conseguem associar esses conhecimentos com o seu cotidiano e demais aspectos de sua vida escolar.

A visão tradicionalista de ensino pautada apenas na utilização de livros didáticos pode contribuir para um aprendizado baseado em memorização de conteúdo, em que os estudantes não são estimulados a buscar novas formas de conhecimento e se baseiam apenas no que é estudado em sala de aula. Em relação aos conteúdos abstratos e microscópicos, inerentes à disciplina de Biologia, o docente deve buscar estratégias para superar as dificuldades dos discentes, tendo em vista que esses fatores podem contribuir para o surgimento de erros conceituais e concepções alternativas. Nesse caso, uma das principais concepções que pode surgir se refere ao formato, tamanho e tridimensionalidade de estruturas microscópicas e da própria célula.

A análise dos desenhos evidenciou que os futuros professores, em sua maioria, não associaram o aspecto tridimensional da estrutura celular às suas representações. Também não foram capazes de desenhar com riqueza de detalhes e com a escala adequada as organelas celulares. Esse fato pode ser importante quando relacionado com as respostas obtidas pela questão que objetivava investigar se os alunos consideravam se uma proteína teria um tamanho maior do que uma célula.

Ao total, 13 licenciandos afirmaram que a proteína é maior do que a célula. Nesse caso, essas respostas podem ser caracterizadas como concepções alternativas e não apenas como erros conceituais, uma vez que os

alunos conseguiram elaborar explicações lógicas que se aplicam ao conceito dado na entrevista. Um exemplo disso foi observado na fala do sujeito C.3, que afirmou que “A proteína é maior porque a célula é a menor unidade viva. A

proteína como substância é sempre maior do que a célula, já que justamente a proteína tem que ser quebrada para entrar na célula. Então, daí ela ter que ser quebrada para entrar na célula. Se ela vier inteira a célula não vai conseguir entrar”. [sic].

A fala do entrevistado torna-se confusa no final quando ele afirma que a “célula não vai conseguir entrar”, mas tal fato reforça a ideia de que ele considera a célula menor do que a proteína. Essa concepção é equivocada, pois as proteínas, por fazerem parte de diversas estruturas celulares (como a membrana plasmática) e de processos metabólicos no interior do núcleo (duplicação de DNA, por exemplo) são, de fato, menores do que a estrutura da célula como um todo.

É importante observar que o licenciando conseguiu elaborar uma explicação que satisfaz a ideia que ele tem em sua estrutura cognitiva de que a célula é menor, pois ele associa a entrada de proteínas externas, as quais precisam ser quebradas para poderem entrar na célula. Essa explicação poderia ser associada às proteínas obtidas pela digestão, por exemplo, que poderiam ser quebradas para adentrar as células e, então, participar de outras atividades metabólicas essenciais para a manutenção da vida.

Resultados similares foram observados em estudo aplicado por Topçu e Şahin-Pekmez (2009), em que alunos de Ensino Médio de uma escola da Turquia não conseguiram ordenar estruturas genéticas em proporção adequada de tamanho (escala correta).

Outras respostas foram dadas para essa questão, como, por exemplo, o sujeito E.4, que afirmou que “Uma proteína é maior porque é um conjunto de

células.”. Nesse caso, ele estaria afirmando que um ser vivo seria uma proteína, pois um organismo é formado por um conjunto de células que se agrupam de acordo com as suas funções específicas. Se as proteínas são formadas por um conjunto de células, seria, então, possível comparar os seres vivos às proteínas, o que caracteriza outro conceito equivocado.

Já o sujeito L.3 afirma que a proteína é maior: “Proteína, porque tem

mais funções do que as células.”. Ao afirmar isso, o entrevistado está associando à proteína as funções que uma célula exerce, mas não percebe o equívoco em sua fala. As proteínas exercem variadas funções, mas todas são realizadas dentro das células, o que faz com que sejam (direta ou indiretamente) funções celulares também. Quando lembramos que as células possuem diversas outras funções que não estão diretamente ligadas às proteínas, por lógica, é possível afirmar que a concepção do aluno é errônea, pois as células teriam as funções das proteínas somadas às diversas outras que é capaz de realizar, tanto em termos de suas estruturas internas (respiração celular, por exemplo), como da célula como um todo (fagocitose para defesa contra microrganismos invasores, por exemplo).

Além disso, as proteínas são comumente divulgadas pela mídia em associação com resultados de pesquisas sobre alimentação e saúde. Os indivíduos podem associar o termo como algo que realmente está fora das células e que exercem funções específicas, como aumento de massa muscular, por exemplo. Em relação à alimentação, é comum observar indicações para se manter uma dieta balanceada e rica em proteínas, na tentativa de permanecer saudável. Nesse contexto, é possível associar uma grande divulgação das proteínas perante a comunidade sem necessariamente observar um comprometimento com os corretos conceitos científicos presentes em cada caso. Esse fato pode contribuir para o surgimento de concepções alternativas, as quais podem ser constatadas nas falas dos entrevistados.

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