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1 A CRISE DO PODER JUDICIÁRIO E OS MEIOS ALTERNATIVOS À

2.6 A conciliação como mecanismo mais eficaz para solução de controvérsias

A Lei da Mediação nº 13.140/15, prevê utilização da mediação entre particulares e a autocomposição no âmbito da Administração Pública, imperioso elucidar qual o método de autocomposição seria o mais adequado e eficaz nos casos em que há um ente da Administração Pública atuando como parte integrante do litígio.

Aos ensinamentos de Eidt (2017, p.121), verifica-se que esta menciona que a mediação não é o instituto adequado às ações que envolvem a Administração Pública tendo em vista que se tratam de relações interpessoais:

O tratamento dado pela mediação, portanto, não condiz com a relação que o Estado tem com os indivíduos ou até mesmo com seus órgãos entre si. Trata-se de relações impessoais pautadas por mandamentos legais, nas quais a técnica do diálogo a fim de restaurar vínculos abalados por um conflito não ganha espaço de atuação. Neste contexto, pode-se falar em negociação, conciliação e arbitragem [...]. (grifo nosso).

Conforme dispõe Romeu Felipe Bacellar Filho (2011, n.p),

A Administração Pública pode celebrar acordos e transacionar a fim de evitar litígios despropositados que somente prejudicariam o bom andamento de suas atividades. A transação pressupõe, portanto, a existência de um espaço de conformação outorgado pela lei ao administrador (em outras palavras, discricionariedade) para valorar, no caso concreto, as medidas necessárias para a proteção do interesse público. Transacionar não significa abrir mão do interesse público. A transação existe para permitir que o interesse público possa ser concretizado, sem excluir a participação dos particulares interessados na solução da contenda. (grifo nosso).

Deste modo, no decorrer da pesquisa observou-se a possibilidade da aplicação da autocomposição como método extrajudicial ou endoprocessual de resolução de conflitos quando uma das partes integrantes do litígio é um ente da Administração Pública.

No entanto, ainda que prevista a autocomposição no âmbito da Administração Pública, conforme estabelece a Lei nº 13.140/15, não restou especificado na referida lei qual é o instituto que deve ser aplicado ao caso concreto.

Sendo assim, de acordo com as disposições verificadas acerca de cada um dos institutos no decorrer do estudo, vislumbra-se que o sistema processual atual de modo informal aponta a conciliação como o instrumento que mais se harmoniza com as características dos conflitos em que entes da Administração Pública possam vir a atuar como parte, tendo em vista que tratam-se de ações que possuem natureza meramente pecuniária, não havendo vínculo afetivo.

CONCLUSÃO

Diante da crise e da morosidade do Poder Judiciário ante a imensa quantidade de demandas, vislumbrou-se a necessidade de realizar a presente pesquisa, uma vez que possui o intuito de apresentar meios alternativos ao processo judicial pelos quais é possível atingir, com qualidade, a solução de conflitos.

Na busca por meios mais céleres para a resolução da lide, a pesquisa supra analisou os institutos da conciliação e a mediação. Sendo assim, analisou-se que a conciliação é o meio autocompositivo utilizado para resolução de conflitos que tenham por caráter meramente pecuniário, uma vez que a audiência de conciliação é mais invasiva e o conciliador propõe às partes formas pelas quais é possível se chegar a resolução daquela demanda.

Já a mediação é um método autocompositivo mais utilizado nos casos em que há relação afetiva continuada, como as relações familiares, de vizinhança e de trabalho. Na audiência de mediação o mediador não propõe formas para a resolução do conflito, apenas facilita o diálogo entre as partes com o intuito de reparar o conflito e manter o vínculo pré-existente.

A presente pesquisa visou auferir qual dos institutos (conciliação ou mediação) é o mais adequado para os conflitos que envolvem a Administração Pública, tendo em vista que a Lei de Mediação nº 13.140/15, dispõe acerca da aplicação do instituto da mediação entre particulares para resolução de controvérsias e no âmbito da administração pública refere a autocomposição, sendo

imperioso esclarecer qual o método mais satisfatório e viável a ser aplicado em ações que tenham como partes algum ente público.

Deste modo, buscando-se o método mais adequado de autocomposição quando envolve a Administração Pública como uma das partes integrantes do litígio, a presente pesquisa apontou a conciliação como sendo o instrumento que mais se harmoniza com as características dos conflitos que envolvem a Administração Pública.

Ainda, verificou-se que o sistema jurídico brasileiro atual vem sendo direcionado no sentido de proporcionar a maior aplicação e disseminação dos métodos autocompositivos, tais como a conciliação e a mediação.

Neste viés, a partir do presente estudo evidenciou-se que a conciliação apresenta características que a tornam mais apropriada para aplicação extrajudicial ou endoprocessual no âmbito da Administração Pública, não afetando a indisponibilidade do interesse público, uma vez que em geral as lides que envolvem tais entes públicos possuem caráter unicamente pecuniário.

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