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CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO INTEGRAL E EDUCAÇÃO EM TEMPO

No documento - ANNIÊ DA SILVA FARIAS (páginas 38-41)

2 POLÍTICAS EDUCACIONAIS E EDUCAÇÃO INTEGRAL

2.2 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO INTEGRAL E EDUCAÇÃO EM TEMPO

Em 2007, com a vigência da Emenda Constitucional n. 53/2006, regulamentada pela Lei n. 11.494/2007 e pelo Decreto n. 6.253/2007, foi implementado o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), substituindo o Fundef. Essa mudança, realizada no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, teve como objetivo financiar a educação básica, e não só o nível fundamental como ocorria com o Fundef. Tanto o Fundef quanto o Fundeb foram iniciativas do governo para tentar sanar os problemas da educação revelados em diversos fatores, sendo consenso entre pesquisadores que para a educação é preciso de investimento financeiro muito maior para alcançar um ensino público de qualidade. Porém, não podemos ignorar os ganhos com a implementação desses financiamentos.

Ainda em 2007 ocorreu, em conjunto, o lançamento do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) e do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, visando à operacionalização do PDE. O PME, instituído pela Portaria Interministerial n. 17, de 24 de abril de 2007, e pelo Decreto n. 7.083, de 27 de janeiro de 2010, compõe uma das ações do PDE com o objetivo de induzir a ampliação da jornada escolar para melhorar a qualidade da educação das escolas públicas brasileiras.

2.2 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO INTEGRAL E EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL

No contexto nacional, a discussão sobre a temática da educação integral e da educação em tempo integral se dissemina no início do século XX, com movimentos de grupos políticos, de concepções teóricas como Integralismo e Anarquismo que se manifestavam apresentando tendências educacionais como a Escola Nova (ALMEIDA; PINTO, 2013).

Ganha destaque nacional o movimento da Escola Nova, por meio do Manifesto dos Pioneiros pela Educação (1932). O manifesto objetivava a mudança da forma como a educação estava sendo entendida e realizada na época e propunha a efetivação do verdadeiro sentido social da escola pautada na democracia. A escola pública, laica, gratuita e de qualidade era a bandeira desse importante movimento voltado para a educação no Brasil.

Na concepção de educação integral presente nesse movimento, a criança/adolescente é um ser multidimensional e, por isso, faz-se necessária uma educação que atenda a essa característica. Para tal formação, as relações sociais são de fundamental importância no desenvolvimento do ser humano.

Nesse sentido, para Gonçalves (2006, p. 3):

[...] O conceito mais tradicional encontrado para a definição de educação integral é aquele que considera o sujeito em sua condição multidimensional, não apenas na sua dimensão cognitiva, como também na compreensão de um sujeito que é sujeito corpóreo, tem afetos e está inserido num contexto de relações. Isso vale dizer a compreensão de um sujeito que deve ser considerado em sua dimensão biopsicossocial.

A educação integral admite que a educação vai além da assimilação de conteúdos compartimentados e compreende a vida em sociedade como um forte caminho de aprendizagem. Para

transmitidas, mas nas relações socia

pensamento, todos têm papel fundamental na educação: o porteiro, a educadora alimentar, o assistente administrativo, sendo todos educadores no espaço escolar, e a participação da comunidade na escola só enriquece mais o processo de aprendizagem.

A educação de tempo integral se caracteriza pela ampliação do tempo na escola, o que não proporciona necessariamente desenvolvimento integral do sujeito. A ampliação da jornada escolar se mostra uma tentativa

específicas de políticas sociais p. 17).

Conforme Cavaliere (2007), o governo, em sua concepção democrática, percebe o tempo integral como um aspecto positivo e como uma ferramenta da escola para emancipação dos estudantes. Dessa forma:

[..]o tempo integral seria um meio a proporcionar uma educação mais efetiva do ponto de vista cultural, com o aprofundamento dos conhecimentos, do espírito crítico e das vivências democráticas. A permanência por mais tempo na escola

garantiria melhor desempenho em relação aos saberes escolares, os quais seriam ferramentas para a emancipação. (CAVALIERE, 2007, p. 1029).

Apesar dessa afirmação, não podemos garantir que a criança aprenda mais por ficar tempo a mais na escola. Se as atividades pedagógicas não estiverem de acordo com a proposta de tempo integral, de nada adiantará o período longo de permanência na escola. A ociosidade e a não intencionalidade nessa permanência pode apenas privar as crianças de possíveis aprendizagens fora do contexto escolar e, pior, castigá-las duplamente em uma jornada maçante, como a que se tem hoje na escola. Sendo assim, qual o sentido de uma ampliação do tempo na escola, se não for levado em consideração o currículo e a intencionalidade no ensino?

Gadotti (2009) parte da concepção de que estamos constantemente nos educando e que, por isso, falar em educação de tempo integral seria uma redundância, pois nas experiências e nas relações do dia a dia com a família, na rua, há sempre uma constante aprendizagem. Mas, também, afirma que a escola de tempo integral pode proporcionar atividades diferentes do que se tem ensinado nas escolas de horário convencional.

A escola de tempo integral deve proporcionar estudos complementares e atividades de esporte, cultura, lazer, estudos sociais, línguas estrangeiras, cuidados de saúde, música, teatro, cultivo da terra, canto, ecologia, artesanato, corte e costura, informática, artes plásticas, potencializando o desenvolvimento da dimensão cognitiva e ao mesmo tempo afetiva e relacional dos alunos, entre outras.

(GADOTTI, 2009, p. 38).

Estudiosos como Teixeira (2004) e Moll (2012) defendem que é praticamente inviável pensar em educação integral sem a ampliação da jornada escolar. Para Coelho (2004), a ampliação do tempo na escola deve construir tempo qualitativo, que subsidie uma formação mais completa para o aluno enquanto ser social, cidadão. Outros teóricos, como Cavaliere (2007), acreditam que a educação independe da extensão do tempo na escola, pois o êxito está na significação da aprendizagem,

Uma discussão comum que ocorre quando se fala em educação integral e educação de tempo integral é a necessidade da estrutura para tal acontecimento.

A implantação do tempo integral nas escolas exige preparo técnico-político e formação, tanto dos pais quanto dos alunos, dos professores e demais funcionários se a sua implantação não for cuidadosamente preparada, pode levar ao fracasso. (GADOTTI, 2009, p. 36-37).

É recomendável que a escola possua estruturas física e pedagógica para atender a criança em tempo integral. A implementação de uma escola de educação integral ou de tempo integral requer um projeto pedagógico específico, um currículo diferenciado, espaços para realização de atividades que estejam previstas no cotidiano, como alimentação, asseio, repouso, recreação, entre outros.

Podemos definir, de forma geral, que educação integral é uma concepção de educação. Ela não tem uma fórmula certa para ser realizada e pode ser entendida como um princípio orientador de todo o currículo, como a educação ministrada em tempo integral ou como uma educação qu

2009, p. 41). E tempo integral pode vir a ser uma política de educação para a ampliação da jornada escolar. A seguir, apresentamos os principais aspectos legais que demonstram esforços para viabilizar a educação integral e o tempo integral na educação brasileira.

No documento - ANNIÊ DA SILVA FARIAS (páginas 38-41)