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PARTICIPATIVA

3 CONCEPÇÃO ATUAL DE JUSTIÇA: JUSTIÇA

PARTICIPA-TIVA E CIDADANIA

A expressão cidadania é muito uti-lizada nos dias atuais, seja pelos pró-prios cidadãos, seja por alguns repre-sentantes do poder estatal. Mas, qual o real significado da expressão cidada-nia?Cidadania representa, antes mes-mo de uma qualidade, um estado de consciência que deve ser adquirido pelo povo, pois no Brasil, a consciên-cia de cidadania veio a se formar muito tarde e, de certa maneira, é em muito, diferente da que aconteceu na Europa do século XVIII em diante.

Nesse diapasão, para melhor en-tender o significado de cidadania, for-çoso refletir a respeito do significado do vocábulo “cidadão”, haja vista que estas expressões estão ligadas em suas raízes.

Segundo Aristóteles, o cidadão é todo indivíduo gozando dos direitos e respeitando os deveres definidos pelas leis e pelos costumes da Cidade. Neste sentido, a cidadania é o resultado de uma efetiva integração social. (Japias-su; Marcondes, 2006)

Não obstante, Herkenhoff (2004, p. 19) obtempera que cidadão é o

in-divíduo que está no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado. Faça-se, porém uma advertência: o cidadão também tem deveres para com o Esta-do. As palavras “cidadão” e “cidada-nia” hoje têm um sentido maior, tendo em vista que a sociedade evolui, o que também ocorre com a língua e com as palavras. Nesse diapasão, com a evo-lução dos acontecimentos sociais, as palavras cidadão e cidadania incorpo-raram outras dimensões.

Com efeito, nos dias atuais nos parece conveniente olhar para os signi-ficados de cidadania e cidadão, levando em consideração as dimensões do exis-tencial (ser pessoa), do social, do edu-cacional e do econômico, para se poder definir a participação dos cidadãos nos acontecimentos sociais.

Ainda, a respeito da justiça par-ticipativa que deve ser precedida da consciência de cidadania, Lafayette Pozzoli faz um questionamento perti-nente e elucidativo:

Afinal quem deve par-ticipar? Todos que vivem na sociedade, ou seja, o cidadão, aquele que tem direito a ter direitos, como por exemplo, a ter um salário justo, poder respirar um ar puro etc.

Mas também o cidadão tem obrigações por estar vivendo numa sociedade.

Uma delas é a de parti-cipar, construindo novos relacionamentos com o objetivo de superar a

“cultura do ter”, própria do individualismo, e im-plantar a “cultura do dar”, característica do solida-rismo. A não participação

do cidadão, na condução da sociedade, é passível de ser considerada uma atitude de injustiça. (PO-ZZOLLI; RAMIRO, 2007) No tocante à participação, como condição para o exercício da cidadania, Lafayette Pozzoli chama a atenção para os acontecimentos mundiais ao asseve-rar que:

[...] Para se ter uma idéia da importância que tem a participação do ci-dadão, tomando-se como exemplo a nova realidade que o mundo está viven-do, vê-se iniciar um pro-cesso de alargamento do conceito de soberania até agora conhecido (a sobe-rania é o poder que um país tem em fazer lei para ser obedecida em todo o território nacional), logo, também o conceito de ci-dadania está sendo am-pliado. Um novo conceito de cidadania que está sur-gindo em muitos lugares, especialmente na Europa.

Os italianos, os franceses, os portugueses já têm a condição de “cidadão eu-ropeu”, podendo transi-tar por toda Europa com um único documento, o passaporte europeu. (PO-ZZOLI; RAMIRO, 2007) Destarte, o jurista deve romper com o dogmatismo e a obediência fiel à lei, quando esta se mostrar injusta, de-vendo ter uma postura reflexiva, com-bativa e criativa perante o ordenamen-to jurídico, para que possa, com seu

trabalho, contribuir para a emancipa-ção dos oprimidos e para que não faça uso do direito como querem os donos do poder; isto significa dizer: o juris-ta não deve acredijuris-tar que possui uma neutralidade absoluta, sob pena de, em o fazendo, manter a dominação e fazer do direito um instrumento hegemôni-co de manutenção do status quo.

CONCLUSÃO

O objetivo almejado ao se discu-tir o conceito de justiça e de formas de acesso à justiça e participação, é o da tentativa de elucidação da questão dos vários elementos que estão inseridos nesta expressão, para que se consiga ter uma visão ampla dos vários cami-nhos que podem conduzir à justiça, mesmo com a consciência de que este pequeno ensaio é apenas uma contri-buição, pois o tema proposto é muito amplo, não sendo aqui exaurido.

Entrementes, uma postura refle-xiva dentro do universo jurídico se faz necessária, tendo em vista que o con-ceito ou a ideal justiça está muito além da lei, do direito positivado, como pre-tendem os positivistas jurídicos, bem como, o acesso à justiça não é apenas e tão-somente acesso ao judiciário como já fora salientado.

Destarte, falar em acesso à justiça é antes de qualquer coisa, falar em cons-ciência de cidadania e em participação.

Nesse sentido, o ato de pensar ou ra-ciocinar é o elemento que diferencia o ser humano. Assim, [...] para realiza-ção de qualquer atividade é necessário refletir antes. O cérebro desenvolve atividade de pensar mesmo quando se diz ter pensado de forma automática:

a pessoa para realizar qualquer ativi-dade terá de pensar. Da mesma forma é importante a reflexão para melhorar o desempenho de uma atuação

partici-pativa (Pozzoli; Ramiro. 2007), com o escopo de que um dia possamos conse-guir uma vida em sociedade mais justa, fraterna e digna para todos.

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AUTONOMIA DA VONTADE: A FICÇÃO