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Capítulo 2: Qualidade de Vida

2.1. Conceptualização teórica da qualidade de vida

Apesar de não existir consenso entre os autores quanto à definição universal do constructo (Araújo et al., 2008; Canavarro, 2010; Ferreira & Santos, 2009; Miranzi et al., 2008; Silva et al., 2003), a Organização Mundial de Saúde, define Qualidade de Vida como “a perceção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e do sistema de valores em que vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (Araújo et al., 2008, p.1125; Ferreira & Santos, 2009, p.406; Miranzi et al., 2008, p.673). Outros autores definem qualidade de vida como sendo “o conjunto de respostas manifestadas pelos indivíduos aos fatores físicos, emocionais, sociais e económicos com os quais interagem” (Souza et al., 1997; p.152). Deste modo, apesar de não haver consenso quanto à definição deste constructo, é amplamente aceite, pelos diversos autores, a multidimensionalidade do mesmo (Canavarro, 2010; Diaz, Moreira, Haluch, Ravazzani, & Kusma, 2016).

2.1.1. Perceção de qualidade de vida e fatores relacionados

A qualidade de vida deriva da avaliação individual e subjetiva que cada pessoa faz da sua vida, tendo em consideração a perceção que possui do seu bem-estar físico, emocional e social (Diaz et al., 2016; Romero et al., 2010; Shamshirgaran et al., 2016; Rubin & Peyrot, 1999; Sepúlveda, et al., 2015; Vinaccia & Orozco, 2005; Wang et al., 2015).

Diferentes autores defendem a diversidade de indicadores, objetivos e subjetivos, capazes de influenciar o constructo, nomeadamente: físicos, psicológicos, emocionais, sociais, culturais, espirituais, financeiros/económicos, políticos e ambientais (Araújo et al., 2008; Megari, 2013; Faria et al., 2013; Vinaccia & Orozco, 2005). Assim, a avaliação da qualidade de vida vai depender do grau de satisfação com que os indivíduos percecionam a sua vida nesses

Importa referir também que não é consensual o número e a denominação das dimensões que compõem este constructo (Silva et al., 2003). Contudo, a divisão que parece ser mais consensual entre os autores, perceciona a qualidade de vida como sendo composta pelo bem- estar físico, psicológico, social e espiritual (Almeida et al., 2013; Araújo et al., 2008; Romero et al., 2010; Vinaccia & Orozco, 2005).

Desta forma, devemos percecionar a qualidade devida como conceito multidimensional e complexo capaz de almejar diversos domínios e dimensões inter-relacionadas e interdependentes, que constituem e influenciam de forma recíproca o ser humano (Araújo et al., 2008; Chibante et al., 2014; Faria et al., 2013; Megari, 2013; Romero et al., 2010; Rubin & Peyrot, 1999; Silva et al., 2003; Souza et al., 1997; Vinaccia & Orozco, 2005). Além disso, importa salientar que estamos perante um conceito subjetivo (depende da perceção e avaliação individual), polivalente (pode ter diferentes significados) e multifatorial (e.g., sexo, idade, cultura, inserção social) (Araújo et al., 2008; Canavarro, 2010; Faria, et al., 2013; Megari, 2013; Martins et al., 1996; Silva et al., 2003; Souza et al., 1997; Vinaccia & Orozco, 2005).

2.1.2. Avaliação da qualidade de vida

Do mesmo modo que não existe consenso quanto à definição deste constructo, também não existe uma forma universal única para estudar adequadamente a qualidade de vida. Avaliar a qualidade de vida é ser capaz de atender à sua multidimensionalidade e subjetividade (Sánchez, et al., 2008; Vinaccia & Orozco, 2005). Assim, de forma congruente, o indivíduo deve ser percecionado de forma holística pois, e segundo Martins, França, e Kimura (1996), “o doente (…) é uma pessoa e, como tal, não é um ser isolado, não abandona todo o seu contexto de vida depois de ser acometido pela doença.” (p.7). Por este motivo, avaliar este conceito é saber percecionar a pessoa como um todo indissociável capaz de influenciar e ser influenciado em diversos níveis (Chibante et al., 2014; Souza et al., 1997).

Contudo, apesar da qualidade de vida ser um constructo impossível de medir (através de indicadores e meios físicos objetivos de mensuração), é possível de avaliar através da perceção individual que cada pessoa tem do seu bem-estar físico, emocional e social e da forma como a doença interferiu no mesmo (através do recurso a instrumentos de auto-relato) (Araújo et al., 2008; Dickerson et al., 2011; Faria, et al., 2013; Kohen et al., 1998; Sánchez et al.,2008). Por este motivo, Faria et al., (2013) defendem que avaliação deste constructo é caracterizada sobretudo pela subjetividade.

2.1.3. Qualidade de vida e saúde

Consideramos também importante clarificar a distinção entre Qualidade de Vida e o conceito de Saúde, uma vez que tendem a ser frequentemente confundidos. Apesar de inicialmente saúde ser definida como a ausência de doença, desde 1948 que a OMS (Organização Mundial de Saúde) reformulou o entendimento deste conceito (Rubin & Peyrot, 1999). Assim, atualmente o estado de saúde é explicado não apenas pelo bem-estar físico, como também pela perceção, boa ou má, que a pessoa tem relativamente à sua saúde física, mental e social (Silva et al., 2003; Rubin & Peyrot, 1999; Vaz Serra, 2010; Vinaccia & Orozco, 2005;). Por outro lado, a qualidade de vida está diretamente relacionada com a perceção, boa ou má, que a pessoa tem relativamente à sua vida (Silva et al., 2003; Vaz Serra, 2010). Assim, Miranzi, Ferreira, Iwamoto, Pereira, e Miranzi (2008), defendem que a saúde é “uma importante dimensão da qualidade de vida” (p.673). Logo, a perceção individual de qualidade de vida pode ser influenciada pela forma como a pessoa perceciona o seu estado de saúde (Souza et al., 1997). Podemos afirmar que a saúde deve ser um dos domínios incluídos na avaliação da qualidade de vida ao invés de ser entendida como um sinónimo dela (Silva et al., 2003; Souza et al., 1997), uma vez que a qualidade de vida, segundo Vaz Serra (2010), “procura atender a uma perspectiva holística sobre a natureza bio-psico-social do ser humano” (p.23).

Sendo a saúde um dos domínios fundamentais na avaliação deste constructo, podemos partir do pressuposto que a doença influenciará a perceção de qualidade de vida das pessoas. Assim, de um modo geral, os estudos apontam para o fato da qualidade de vida ser negativamente influenciada pela presença de doenças crónicas (Silva et al., 2003; Souza et al.,1997).