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4 ANALISANDO O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DAS PRODUÇÕES

4.3 NÍVEL EPISTEMOLÓGICO

4.3.2 Concepções de validação científica

O principal critério de validação científica das produções empírico-analíticas analisadas foi alicerçado na análise estatística dos dados, devido, como foi mencionado em alguns trabalhos, à eficiência dos métodos estatísticos. As hipóteses foram testadas com o auxílio da verificação do nível de significância estatística dos dados. A validação foi pautada, também, em critérios de validade, objetividade, reprodutibilidade e fidedignidade dos testes e instrumentos de coleta de dados.

Na pesquisa 6 a comprovação da cientificidade foi por meio da “[...] comparação das pressões máximas encontradas na amostra com as previstas na literatura.” (Pesquisa 6, p. 54). A pesquisa 7, por exemplo, utilizou as correlações entre as equações de bioimpedância presentes na literatura, as quais apresentavam todos os critérios de cientificidade já validados. É importante destacar que todos os testes e instrumentos padronizados utilizados já tiveram, por sua vez, sua cientificidade comprovada também por meio da estatística em pesquisas anteriores.

A pesquisa 25 indicou a necessidade de sempre selecionar os melhores testes, “sendo assim, deve ser verificada sempre a validade, a fidedignidade e a objetividade” (Pesquisa 25, p. 102), ou seja, a qualidade dos testes acaba se traduzindo pelos critérios de cientificidade predominantemente aceitos. O nível de significância foi estipulado para se manter a cientificidade, como demonstrado na afirmação a seguir: “com a finalidade de manter-se a cientificidade da pesquisa, considerar-se-á o nível de significância p < 0,05” (pesquisa 25, p. 118).

Na pesquisa 26 foram utilizadas equações de predição para o cálculo do percentual de gordura corporal, também ressaltando a validade científica das equações. A pesquisa 32 também defendeu a utilização dos métodos por meio dos critérios de cientificidade: “Como é

óbvio isso significa a preocupação com métodos válidos e fidedignos de coleta e tratamento das informações.” (Pesquisa 32, p. 15). Este critério de cientificidade se torna óbvio, como na afirmação acima, pois muitas vezes parece ser o único meio existente para se provar os critérios das pesquisas no campo da Educação Física.

A lógica dos trabalhos foi restrita ao caráter técnico-instrumental, com uma metodologia criteriosa, pois segundo as pesquisas é fundamental seguir a padronização dos protocolos de técnicas de medidas. Em alguns trabalhos foi verificada a representatividade da amostra por meio de cálculos estatísticos, como ocorrido na pesquisa 13 que evidenciou a cientificidade do estudo através da representatividade da amostra.

A maioria dos estudos evidenciou a precisão (aferição e calibração) dos instrumentos de coleta de dados, sempre conferida antes do início dos testes, como por exemplo, na descrição a seguir “[...] balança mecânica da marca Filizolla, com precisão de 100 g, onde a medida foi aferida em quilogramas para o peso” (Pesquisa 5, p. 86).

Os instrumentos de coleta foram imprescindíveis para a realização das pesquisas que tiveram a pretensão de explicar um determinado fenômeno. Na pesquisa 15, o instrumento denominado calorímetro foi usado para a mensuração da energia despendida pelo organismo, que segundo o autor: “[...] são informações imprescindíveis para se entender os mecanismos de controle de peso, da obesidade e do emagrecimento” (Pesquisa 15, p. 2).

Em algumas pesquisas parece que a preocupação maior dos estudos-piloto foi com os critérios de cientificidade (validade, reprodutibilidade e objetividade dos instrumentos de coleta de dados) e não com a verificação da relevância daquele trabalho para o fenômeno em estudo. Esta afirmação pode ser representada pelo trecho a seguir: “com o objetivo de evitar comprometimentos de validade interna do estudo, foi realizado um estudo piloto” (Pesquisa 17, p. 56).

A Pesquisa 23 (p. 36) descreveu o treinamento do pessoal envolvido no estudo para a padronização da aplicação do questionário, evidenciando a forma adequada de aplicação (aplicabilidade), como na citação a seguir: “As informações quanto ao processo de elaboração, nível de reprodutibilidade das medidas, melhor forma de aplicação (aplicabilidade) podem ser vistas no anexo 6, onde se encontra o relatório do estudo piloto” (Pesquisa 23, p. 28).

Na pesquisa 21, o autor fez uma listagem de diversos instrumentos para a medição do nível de atividade física (IPAQ) e qualidade de vida relacionada à saúde-QVRS (SF-36), e fundamentou o uso deste ou daquele instrumento através de revisão da literatura de estudos que confirmaram a fidedignidade e reprodutibilidade destes instrumentos. No entanto, em um

trecho alertou que tais instrumentos deveriam ainda ser validados para cada população que se for estudar, como descrito a seguir: “Entretanto, levantamentos epidemiológicos nacionais ainda são escassos, e os instrumentos para avaliar a QVRS precisam ser validados para cada população” (Pesquisa 21, p. 29).

A grande maioria dos estudos buscou a validação científica de seus resultados por meio da corroboração com outras pesquisas, entretanto, grande parte das corroborações foram com pesquisas estrangeiras de países desenvolvidos economicamente, ou seja, as diferenças entre as condições de vida em sociedade muitas vezes não foram consideradas.

A pesquisa 32 utilizou também um critério denominado de exaustividade dos instrumentos de coleta de dados, explicado a seguir:

[...] ainda no projeto-piloto realizado numa das escolas da rede pública de ensino de Porto Alegre, considerou-se o critério de exaustividade, o que proporcionou aos entrevistados a oportunidade de acrescentar novos itens que porventura não constassem no instrumento original. (Pesquisa 32, p. 25).

Assim, podemos constatar que as pesquisas no campo da Educação Física que estudaram a obesidade são realizadas e reproduzidas, na maioria das vezes, pela fidedignidade de testes e instrumentos julgados necessários para a comprovação da cientificidade do estudo.

É importante destacar que a presente dissertação não é contra a técnica, prova disso é que estamos utilizando um instrumento para a análise dos dados; nem contra a tecnologia, até porque para a coleta dos dados utilizamos a eficiência da Internet. O que se discute é a predominância de um tipo de validação científica no campo da Educação Física onde a técnica mecânica se apresenta indiscutivelmente como a melhor forma de se fazer ciência. A nosso ver, a técnica é um elemento, dentre outros tantos, para a compreensão da complexidade do objeto de estudo, no entanto, o que se vê neste campo é a utilização deste elemento como critério interno mais importante de cientificidade.

Em algumas áreas da produção do conhecimento, a técnica realmente necessita ser privilegiada em relação a outros elementos constitutivos da prática científica. Como por exemplo, em algumas áreas da clínica médica ou da nutrição, da farmacologia ou da engenharia, onde a técnica é imprescindível. Como não se pode negar, também, a importância da técnica em algumas áreas da Educação Física, como por exemplo, em pesquisas com atletas de alto rendimento, nas quais a técnica, a estatística e os equipamentos de tecnologia de ponta são relevantes, desde o treinamento até a competição.

Na pesquisa com a abordagem fenomenológica-hermenêutica (Pesquisa 2), os critérios de validação científica envolveram a reflexão interpretativa do pesquisador, que procurou desvendar os significados do objeto. A pesquisa teve seus critérios de validade baseados na própria abordagem qualitativa e no referencial teórico-metodológico utilizado para a análise, que se construiu a partir das idéias centrais de diversos autores. A cientificidade se estabeleceu por meio da discussão entre a teoria e a prática. Também foi relevante para a análise interpretativa a experiência prévia da pesquisadora, vivenciada junto a pessoas obesas.