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Este fator, através da análise fatorial, é resultado da correlação das assertivas

10, 11 e 19. A consistência interna entre as assertivas, medida através do Alpha de

Cronbach, é de 0,5490, um valor bem abaixo do recomendável de 0,6. Entretanto, se excluirmos a assertiva 19, a consistência interna do fator aumenta para 0,6853. Dessa

forma, torna-se plausível a análise deste fator considerando pertinente somente as assertivas 10 e 11. A assertiva 19 não será excluída do questionário, sendo interessante mantê-la caso este seja aplicado a outro grupo de respondentes. A análise da assertiva 19 em separado será realizada ao final deste fator.

A associação das assertivas 10 e 11 enfatiza a relação entre investimentos em ciência para a solução de problemas ambientais. É a concepção de linearidade do desenvolvimento científico presente no ideário dos respondentes, assim como o existente no fator 01. A diferença se encontra na especificidade do problema no fator 04. É a ciência e a tecnologia trabalhando para resolver um tipo de problema específico e que está sendo muito discutido na mídia, a questão ambiental. Para entender o posicionamento dos professores em relação a este ideário vamos analisar a freqüência de concordância com as assertivas 10 e 11 presentes na tabela 13.

Assertiva Concordo Plenamente (1) Concordo (2) Indiferente (3) Discordo (4) Discordo Plenamente (5) Mediana

10) É essencial investir em ciência para que se possa fazer avanços

tecnológicos. 56,8% 36,0% 2,4% 2,8% 2,0% 1,00 11) A ciência e a tecnologia podem

resolver problemas ambientais como a

poluição. 38,6% 45,9% 3,3% 9,3% 2,8% 2,00 19) As políticas públicas são melhores

quando decididas por especialistas. 10,2% 39,0% 13,4% 28,9% 8,5% 3,00

Tabela 13 – Freqüência de concordância para as assertivas do fator 04.

Nitidamente, a resposta para as assertivas 10 e 11 se polarizou para a concordância, com mais de 80% para cada uma delas. Se contextualizarmos a temática, ao citar que a questão ambiental está sendo amplamente discutida tanto em nível mundial quanto em nível regional, podemos extrair justificativas interessantes para essa concordância tão acentuada. Em nível mundial, o Prêmio Nobel da Paz do ano de 2007 foi entregue a um defensor de uma causa ambiental, o aquecimento global. O questionário foi aplicado entre um e dois meses antes do anúncio do ganhador do prêmio, entretanto o Nobel é reflexo de uma tendência já em voga, o grande aumento da preocupação com o meio ambiente.

Em nível regional, há pelo menos quatro anos, é desenvolvido um projeto nas escolas estaduais denominado Projeto Água. A cada ano este projeto foca uma determinada temática específica sobre o desenvolvimento sustentável, sendo que a primeira foi a água, estando presente ainda a poluição e o aquecimento global (SÃO PAULO, 2004). Assim, a temática poluição faz parte do cotidiano docente do grupo de professores estudado.

No senso comum, há dois focos de ação para o combate à poluição. Um primeiro é o bordão “faça a sua parte”, no qual cada indivíduo é responsável pelo seu consumo, devendo economizar água e energia, reciclar o lixo, usar transporte público etc. Esse foco é muito usado na educação ambiental, entretanto há questionamentos sobre a sua eficácia (JACOBI, 2004).

Por outro lado, novos desenvolvimentos tecnológicos apontam para soluções pontuais envolvidas neste problema, como por exemplo as energias limpas (solar e eólica), a dessalinização da água do mar e o reuso do lixo pelas indústrias. A crença de que a ciência e a tecnologia podem resolver os problemas ambientais é enfatizada pela concordância com a assertiva 11, podendo ser uma justificativa para a perda de eficácia da educação ambiental com foco no “faça a sua parte”. Com a concordância dos respondentes a esta assertiva podemos perceber uma certa perspectiva salvacionista para casos específicos (poluição, neste caso).

Entretanto, ambos os focos citados excluem os interesses que existem por trás de cada ação em prol do meio ambiente. É um jogo de interesses com valores distintos envolvidos, muitas vezes regidos por objetivos econômicos. Esta terceira maneira de olhar aproxima-se do enfoque CTS, principalmente no quesito tomada de decisões, ao ponto de se adicionar o meio ambiente a este enfoque, denominando-o de CTSA14

(SOLBES & VILCHES, 2004).

Já a concordância com a assertiva 10 reflete a expectativa da concepção linear de desenvolvimento. Os respondentes crêem que o desenvolvimento tecnológico ocorre somente se há desenvolvimento científico. A aproximação desta assertiva com a

assertiva 11 confirma uma perspectiva salvacionista da ciência, com esta trabalhando em prol das melhorias ambientais. Segundo os respondentes, para se resolver a poluição é necessário que se invista em ciência.

Por fim, em relação à assertiva 19, houve uma significante predominância da concordância (49,2% contra 37,4% de discordância) do público respondente em relação à afirmação de que especialistas tomam as melhores decisões políticas. Entretanto, os especialistas tendem muitas vezes a ultrapassar os limites de sua especialidade e opinar sobre assuntos fora do seu âmbito. Neste caso, é mais evidente a sua ação carregada de interesses próprios, como qualquer outro grupo social com menos influência. Ainda que não analisada juntamente com as assertivas deste fator 04, a assertiva 19 condiz com a assertiva 11 quando possibilita legitimidade aos cientistas nas decisões de fora do âmbito científico e tecnológico.

Há uma diferenciação significativa de respostas de acordo com a área que os respondentes lecionam em relação a esta assertiva 19. Os professores da área das Ciências Humanas discordam, segundo o teste de Mann-Whitney, dos professores das áreas das Ciências da Natureza e Matemática (p = 0,025) e Linguagens e Códigos (p = 0,012). Perceberemos melhor essa discordância através da tabela 14:

Grupo Concordo Plenamente (1) Concordo (2) Indiferente (3) Discordo (4) Discordo Plenamente (5) Total Respondentes Pedagogia 4 20 10 16 8 58

Ciências da Natureza e Matemática 8 38 8 25 3 82

Ciências Humanas 3 8 5 13 5 34

Linguagens e Códigos 10 29 10 15 4 68 Tabela 14 – Quantidade de respondentes por categoria de resposta na assertiva 19

em função da área em que leciona.

Os professores da área de Ciências Humanas tendem a ser mais críticos sobre a opinião de especialistas em políticas públicas. Uma justificativa para tal pode ser a própria formação social com a percepção de que camadas sociais menos favorecidas também possuem seus interesses e valores que não podem ser desprezados. Contrariamente, os grupos das Ciências da Natureza e Matemática e Linguagens e

Códigos tendem a valorizar o conhecimento dos especialistas perante as outras classes sociais.