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Tempo sem estudar

4 ANÁLISE DOS DADOS

4.1 Concepções dos alunos e uso de atividades investigativas nas aulas de Biologia

Essa categoria foi criada pela junção dos indicadores: conceito de atividades investigativas e realização de atividades investigativas. Portanto, serão discutidas as questões relacionadas com o significado que os alunos dão às atividades investigativas e também questões relacionadas ao contato que os alunos da EJA já tiveram com atividades investigativas nas aulas de Biologia.

Um dos objetivos da análise dos dados dentro dessa categoria é verificar a concepção dos alunos da EJA sobre atividades investigativas e analisar a frequência com a qual estas atividades são trabalhadas nas aulas de Biologia. Além disso, discutiremos as falas dos alunos com o referencial teórico apresentado na pesquisa. Não apresentaremos, aqui, um perfil dos sujeitos, pois isto já foi realizado no capítulo 3 desta pesquisa, quando apresentamos os participantes da pesquisa.

Em relação aos conceitos sobre atividades investigativas que os alunos trazem para a sala de aula, percebe-se que alguns acreditam que atividades investigativas estão ligadas à pesquisa, para que possam saber “coisas” que antes não sabiam ou “coisas diferentes” ou, ainda, para que possam se aprofundar no assunto estudado. Para alguns, investigar é procurar respostas para as perguntas feitas pelo professor. Um aluno acredita que investigar é “ir além” do que está nos livros e um aluno associa a investigação com experimentação. Alguns alunos

acreditam que as atividades investigativas são aquelas que os alunos fazem juntamente com os colegas e com o professor e relacionam as atividades com discussões na sala de aula, com troca e compartilhamentos de descobertas. Assim, percebemos que a “pesquisa”, a “busca por respostas às perguntas feitas pelo professor” e a “realização coletiva” são características que foram citadas por vários alunos.

Há um consenso na fala dos quatro alunos ao afirmarem que as atividades investigativas são atividades coletivas, ou seja, feitas em grupo.

Quando pesquisamos com os colegas e com o professor para descobrir coisas diferentes (Aluno RRA – Apêndice H).

Quando discute sobre o assunto (Aluno MRL – Apêndice H).

Acho que a aula é muito mais dinâmica. Pesquisar em grupo é melhor para a gente, a gente aprende mais (Aluno 3 – Apêndice J – Grupo focal 1).

Porque há discussão. Com o grupo você vai discutir, cada uma vai dar sua opinião e juntos vamos descobrir... (Aluno 4 – Apêndice J – Grupo focal 1)

Ao relacionar esses apontamentos com o referencial teórico proposto nesta pesquisa, nota-se que as concepções de atividades investigativas que os alunos da EJA trazem para a sala de aula, possuem características semelhantes aos conceitos de atividades investigativas presentes no referencial teórico adotado. Fazendo o uso de uma linguagem mais simples ou de uma linguagem cotidiana, os alunos da EJA trazem para a sala de aula concepções próprias sobre o que são atividades investigativas.

Lima Martins e Munford (2008) afirmam que, nas atividades investigativas, o aluno é estimulado a buscar soluções para perguntas propostas pelo professor e que estas atividades devem desencadear debates e discussões e que o professor desempenha o papel de orientador e mediador da aprendizagem, possibilitando a discussão e argumentação dos alunos.

Carvalho (2013) afirma que as atividades investigativas iniciam-se com um problema e, na busca de soluções para este problema, os professores devem seguir algumas etapas, sendo que uma delas é formar pequenos grupos para esta resolução. Segundo esta autora, a resolução em grupo é importante, pois alunos com desenvolvimentos intelectuais semelhantes se comunicam melhor.

Entendemos que o “pesquisar para tentar achar respostas para as perguntas feitas pelo professor”, presente na fala dos alunos, está diretamente relacionado com o problema que é proposto pelo professor e com as soluções que os alunos devem buscar. Segundo Carvalho (2013), as atividades investigativas iniciam-se com um problema, que pode ser experimental

ou teórico, e ainda que a proposição deste problema, para que os alunos possam resolvê-lo, é o divisor de águas entre o ensino expositivo – onde todo o raciocínio está com o professor – e o ensino que proporciona condições para que o aluno possa construir seu conhecimento.

Em relação ao contato que os alunos da EJA já tiveram com atividades investigativas, quase todos os participantes disseram que nunca fizeram atividades investigativas, nem nas aulas de Biologia, nem em outras disciplinas. Apenas uma aluna declarou que já trabalhou com investigação em uma aula de História e de Português. Ficou claro que a concepção desta aluna sobre atividades investigativas está relacionada apenas com o fato de pesquisar sobre algo ou alguém.

Eu fiz trabalho sobre algumas pessoas que são importantes na História do Brasil. Também pesquisei sobre o Trovadorismo em Português e sobre a vida de Aleijadinho (Aluno BRS – Apêndice H).

Percebe-se a ausência de atividades investigativas nas aulas de Biologia da EJA e acreditamos que esta ausência não é notada apenas quando se trata deste público específico, mas também em outras modalidades de ensino. Conforme o referencial teórico adotado nesta pesquisa, Scarpa e Silva (2013) acreditam que há uma dificuldade de propor trabalhar com atividades investigativas com temas da Biologia porque muitos professores associam a investigação com atividades práticas e experimentais e nem todos os conteúdos de Biologia são passíveis de experimentação. Porém, é importante ressaltar que, assim como estas autoras, acreditamos que os dados de uma investigação não precisam ser originados de uma experimentação.

No entanto, Soares (2008) afirma que persiste a busca por práticas escolares diferentes para os alunos da EJA, sintonizadas com um tipo de sujeito inserido no mundo contemporâneo, um sujeito consciente, crítico, com condições de opinar, agir, desconstruir e construir a história, o lugar que ocupa e que vive.

4.2 Atividades motivadoras e construtoras do conhecimento no Ensino da