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PARTE II: O PROCESSO DE INSTALAÇÃO DA UHE FOZ DO CHAPECÓ

3.1 A concepção de um projeto hidrelétrico

Nesta seção – assim como nas seguintes – analisaremos uma parte da rede social apresentada no início deste trabalho tendo em vista o conjunto. Barnes (1987, p. 166) ajuda a esclarecer melhor o que estamos pretendendo neste caso através do que ele chama de “rede parcial”, que seria “qualquer extração de uma rede total, com base em algum critério que seja aplicável à rede total”, que, no caso em que estudamos, pode ser um critério ambiental, político ou econômico, por exemplo. Neste sentido, o autor vai falar em “conjuntos-de-ação”, através dos quais os agentes irão se relacionar temporariamente coordenando suas ações em torno de objetivos comuns (Ibid., p. 180-181).

Paralelamente, Mayer (1987, p. 141) explica que o “conjunto-de-ação” pode ser tomado como uma entidade limitada, mas não como um grupo, tendo em vista que “a base que sustenta a interconexão entre os indivíduos é especificada em cada caso, e não há relações de direito ou obrigação abrangendo todos os indivíduos envolvidos”. Seguindo nas idéias do autor, podemos

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obter um complemento enriquecido pelo termo “ego”, sem o qual, “o conjunto-de-ação não existe, e ao redor do qual ele se constitui” (Ibid., p. 141). No caso em estudo “ego” será entendido como os agentes propulsores das ações de cada rede parcial que submeteremos à analise.

Em outras palavras, podemos dizer que a rede parcial que analisamos nesta seção, da mesma forma como as analisadas nas seções subsequentes, compreendem conjuntos-de-ações que reúnem números limitados de agentes sociais cujas ações são compreendidas a partir dos respectivos agentes propulsores das ações, através dos quais cada rede parcial deve ser analisada separadamente mas tendo em vista o contexto da rede social total.42

No caso da rede social UHE Foz do Chapecó, esta seção trata de analisar a “rede parcial” (Figura 15) referente à concepção da UHE Foz do Chapecó enquanto projeto político e econômico. O conjunto de ação enfatizado reúne o Ministério de Minas e Energia (MME), o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o consórcio responsável pela obra, a Foz do Chapecó Energia S.A (FCE), agente segundo o qual o conjunto-de-ação se conecta nesta rede parcial, sobretudo através de critérios econômicos e políticos.

42 Este embasamento teórico-metodológico servirá de apoio também para as seções subsequentes quando “redes

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Figura 15 – Rede parcial UHE Foz do Chapecó

Fonte: Elaborado pelo autor.

Antes de discutirmos as relações propriamente ditas, precisamos assinalar dois aspectos da rede social que podem ser explicados a partir desta parte em evidência. Primeiro, em relação aos agentes, embora sejam enfatizados os assinalados na rede parcial (Figura 15), uma série de outros agentes é mencionada ao longo da seção sem que estejam incluídos na representação feita neste trabalho. Isto se explica através a partir de uma característica de expansividade inerente à rede segundo a qual são possíveis ligações contínuas entre os agentes de forma que a representação da totalidade se torne impossível. Isto leva ao segundo aspecto que se refere ao espaço. Conforme mencionado no primeiro capítulo, a rede promove a interface entre o global e o local a partir de agentes que podem ser instituições internacionais como o Banco Mundial ou empresas nacionais como a Companhia Estadual de Energia Elétrica (RS) de forma recíproca,

BNDES FCE MMA MME UHE FOZ DO CHAPECÓ

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reforçando a relação entre o global, o nacional, o regional e o local (SANTOS, 2004) apresentada anteriormente.43

Em determinado momento começam a circular rumores de que uma usina hidrelétrica poderá ser instalada em determinada região. No caso aqui estudado, esses rumores começaram a circular na região já em 1966 quando eram realizados estudos na bacia do rio Uruguai através do Comitê de Estudos Energéticos da Região Sul - ENERSUL, sob a supervisão da Canambra, mesmo sem precisar os locais específicos para as usinas. No período de 1977 a 1979, esses estudos foram retomados pela Eletrosul/CNEC gerando o inventário do potencial hidrelétrico da bacia do rio Uruguai conforme mencionado na primeira parte do trabalho. Entre os anos de 1983 e 1985 a ELETROSUL realizou o estudo de pré-viabilidade da UHE Itapiranga concomitantemente ao desenvolvimento do estudo de pré-viabilidade da UHE Iraí que se pretendia instalar em algum ponto do rio Uruguai nas proximidades do município do mesmo nome. Naquela ocasião o projeto foi rechaçado pela população da região, tendo em vista, principalmente, a possibilidade de inundação dos municípios catarinenses de Águas de Chapecó e São Carlos.

Do insucesso da década de 1980, os boatos e especulações sobre a instalação de uma usina hidrelétrica na região nunca terminaram. Toda vez que a população local sabia da presença de pessoas desconhecidas com aparelhos de topografia ou simplesmente transitando pelas barrancas do rio, os boatos ganhavam nova força, sempre com informações desencontradas que alimentavam a incerteza e não permitiam o esfriamento do debate. Embora a notícia da instalação de uma obra da envergadura como uma usina hidrelétrica cause efervescência na sociedade local, é preciso compreender como se dá o nascimento deste projeto a fim de vislumbrarmos as possibilidades de sua realização.

Retomando a idéia de projetos políticos anunciada no primeiro capítulo, partimos do pressuposto da hegemonia do projeto neoliberal no contexto global. Segundo Octavio Ianni (1997, p. 139-140) “o neoliberalismo é bem uma expressão da economia política da sociedade global” no sentido de que é este que “sintetiza a ciência econômica global, que informa, fundamenta e organiza os movimentos do capital em escala global”. Na mesma linha, Dagnino, Olvera e Panfichi (2006, p. 55) explicam que nesta perspectiva, “o primado do mercado,

43 Neste caso, optamos por apresentar um mapa (Figura 19) com a disposição dos agentes sociais de forma a

evidenciar a relação global/local nesta seção, tendo em vista o recorte arbitrário feito a partir dos objetivos da pesquisa além da característica de expansividade permanente inerente às redes sociais.

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enquanto organizador da economia, é visto como devendo se estender ao conjunto da sociedade; a busca de eficiência e de modernização passa então a legitimar a adoção do mercado como organizador da vida social e política”.

Nesta perspectiva, no que diz respeito à eletricidade, podemos dizer que esta se apresenta como ponto estratégico da economia global. Primeiro, no que diz respeito à lógica de mercado, pelo do fato de se tratar de um produto que não tem como ser estocado, ou seja, à medida que vai sendo produzido (geração, no caso da hidrelétrica) é transportado pelas linhas de transmissão até o destino de consumo, o produtor – quando este não é o próprio consumidor (autoprodutores) – tem garantido o “aceso imediato” ao lucro. Esta certeza do fluxo do produto no mercado se explica por dois motivos, primeiro, sob a praxe de que as hidrelétricas ao receberem as Licenças de Operação já têm toda a sua capacidade de geração potencialmente contratada, o que é um privilégio que não se aplica à imensa maioria dos produtos; segundo, é que a própria dinâmica do capital ao orientar aspectos de vida social pelo viés de mercado, criando demandas que são tomadas como progressos no estilo de vida que estão diretamente ligados à disponibilidade de energia elétrica, mantém vivo o ciclo que, como já mencionamos, relaciona desde empresas de pesquisa, da construção civil e de equipamentos elétricos e eletrônicos.

Sem discutir a dicotomia necessário/supérfluo de aparelhos de transporte (elevadores, metrô), comunicação (celulares, computadores) e moradia (condicionadores de ar, eletrodomésticos), é pertinente observarmos que, ao passo que o “homem primitivo” consumia em média 2.000 Kcal/dia, relacionados à alimentação e transporte, o “homem tecnológico”, mais aparelhado, consome em média 230.000 Kcal/dia, o que evidencia a relação entre a idéia de desenvolvimento social fomentada pela ótica do mercado e a importância da energia, que no caso do Brasil, somado à vocação hidrelétrica (capítulo 2) garante a continuidade e o avanço do setor hidrelétrico (GONÇALVES JR., 2007). Com isto, não estamos defendendo a volta ao período primitivo, mas, salientando que a demanda crescente de energia, o que, no limite, significa a instalação de mais hidrelétricas, merece ser compreendida, em boa parte, pelo viés de uma motivação de mercado segundo a qual a demanda de energia é alimentada e alimenta o mesmo mercado.

Ao abordarmos a questão pretendendo um sentido global, precisamos ter em vista a flexibilidade que os temas assumem por esta ótica. Disto, chamamos a atenção para um problema que é inerente às análises desta natureza, a tendência de, ao querer evidenciar a onipresença dos

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temas, corremos o risco de concebê-los de forma solta, como se fossem forças que pairam no ar, o que, para a compreensão dos efeitos práticos, acaba sendo insuficiente. Portanto, é preciso evidenciar que, embora se acredite numa tendência global do capitalismo, referida anteriormente, prima-se pelo apontamento dos lugares e instituições onde esta tendência, se não se origina, pelo menos pode ser percebida concretamente e ao passar por esses pontos tende a prolifera-se pelo globo.

De modo geral, na perspectiva que seguimos, mencionamos instituições como o Banco Mundial ou Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e a Organização Mundial do Comércio (OMC), como instituições legítimas e capazes de propor ações em diferentes partes do mundo. No caso específico da hidreletricidade, o Banco Mundial, através da Comissão Mundial de Barragens, apresenta diretrizes que precisam ser seguidas para que os empreendedores de diferentes partes do mundo possam recorrer ao apoio financeiro do Banco. No caso do Brasil, embora não se exclua a ligação entre o Banco Mundial e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por ser este o apoiador das obras atualmente, as recomendações do Banco Mundial não são tomadas como incondicionais, ao passo que, no tocante à OMC, é importante a menção da chamada “Teoria do Consenso”, segundo a qual, “os Estados são convocados a planejar e executar políticas „coerentes‟ para a sua gestão macro- econômica; para o serviço de infra-estrutura e para a administração de seus mercados internos” (GONÇALVES JR., 2007, p. 10).

Para compreendermos o caso brasileiro, partimos da idéia de Ribeiro (1991, p. 102) de que as hidrelétricas, enquanto projetos de “grande escala”, “são oportunidades únicas para se promover, num contexto regulamentado, a articulação do capital internacional e nacional sob a supervisão de diferentes Estados nacionais e de organizações supranacionais”, sendo que o “consórcio é a entidade social, econômica e política concreta que opera esta articulação”. Disto, é importante fazermos uma abordagem, tanto sobre o Estado quanto sobre as empresas, segundo a perspectiva do autor.

Quanto ao Estado nacional, este é um agente social importante na articulação do capital internacional, que pode ser compreendido neste papel a partir da perspectiva de Poulantzas (1981, p. 152-153) quando o autor afirma que

o estabelecimento da política do Estado deve ser considerado como a resultante das contradições de classe inseridas na própria estrutura do Estado (o Estado-relação).

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Compreender o Estado como a condensação de uma relação de forças entre a frações de classe tais como elas se expressam, sempre de maneira específica, no seio do Estado, significa que o Estado é constituído-dividido de lado a lado pelas contradições de classe. Isso significa que uma instituição, o Estado, destinado a reproduzir as divisões de classe, não é, e não pode ser jamais, como nas concepções do Estado-coisa ou Sujeito, um bloco monolítico sem fissuras, cuja política se instaura de qualquer maneira a despeito de suas contradições, mas é ele mesmo dividido. Não basta simplesmente dizer que as contradições e as lutas atravessam o Estado, como se se tratasse de manifestar uma substância já constituída ou de percorrer um terreno vazio. As contradições de classe constituem o estado, presentes na sua ossatura material, e armam assim sua organização: a política do Estado é o efeito de seu funcionamento no seio do Estado.

Esta perspectiva nos possibilita entender as contradições deste agente ao longo do processo de instalação de uma hidrelétrica, sendo que este processo precisa ser considerado a partir de aspectos como a relação entre os ministérios do meio ambiente e de minas e energia na instalação de uma obra como esta. Na mesma linha, mas referindo-se ao capital privado, é pertinente a idéia de Castells (2003, p. 232) quando o autor afirma que

Com a rápida transformação tecnológica, as redes – não as empresas – tornam-se a unidade operacional real. Em outras palavras, mediante a interação entre a crise organizacional e a transformação e as novas tecnologias da informação, surgiu uma nova forma organizacional como característica da economia informacional/global: a empresa

rede. [...] proponho o que acredito ser uma definição (não-nominalista) potencialmente

útil da empresa em rede: aquela forma específica de empresa cujo sistema de meios é

constituído pela intersecção de segmentos de sistemas autônomos de objetivos. Assim,

os componentes da rede tanto são autônomos quanto dependentes em relação à rede e podem ser uma parte de outras redes e, portanto, de outros sistemas de meios destinados a outros objetivos.

A afirmação do autor, além de corroborar a importância do “consórcio” apresentada por Ribeiro (1991) para o entendimento da questão, assinala a perspectiva relacional, que, neste trabalho, enfatizamos através da simbiose entre estatal e privado. Então, a partir das idéias dos autores citados acima, percebemos a natureza relacional da instalação das hidrelétricas, tanto no que diz respeito às escalas de ação – global/local – quanto aos agentes sociais envolvidos. Para ilustrar o que estamos falando e avançarmos sobre o caso específico, apresentamos o quadro dos acionistas das principais hidrelétricas da bacia do rio Uruguai (Figura 16):

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Figura 16 – Acionistas das principais UHEs da bacia do Rio Uruguai

P ass o F u n d o 100% Itá 69% 29,5% 1,5% Ma ch ad in h o 19,74% 80,26% 33,13% 30,99% 9,98% 6,76% 6,65% 6,35% 3,28% Qu eb ra Qu eix o 59% 41% B ar ra Gr an d e 42,2% 25,1% 15% 9% 8,8% Ca m p o s No v o s 48,7% 24,7% 20% 6,5% M o n jo li n h o 100% F o z d o C h ap ec ó P ai Qu erê Consórcio Grupo Empresarial Pai Querê 44,7% 20% 15,4% 15,4% 4,5% 51% 40% 9%

136 Em processo licitatório.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de “sites consultados” (Ver Referências).

Pelo exposto no quadro acima é possível assinalarmos alguns pontos importantes da inserção dos projetos hidrelétricos no Brasil, especialmente na bacia do rio Uruguai a partir da compreensão do atual contexto político e econômico, retomando alguns pontos anunciados na primeira parte do trabalho, o tempo, o espaço e os agentes sociais.

Quanto ao tempo, se considerarmos que as UHEs Passo Fundo e Itá foram instaladas ainda no período de predominância estatal no setor hidrelétrico, o avanço do projeto neoliberal alterou a composição acionária das usinas já instaladas, tanto que estas pertenciam à ELETROSUL e foram privatizadas, sendo que já a partir da instalação da UHE Machadinho, a forma de consórcios de empresas passou a predominar. A análise deste fator permite um panorama da evolução política da hidreletricidade no aspecto estrito, mas também da política nacional de forma mais ampla, conforme apresentado na primeira parte do trabalho quando discutimos o panorama da hidreletricidade no Brasil.

Quanto ao espaço, percebemos que embora as usinas estejam espalhadas pela bacia hidrográfica (Figura 6), há uma repetição de consorciações em diferentes usinas como é o caso da CPFL e da CEEE, sem contar que, se considerarmos o Sistema Interligado Nacional (SIN) (Figura 5), as empresas repetem as alianças ou participam de outros consórcios com empresas diferentes, como é o caso de Furnas, o que confere à empresa barrageira o know how e a flexibilidade econômica que favorece em muito a expansão do setor através da instalação de novas usinas.

Quanto aos agentes sociais dois aspectos são fundamentais, primeiro, é que a dicotomia Estado/Iniciativa Privada não dá conta de explicar a composição acionária atual; segundo, é que a partir das características dos acionistas, é possível compreendermos os objetivos desses projetos. Empresas do setor metalúrgico como a Alcoa, por exemplo, têm na energia um componente que assume status de matéria-prima, dada a alta demanda de energia para o beneficiamento da bauxita, componente básico do alumínio. Segundo a Associação Brasileira do Alumínio (ABAL), o Brasil, “além da terceira maior jazida de bauxita do planeta, é o quarto maior produtor de

Itap

iran

g

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alumina e ocupa a quinta colocação na exportação de alumínio primário/ligas.”44

Além disso, precisamos considerar a importância de empresas que não figuram como acionistas nas hidrelétricas, mas que ocupam lugar de destaque como a ENGEVIX, no setor de planejamento e responsável pelo EIA/RIMA da UHE Foz do Chapecó, além da Voith-Siemens e da Alstom, esta inclusive a fornecedora das turbinas da UHE Foz do Chapecó.

Para compreendermos melhor a composição e a natureza das relações entre os agentes sociais acionistas dos projetos hidrelétricos e seguirmos no caso abordado neste trabalho, convém avançarmos na composição acionária específica da UHE Foz do Chapecó.

Embora estudos preliminares já viessem sendo feitos desde a década de 1970, quando a ELETROSUL apresentou o Inventário para a bacia hidrográfica, no qual a referida usina denominava-se UHE Iraí e estava prevista num ponto a jusante do atual projeto, foi através do Edital de Leilão n° 002/2001 que a ANEEL realizou a licitação que outorgou a “CONCESSÃO DE USO DE BEM PÚBLICO PARA EXPLORAÇÃO DE APROVEITAMENTOS HIDRELÉTRICOS (AHE)”, dentre os quais estava o então AHE Foz do Chapecó (Grupo E). O grupo vencedor do referido leilão no que diz respeito ao AHE Foz do Chapecó passou por reformulações até que constou da seguinte composição atual (Figura 17):

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Figura 17 – Acionistas da UHE Foz do Chapecó

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de “sites consultados” (Ver Referências).

Segundo a Lei no 11.079, de 30 de dezembro de 2004, que estabelece as normas gerais para as Parcerias Público-Privadas (PPP), os projetos hidrelétricos serão conduzidos pelas respectivas Sociedades de Propósitos Específicos (SPE), que têm sua criação em virtude daquela usina que pretendam instalar e operar. Embora o quadro sobre os acionistas da UHE Foz do Chapecó seja auto-explicativo, convém um breve relato acerca desses agentes.

No caso da UHE Foz do Chapecó ressaltamos a simbiose Estado/Iniciativa privada que se concretiza na SPE consorciando FURNAS, empresa vinculada à ELETROBRAS (governo federal), a CEEE (vinculada ao governo do estado do Rio Grande do Sul) e a CPFL, que requer uma explicação mais detalhada. A CPFL consta de uma holding (conglomerado de empresas que podem ser do mesmo ou de diferentes setores da economia) que representa bem a natureza da empresa hidrelétrica. Primeiro, formando a VBC Energia, está o Grupo Bradesco, um dos principais bancos do país e presente com investimentos em diversos setores da economia, a Camargo Corrêa, com destaque em obras de grande porte no ramo da engenharia civil como rodovias, ferrovias, saneamento básico, siderurgia e cimento, além da geração e comercialização

Bonaire Participações S.A. Free Float 40% 51% 9% 25,7% 12,7% 30,5% 31,1%

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de energia elétrica, e a Votorantim, de atuação destacada no setor de base da economia especialmente na produção de cimento, mineração, metalurgia, siderurgia e celulose, onde atua contando com a autogeração de energia. A PREVI (Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil) é uma entidade de previdência privada dos funcionários do Banco do Brasil e empregados do seu quadro próprio que participa da holding com a intenção de capitalizar seus fundos a partir do investimento no projeto hidrelétrico. A Bonaire Participações S.A. reúne quatro instituições: a SISTEL (Fundação Sistel de Seguridade Social), que consta de um fundo de pensão brasileiro patrocinado por empresas privadas; a FUNCESP (Fundação CESP), uma entidade fechada de previdência complementar que administra planos de previdência e saúde para os colaboradores das grandes empresas do setor de energia elétrica do estado de São Paulo; a SABESPREV, entidade fechada de previdência complementar dos empregados da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – SABESP; e a PETROS, que, fundada pela PETROBRAS, atua no mercado de previdência complementar sendo mantida por empresas privadas, estatais ou de economia mista, além de associações, sindicatos ou conselhos de classe. Finalmente, a holding disponibiliza parte de suas ações no formato Free Float, ou seja, ações livres que existem cotadas em bolsa de valores, geralmente distribuídas entre diferentes acionistas minoritários.

Esses acionistas acabaram formando a SPE denominada Foz do Chapecó Energia S.A. (FCE), que, vencedora do respectivo leilão, recebeu a concessão de instalação e exploração pelo prazo de 30 anos sobre a UHE Foz do Chapecó. Embora a SPE reúna uma variedade de empresas estatais e privadas, é importante registrarmos que a maior parte dos investimentos para a realização do projeto foram custeados pelo BNDES através de uma operação mista, na qual R$ 1,1 bilhão foi desembolsado diretamente pelo BNDES enquanto R$ 552 milhões foram garantidos pelos bancos Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Safra, totalizando 75% do custo

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