• Nenhum resultado encontrado

3 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

3.1 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA DAS DEPOENTES

A concepção de Educação Inclusiva constitui um novo enfoque para a educação, trazendo contribuições valiosas para a reflexão sobre a transformação conceitual a prática do sistema educacional. Segundo Mantoan a grande virada foi

Enfrentar o desafio da inclusão escolar e de colocar em ação os meios pelos quais ela verdadeiramente se concretiza. E que ensinar não é submeter o aluno a um conhecimento pronto, mas prover meios pelos quais, com liberdade e determinação, ele possa construir novo saberes, ampliar significados, na medida de seus interesses e capacidades. Envolve, necessariamente, libertar o aluno do que o impede de fazer

o seu próprio caminho, pelas trilhas do conhecimento e de valorizar todo o seu esforço para aprender (MANTOAN, 2005, P. 28).

As Concepções sobre deficiência das depoentes remetem a uma imagem depreciadora e equivocada que se cristalizou em torno da sua imagem ao longo da historia. As depoentes define deficiência como: privação, limitação, impedimento.

Margarida afirma que deficiência é como uma privação ou uma forma diferente do individuo desenvolver e relacionar-se com o mundo a sua volta, é algo indefinido que nos faz ser e agir “diferente” dos padrões impostos pela sociedade. Ainda que de maneira sutil.

Violeta, respondeu baseada no modelo social da deficiência, para ela, deficiência é ausência ou disfunção da estrutura física, intelectual, sensorial ou motora da forma permanente no ser humano, em virtude da qual ele enfrentará diversas barreiras ao longo da vida [...] em sociedade.

As falas das participantes incluíram a lesão ou impedimento de caráter físico, intelectual ou sensorial que caracteriza a deficiência e também as barreiras vivenciadas pelas pessoas que possuem tais condições. São barreiras decorrentes de uma estrutura social incapaz de atender e respeitar as diferenças. Diniz (2007) define deficiência como um conjunto de ideias que distingue anomalias, mas que também expõe um sistema social que brutaliza o deficiente. Os estudos sobre deficiência trouxeram à tona uma gama de ideias e pensamentos que escravizam o corpo com deficiência (DINIZ, 2007, p. 5).

Como apresentado, as depoentes declaram diferentes conceitos sobre a concepção de deficiência, baseadas em modelos sócias. Isso pode significar que há uma necessidade de adequação de concepções, ou seja, é necessário mais informações para aquelas professoras que ainda acreditam que ser deficiente é ser limitado, é estar impedido definitivamente de ir e vir, entre outros mitos e estereótipos frequentemente compartilhados.

Ao perguntar as participantes as concepções sobre inclusão. Margarida, respondeu que incluir é respeitar o ser humano na sua totalidade, com ou sem deficiência, é proporcionar a todos uma participação plena e ativa na vida e na sociedade, considerando a limitação de cada um. A mesma escreveu que uma educação inclusiva vai além de colocar a criança ou adolescente em uma sala de aula, criticando ações simplistas focadas apenas em trazer as pessoas com deficiências para o ensino regular, sem lhes dar as condições necessárias de aprendizagem.

Para finalizar as depoentes acrescentam que: educação inclusiva significa ampliar a participação de todos os estudantes, educando-os no mesmo contexto escolar sem distinção e apoiando-os em suas especificidades.

Violeta também respondeu que inclusão é proporcionar a todas as pessoas, independentemente de suas singularidades, o direito de aprender, de socializar, de se desenvolver, oferecendo condições que garantam sua participação de modo consciente e responsável na sociedade da qual fazem parte. Ao escrever sobre a educação inclusiva, destacou a importância de assegurar ao ser humano uma educação que respeite seu processo de construção, o tempo, o ritmo e as especificidades de cada um.

Nos depoimentos das duas professoras citadas o conhecimento se aproxima da literatura contemporânea sobre inclusão demonstrando a compreensão sobre a concepção de inclusão.

As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica afirmam que a construção de uma sociedade democrática pode ser fruto da inclusão educacional e entende-se como inclusão a certeza de que todos tenham acesso à vida em sociedade e ações de acolhimento às diferenças e igualdade de oportunidades e desenvolvimento com qualidade em todos os aspectos, sem distinções (BRASIL, 2001, p.28).

As observações e conversas informais foram importantes para perceber que o caminho para a inclusão perpassa as políticas públicas e a superação de preconceitos existentes. Evidenciam que as professoras devem buscar estratégias de aprendizagem que garantam o desenvolvimento de todas as crianças, independente de suas condições físicas, mentais, sociais, emocionais, econômicas, etc.

Destacamos ainda a necessidade do tema “deficiência” e “inclusão” ser explorado cada vez mais nas formações continuadas dos professores. O profissional de educação deve estreitar laços cada vez mais fortes com o tema da inclusão, para que este possa ter clareza na sua ação para trabalhar com as crianças “com e sem deficiências”, garantindo que todos sejam acolhidos e respeitados na sua singularidade.

O profissional da Educação Infantil precisa se basear em ações pedagogicamente inovadoras, como o tema da inclusão, para responder às diferenças individuais existentes em cada criança em sua turma que este possa ter clareza na sua ação, garantindo que todos sejam acolhidos e respeitados na sua singularidade. Percebemos que as definições das professoras têm relações com conceitos estabelecidos pelas as diretrizes nacionais (BRASIL, 2001).

3.2 FORMAÇÃO PARA INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

As participantes fizeram um breve relato sobre a formação para inclusão e o que deveria existir na formação inicial para que os professores realmente pudessem trabalhar nas escolas regulares com a inclusão.

Margarida relatou que a inclusão deveria ser pensada em primeiro lugar como formação humana, pois a escola é um espaço de convivência e que a inclusão é um elemento chave no combate a todas as formas de descriminação e que professor tem um papel fundamental como agente transformador, afirmando que as formações dos professores deveriam ser pensadas a partir das vulnerabilidades que a escola esta passando e ter compromisso com a busca da aquisição dos conhecimentos sobre os direitos humanos, desta maneira, a professora compreende que necessitaria de uma capacitação para um bom desempenho, e reconhece o valor do seu papel como agente de proteção para a inclusão sobre os direitos humanos na Educação Infantil.

Violetase referiu à formação para inclusão como uma maneira de refletir sobre a vida, porque as ações pedagógicas nas formações deveriam privilegiar as vozes daqueles que convivi e passam pelas experiências da diversidade. Ou seja, que o processo de construção da cultura de proteção para uma inclusão escolar deveria promover a defesa dos direitos.

As palavras das participantes reforçam “a necessidade de ser assegurado, nas formações dos docentes, o desenvolvimento de competências para que o ensino, de fato, seja considerado uma profissão” (GARCIA, 1999, p. 22).

As escolas e os professores não estão e não se sentem preparados para receber crianças com deficiência em suas classes regulares. (...) As crianças e os jovens que são aceitos nas escolas da rede pública de ensino tendem a abandonar a escolarização, pois as mesmas não respondem às suas necessidades. (...) E educação oferecida aos educandos com deficiência é, em geral, pobre de qualidade e mantém-se no âmbito das atividades oferecidas na famantém-se de educação infantil, isto é, atividades lúdicas e artísticas (SCS, 2003, apud BEZERRA, 2012, p.22).

As falas das participantes se aproximam aos conhecimentos do Guia de Orientação à família, Escolas e Comunidade Aprendendo sobre os Direitos das Crianças com Deficiência (SCS, 2003), a escola tem um papel fundamental para promover a formação continuada dos professores. Ou seja, uma escola que tem como objetivo cuidar das crianças e que se pretende tornar inclusiva precisara mudar a cultura e promover uma promoção dos direitos iguais para todos. Formar professores “para Incluir a todos”.

A formação continuada pode ser considerada fundamental para a atuação dos professores que atuam na Educação Infantil, favorecendo a reflexão permanente de suas concepções e práticas educativas, tendo como foco as especificidades dos afazeres educacionais.

Quando perguntamos as participantes como avaliam o próprio trabalho e da sua instituição para a inclusão.

Margaridarespondeu que: tenta fazer o melhor que pode, mas precisaria que existisse formação para as professoras, porque existem muitas dificuldades em lidar com essa criança e a falta de apoio quando as necessidades aparecem, falou também que não dá para atender a criança em sua individualidade, devido ao CREI matricular várias crianças para só um professor em sala de aula e concluiu afirmando que o professor da Educação Infantil deveria ser escutado, que precisa de capacitação para garantir o desenvolvimento de habilidades e conhecimentos necessários para atender a demanda da diversidade existente no cotidiano das escolas.

Violeta afirmou que os profissionais fazem o melhor que podem diante das adversidades encontradas no CREI, a falta de apoio para fazer um trabalho com as crianças nas suas especificidades, e que as quantidades de crianças em sala de aula impedem um trabalho adequado. Ficando frustrada por não conseguir ir adiante com o seu proposito, que é construir conhecimentos a partir da educação.

Violetarelatou que depende dos gestores, pois não tem autonomia.

Tais falas aproximam das frustações das professoras ao descreverem a necessidade para formação e capacitação continuadas, as depoentes acreditam que é inevitável para o sucesso da educação inclusiva a formação continuada. As depoentes demonstram que não percebem que são capazes e que só precisariam enfrentar o medo e aceitar as diferenças. “O novo ameaça a experiência adquirida e supõe esforço do professor e da professora para conduzirem a prática educativa” (DAL-FORNO; OLIVEIRA, 2005, p. 11). A inclusão precisa da experiência compartilhada onde os sujeitos envolvidos professor/crianças desenvolvam de modo singular e interativo, sua capacidade de autoria e de cooperação.

Perguntamos as participantes quais são as principais dificuldades e as barreiras enfrentadas nesse processo. Margarida, Violeta descreveram as mesmas opiniões a falta da formação continuada foi a principal dificuldade relatada. As barreiras estariam no currículo da Educação Infantil, pois deveriam pensar, em organizar e planejar coletivamente práticas pedagógicas dinâmicas, direcionadas as crianças, para propiciar a interatividade entre as atividades, dessa maneira as crianças seriam capazes de acolher e valorizar a diversidade.

Outra barreira citada foi à ausência dos pais, que não procuram saber do desenvolvimento dos seus filhos. As crianças precisam de pessoas que reivindiquem seus direitos, para que não prevaleça o caráter assistencialista.

Quando perguntamos as participantes: o que ainda falta para que uma verdadeira inclusão educacional aconteça?

As respostas de Margarida, Violetaforam unanimes, todas acreditam que o professor precisa estudar se qualificar, ou seja, buscar cursos de capacitação que ajudem no fazer pedagógico e na efetivação do trabalho com as crianças.

Constatamos que a formação continuada deve possibilitar aos profissionais que atuam na Educação Infantil a reflexão e a reconstrução continua e permanentes de suas concepções e práticas educativas, tendo como foco as especificidades do trabalho do professor nesta etapa educacional e as diferentes linguagens utilizadas para o conhecimento de si e do meio em que estão atuando. Identificamos que as participantes, Margarida e Violeta, têm a convicção da importância de ser um pesquisador e que precisam se qualificar para superar sua prática.

Documentos relacionados