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B. Sentido-Significado Construtivista

1.1. Concepções Epistemológicas da Escola para a Adaptação Social

Os sentidos político Tradicional Humanista e Construtivista nos são trazidos como elementares a um projeto de sociedade que muito tem em comum, ao enxergar a escola como propiciadora de valores e da formação dos sujeitos para a sociedade do capital. Esses elementos estão de acordo com os princípios da escola neopositivista, uma das principais correntes científicas propiciadoras de uma escola tradicional. Entretanto, não podemos esquecer que a base construtivista se difere da base tradicional, e apresentado, uma diferença entre ambos nos sentidos políticos da escola relatados por estas três professoras.

O apoio na vertente em adaptar se revela na perspectiva da comunidade escolar para as demandas sociais, para a necessidade em trabalhar e manter valores morais construídos ao longo da história. Também está presente a função para contribuir com o progresso, em atender as demandas do mercado de trabalho, “admitindo que a educação seja função essencialmente social, não pode o Estado desinteressar-se dela. Ao contrário, tudo o que seja educação, deve estar até certo ponto submetido à sua influência” (COMTE, 1978, p. 48). Essa posição traz elementos para uma escola que mantém a meritocracia como uma vertente que entende que o sujeito que se esforça para se adaptar à ordem social, tende a ter um nível de ascensão social. E a escola é responsável por manter esse caminho.

Assim, a posição da autoridade do professor vai sendo mantida em sala de aula: mesmo que o professor garanta ao aluno um espaço de fala e de crítica, esse espaço é cedido pelo professor, e não construído socialmente. Outro elemento que a escola da Adaptação traz, é que os valores sociais são para manter a ordem hierárquica entre os sujeitos e as instituições. Há uma relação que precisa ser respeitada entre Estado e escola, direção da escola e os professores, professores e alunos, e escola e comunidade. Assim, se mantém a boa ordem

social e a certeza do progresso. Se a sociedade perde esses princípios de ordem social, logo, perde seus valores.

Falando de princípios e fundamentos, a escola para a Adaptação mantém as posições de autoridade, valores e moral tradicional, produtos das relações de produção econômica, que atribui à autoridade e o poder, na escala da hierarquia e autoridade social. Ideia esta, presente nos escritos de Comte (1978). Esses princípios tornam-se essenciais para a formação do cidadão, e obviamente, para a formação do professor. O professor compreende o seu papel e que sua ação está ligada direto aos afazeres técnico-pedagógicos do lidar com o conhecimento em sala de aula. O conhecimento não foge a uma regra prática sobre como abordá-lo para o ensino e aprendizagem dos alunos. A função da escola se resume para a formação do cidadão capaz de manter a ordem e a moral, e para que ele possa adentrar preparado, no mercado de trabalho, cumprindo os propósitos do progresso do Estado capitalista.

Entre o sentido Tradicional Humanista e o sentido Construtivista, a diferença está no foco da aprendizagem: a primeira foca no conteúdo, no conhecimento acumulado pela humanidade, elegido por uma classe ou instância anterior, e que esse tem a tarefa de ser transmitido aos indivíduos. O segundo mantém sua ênfase na aprendizagem do aluno, e os mecanismos necessários para que o aluno, como indivíduo aprenda por si, e por isso, a importância de uma integração do biológico com o ambiente, para o desenvolvimento do conhecimento.

O princípio da escola Construtivista deriva da lei fundamental da atividade dos organismos, que é a lei da necessidade, ou do interesse: A atividade é sempre suscitada por uma necessidade. Um ato que não seja direta ou indiretamente ligado à necessidade é uma coisa contra a natureza (DUARTE, 2013). Um ato normal tem de ser sempre funcional, isto é, deve ter sempre como caráter realizar os fins capazes de satisfazer a necessidade que o fez nascer. Suprima-se a necessidade prévia, e está suprimida a causa do ato. A escola tradicional posiciona a atos que não correspondem a nenhuma necessidade: logo, atos sem causa. A escola ativa, ao contrário, é baseada no princípio da necessidade. No entanto, o conhecimento continua a serviço da ordem estatal e do mercado de trabalho: a escola desenvolve o intelecto do cidadão, para que ele possa retribuir à sociedade.

Em termos de perspectivas curriculares, a escola da Adaptação vai atribuindo a divisão do trabalho intelectual, como forma de aperfeiçoar uma base para o progresso, entendendo que há limitações para se dedicar todos ao mesmo gênero de vida (COMTE, 1978). Na individualidade “em si” (DUARTE, 2013), ou no esforço para o seu desenvolvimento como indivíduo social, o aluno vai assumindo diferentes funções sociais de

acordo com as aptidões que vai constituindo. Comte (1978, p. 34) vai defender a ideia de que é preciso “que haja sempre homens de sensibilidade e homens de ação”, que na base construtivista, essas aptidões se dão de formas naturais ao indivíduo.

[…] a adaptação intelectual, como qualquer outra, é um estabelecimento de equilíbrio progressivo entre um mecanismo assimilador e uma acomodação complementar... em todos os casos, sem exceção, a adaptação só se considera realizada quando atinge um sistema estável, isto é, quando existe equilíbrio entre a acomodação e a assimilação. […]A vida mental também é acomodação ao meio ambiente. A assimilação nunca pode ser pura, visto que, ao incorporar novos elementos nos esquemas anteriores, a inteligência modifica incessantemente os últimos para ajustá-los aos novos dados. Mas, inversamente, as coisas nunca são conhecidas em si mesmas, porquanto esse trabalho de acomodação só é possível em função do processo inverso de assimilação. (PIAGET, 1975. p.18)

[…] define então o saber por acumulação e […] denuncia a passividade da inteligência na aquisição dos conhecimentos. A criança deve interiorizar o saber e dar prova de espírito crítico. […] É a apropriação dos conhecimentos que se torna cultural […] O saber deve desenvolver-se diante de uma consciência individual e não simplesmente diante das gerações que o transmitem entre si (CHARLOT, 1983, p. 176).

Nessa dessas ideias consolidadas, a própria concepção de adaptação da escola à sociedade se torna um importante para uma renovação pedagógica, sem que se percam os princípios sociais da hierarquia, da autoridade e das regras constituídas historicamente. Há mudanças que acontecem ao longo da história, mas a estrutura ideológica que consolida a função da escola e o modo como acontece, permanece, emaranhada ou paralela junto a outras funções e aportes ideológicos diferentes, direcionadas às instituições educativas (CHARLOT, 1983).