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A concepção de intervenção e princípios teóricos na acção educativa na Creche e em Jardim de Infância

Parte III Concepção da acção educativa

3.2 Fundamentos da acção educativa da equipa na educação de infância

3.2.3 A concepção de intervenção e princípios teóricos na acção educativa na Creche e em Jardim de Infância

Os princípios que adotei ao longo do estágio, têm a ver com o modelo High Scope, com alguns princípios postos em prática pelas educadoras cooperantes e de acordo com o que aprendi ao longo do curso relacionado com as duas valências.

A minha intervenção tem por base uma concepção da criança em que tem interesses particulares, expressa afectos e emoções e ainda que a aprendizagem deve partir da criança e dos seus interesses seguindo um ritmo próprio.

A minha prática assenta três pontos fulcrais como concepção defendidos também pela educadora de infância e autora Marília Mendonça (1994). Esta educadora de infância propõe um projecto de relação, um projecto de fazer e ainda um projecto de interacção com a comunidade. Na prática tinha objectivos a alcançar como educadora em formação, e a minha acção vai apoiar as aprendizagens das crianças.

Mendonça (1994) refere uma intervenção não directiva: como um projecto de relação e este assenta na criação de um ambiente acolhedor, uma aceitação da criança tal como ela é e respeitando-a. Para criar tudo isto é necessário uma atitude de “empatia de identificação com os valores da criança, autenticidade (...) A educadora (...) afirma- se tal e qual é” (Mendonça, 1994, p. 38) Deve então estabelecer-se com as crianças uma relação interpessoal onde somos nós próprias, mostrando sentimentos e demonstrando quem somos.

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Um exemplo deste tipo de intervenção na minha prática foi o facto de na apresentação das fotografias a ambos os grupos do que se tinha passado durante o dia ou semana, que era feita no meu computador, ter em atenção de alterar a fotografia do ambiente de trabalho com fotografias minhas (namorado, amigos e familiares), o que suscitava sempre conversas sobre mim.

Mendonça (1994) define também a intervenção pela criação de projecto: um projecto de fazer, que neste âmbito não se refere exactamente à metodologia de projecto, mas ao facto de fazer o que as crianças pretendem de acordo com os interesses. Aqui a equipa observa e entende as crianças e para isso encoraja-as a fazer o que pretendem colocando à sua disposição materiais e ajudando-a a arranjar soluções, valorizando as produções de realização em vez do produto final, porque a aprendizagem activa procura dar mais valor ao processo de aprendizagem.

Como exemplo desta postura refiro o interesse das crianças de J.I por fantoches e a sua construção com a disponibilidade de materiais e apoio na concretização. Em creche o facto de gostarem de mexer em terra foi o ponto de partida para a criação da caixa de areia na sala.

O terceiro e último ponto tem a ver com uma intervenção pelo contacto com a realidade física e social: um projecto de intervenção com a comunidade. Define-se pela parceria do centro educativo com a comunidade, logo a educadora parte da realidade e selecciona os melhores recursos humanos e institucionais. A comunidade também participa no centro educativo através da família entre outros.

Exemplo desta componente foi o facto de ter havido diversas saídas com os meninos de ambas valências como: a Biblioteca Municipal de Évora, o Museu de Évora, os Correios entre outros, bem como a participação dos pais nas comemorações do dia do pai, dia da mãe, dia da família e ainda na entrega de diversos materiais e o facto da instituição acolher estagiárias.

Ao longo do tempo determinei a rotina como orientação do meu trabalho em ambas as valências, porque assim conseguia estabelecer uma planificação mais completa e equilibrada de forma a criar mais segurança para as crianças criando-lhes autonomia e havendo momentos de escolhas delas e propostas de enriquecimento da minha parte segundo as minhas observações.

A educadora F. tal como eu valorizávamos muito o processo, porque é possível fazer-se tudo com as crianças mas têm de ser eles a fazer, o que se reflecte por exemplo nos momentos de culinária onde dividíamos as crianças em dois pequenos grupos e cada

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uma de nós apoiava um grupo e era feita uma receita onde eram as crianças que faziam, que mexiam, que experienciavam, porque o mais importante é elas contactarem com o material e não apenas ver. O princípio presente nesta ideia é da aprendizagem activa.

Para haver aprendizagens ricas defendo que as crianças têm de experimentar por elas mesmas, e na prática tinha como ponto fulcral a brincadeira (interacção adulto- criança) e a exploração como a base essencial para a aprendizagem.

Relativamente ao modo de planificar tinha como apoio as observações feitas das crianças nos tempos de escolhas livres e depois através da conversa entendíamos algumas das propostas que poderiam surgir. Estas eram por vezes o enriquecimento da sala com algum material que desse oportunidade às crianças de evoluir ou planear uma interacção mais intencionalizada com determinada criança de acordo com as suas necessidades.

Nas planificações cooperadas tínhamos sempre em conta as experiências-chave para criar uma integração do currículo e também a componente lúdica tinha de estar presente como forma de cativar as crianças, sendo que a explicitação do que iria possivelmente acontecer ou ser introduzida na sala era explicado às crianças e tinha de fazer sentido.

Exemplo desta valorização da explicitação ao grupo foi a introdução da caixa de areia na sala de creche, onde disse aos meninos que os tinha visto a brincar na horta com a terra e que eles gostaram muito, mas como não podíamos ir todos os dias à horta passamos a ter areia na sala para brincarem.

Um ponto principal na minha intervenção em jardim-de-infância foi a rotina porque tornei-a mais consciente pelas crianças o que foi bastante positivo, uma vez que na PES I não era feito o tempo de planear fazer e rever. As crianças distribuíam-se após a reunião, onde eram marcados os quadros, pelas áreas da sala e havia sempre um trabalho na mesa proposto pela educadora onde as crianças iam circulando, ou seja, quando umas terminavam eram chamadas outras para fazerem. Estes trabalhos eram na maioria das vezes iguais para todos e não permitiam margem de pensamento ou criação por parte da criança.

Ao longo da minha prática não segui este tipo de acção com as crianças, porque entendo que é dando oportunidade de escolha à criança, criando nelas mais envolvimento e curiosidade em aprender sozinhas e na interacção com as pessoas e materiais que são aprendizes activos.

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Ao longo do estágio, em ambas as valências, ouvia as crianças e partia das propostas emergentes planificava a minha acção em vez de actividades direccionadas.

Nas planificações cooperadas tínhamos sempre em conta as experiências-chave do modelo de forma a abarcar todas elas e a criar uma integração do currículo e também a componente lúdica tinha de estar presente como forma de cativar as crianças, sendo que havia explicitação do que iria acontecer.

As ligações com a família são fulcrais para ambas as educadoras e também para a própria instituição e para mim que encaro como benéfico para a acção educativa.