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Concepções do trabalho docente: alguns significados e seus múltiplos fazeres

Nesta subseção, abordam-se algumas definições, significados e concepções a respeito do trabalho docente, com vistas a obter melhor compreensão e entendimento sobre seus conceitos.

Para compreender o trabalho docente, deve-se, primeiramente, entender o que é trabalho e, para isso, é necessário investigar o conceito de ergonomia. O termo ergonomia deriva das palavras gregas ergon (trabalho) e nomos (normas, leis ou regras), que trazem consigo sua essência antiga. Ou seja, são leis, normas ou regras que regem o meio ambiente para oferecer um ambiente de trabalho propício ao desenvolvimento de atividades laborais. Conforme Oliveira (2015), é uma área de estudo científica, que visa a desenvolver pesquisas e estudos que buscam otimizar e melhorar postos de trabalho, produtos, ambientes, maquinários e quaisquer sistemas globais de trabalho, com a finalidade de garantir o bem-estar e o desempenho do trabalho humano “produtivo” e “improdutivo” (FERNANDES, 2013). A ergonomia objetiva compreender as interações que existem entre os componentes dos sistemas produtivos com as pessoas, aplicando melhorias nos processos que necessitem da ação do homem. Ela atua na melhoria da qualidade de vida no trabalho, compreendendo eventuais condições que possam tornar-se em problemas mediante a interação dos trabalhadores com o meio ambiente.

No âmbito da ergonomia encontra-se o termo trabalho (do grego, ergon), que pode ser definido como uma atividade cuja finalidade é necessária para a situação. Pode ser realizada de forma individual ou coletiva, com um tempo definido por um homem ou por mulher, e que seus resultados não sejam neutros, mas, sim, que transformem e motivem o

sujeito que o executa. Pode também ser uma atividade organizada, porque sempre segue regras e normas pré-estabelecidas. Portanto:

O trabalho cumpre um papel mediador entre o homem e a natureza, havendo uma interação entre o sujeito e o ambiente. De um lado, o sujeito, ao agir diretamente ou indiretamente sobre o meio pela atividade de trabalho, é, ao mesmo tempo, transformado por ele em função dos efeitos e resultados de sua ação. Por outro lado, a interação é guiada por objetivos que o sujeito estabelece para o trabalho (OLIVEIRA, 2015, p. 37).

O trabalho tem um papel mediador que oportuniza ao ser humano entender o meio em que vive. Logo, o trabalho pode ser explicado de maneira mais simplificada, podendo ser resumido em três tópicos: o teórico, o prescrito e o real; cada um engloba uma parte conceitual para formar uma base teórica de melhor compreensão.

Segundo Dejours (2007) o primeiro, trabalho teórico, constitui o entendimento e o ponto de vista das pessoas que participam do sistema de produção; pode ser o operário, o supervisor ou o presidente, ou seja, todos os envolvidos nas atividades laborais de uma organização.

O trabalho prescrito relaciona-se à vertente que define as regras ou postulados a serem seguidos, fixa as ordens e objetivos da produção. Já o trabalho real representa a execução da atividade pelo trabalhador, a prática em si, que necessita que a pessoa o execute fisicamente, com suas experiências e conhecimentos adquiridos ao longo da vida e no decorrer do seu trabalho, de forma que oportunizem a tomada de decisões e escolhas que são de sua responsabilidade, e que às vezes podem “não ser previstas”.

Conforme falado, o sujeito que trabalha finda por se aprofundar em um mar de experiências. Sendo assim, para compreender o trabalho docente, é importante estar atento à sua importância e à subjetividade de quem o executa. O trabalho docente é um assunto de grande preocupação da academia. Existem diversos cientistas que pesquisam o que realmente envolve essa profissão. Sendo assim, em uma visão mercadológica, resume-se apenas na função de lecionar, descaracterizando sua complexidade e causando certo reducionismo em sua importância, pois, para as “escolas empresas”, o que é interessante é o professor estar em sala de aula.

As IES não tratam mais os professores como empregados “indispensáveis” para o sistema de educacional; tratam-nos como funcionários colaborativos para o sistema, ou seja, se não conseguirem atender às demandas corporativas e aos indicadores exigidos, são simplesmente substituídos por professores mais jovens, não se levando mais em consideração

a experiência, que, muitas vezes, fortalecem o processo de ensino-aprendizagem e, sim, o que se torna mais barato e rentável.

Para Oliveira (2010), em sua publicação no Dicionário Terminológico da REDESTRADO, o trabalho docente é definido como:

Uma categoria que abarca tanto os sujeitos que atuam no processo educativo nas escolas e em outras instituições de Educação, nas suas diversas caracterizações de cargos, funções, tarefas, especialidades e responsabilidades, determinando suas experiências e identidades, quanto as atividades laborais realizadas. Compreende, portanto, as atividades e relações presentes nas instituições educativas, extrapolando a regência de classe. Pode-se, assim, considerar sujeitos docentes os professores, educadores, monitores, estagiários, diretores, coordenadores, supervisores, orientadores, atendentes, auxiliares, entre outros. O trabalho docente não se refere apenas à sala de aula ou ao processo de ensino formal, pois compreende a atenção e o cuidado, além de outras atividades inerentes à Educação. De forma genérica, é possível definir o trabalho docente como todo ato de realização no processo educativo (OLIVEIRA, 2010, p. 2).

A partir dessas breves descrições e análises sobre o trabalho e o trabalho docente, pode-se concluir que há uma importante relação entre o trabalho e a Educação para a condição humana e para a instituição escola, donde a experiência necessária para execução da atividade laboral é constituída e construída pelo meio de trabalho, uma herança advinda da própria ação. Ao se analisar o termo docência originado do latim, que significa ensinar, instruir, dar a entender, pode-se concluir que o trabalho docente seria a execução de diversas atividades que se completam e têm a intenção de educar.

Assim, o que define o trabalho docente não está somente relacionado à formação que os professores recebem nas instituições de ensino ou o certificado que os qualificam; é algo a mais que os estatutos, as regras e as diretrizes. É a junção de um conjunto de atividades desempenhadas por diversos sujeitos, podendo eles serem professores, diretores, faxineiros, enfim, todas as pessoas envolvidas e engajadas dentro do sistema escolar que, unidas, contribuem para que o processo de ensino e aprendizagem seja realmente efetivado.

3.4 Discussões na academia sobre o trabalho docente: uma revisão sobre seus