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Diante do quadro delineado neste trabalho, constata-se que a matéria, embora não seja nova na literatura jurídica, tem sido discutida com renovado vigor a partir da Constituição Federal de 1988, que trouxe uma nova valoração para o trabalho humano, que passou a ser reconhecido como valor social relacionado intimamente com a dignidade do homem.

O Código Civil de 2002 também teve grande contribuição para o fomento dos estudos acerca da responsabilidade civil pré-contratual, ante as disposições inovadoras que apresentou, no sentido de se tutelar também os deveres acessórios à celebração do contrato, em especial a conduta respeitosa à boa-fé objetiva, a tutela da confiança negocial e o dever de lealdade e informação durante esta fase preparatória. Contudo, a matéria ainda não é pacífica quanto a muitos pontos e a doutrina acerca da responsabilidade civil pré-contratual, principalmente em relação às responsabilidades do empregador, está em franca construção, de maneira que não há, ainda, qualquer estudo conclusivo sobre o tema.

O dever de se respeitar a boa-fé objetiva e as obrigações decorrentes de tal princípio aplicam-se em todas as fases do contrato de trabalho, inclusive nas pré e pós- contratuais.

Reforçando a tutela da fase pré-contratual, observa-se a incidência de outros princípios ligados à disciplina constitucional e trabalhista, dentre os quais o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, erigido a fundamento da República Federativa do Brasil pelo artigo 1º, III da CF, o princípio constitucional da não discriminação, o princípio da continuidade do contrato de trabalho e o princípio da razoabilidade.

A fase prévia à contratação compõe-se por vários níveis de negociação, que se sucedem antes da celebração do pacto empregatício. A doutrina diverge bastante quanto à delimitação de cada um desses níveis, muitas vezes sem diferenciar etapas que possuem, ainda que de forma tênue, alguma distinção. Esta divergência explica-se pelo informalismo que é próprio ao direito do trabalho, que também se desdobra a esta fase preliminar, sendo muito difícil determinar com rigor os limites de cada etapa, já que algumas destas podem, inclusive, inexistir.

Apoiando-se nos ensinamentos doutrinários, pode-se aferir, com alguma conformidade, que as negociações preliminares constroem a primeira das etapas que compõe a fase pré-contratual, seguindo-se até a efetiva pactuação, o contrato preliminar é momento posterior, já avançado nas tratativas e o pré-contrato constitui fase ulterior, a mais próxima da

conclusão do contrato principal. Entretanto, reitere-se que não há consenso sobre estas diferenciações e como elemento de concordância vê-se que todas estas etapas compõem a fase pré-contratual.

A teoria da responsabilidade civil aplica-se satisfatoriamente para reparar os prejuízos advindos desta fase, já que a o Direito Comum, por força do parágrafo primeiro do artigo 8º da Consolidação, possui aplicação subsidiária ao Direito do Trabalho, não só por este derivar daquele, mas também pela expressa autorização legal. Assim, caso o proponente, futuro empregador, gere reais expectativas de contratação ao trabalhador e, já quando a contratação é certa para este, interrompe tais negociações sem qualquer fundamento razoável, frustrando as perspectivas do obreiro, deve ressarcir o empregado pelos prejuízos advindos desta ruptura, desde que a mesma seja injustificada.

Os danos causados ao obreiro durante a fase prévia à contratação, quando este alimenta justificada expectativa de ser admitido, assim como os decorrentes da lesão aos seus direitos fundamentais, especialmente os de personalidade, provocam prejuízos irrefutáveis ao trabalhador, pois não participar do mercado de trabalho, além de lhe expor à marginalidade social, dificulta o acesso à sua própria dignidade, uma vez que este se privará dos meios necessários ao seu sustento e ao de seus dependentes. A indenização decorrente dos mesmos pode ter cunho patrimonial ou moral, a depender das provas apresentadas pelo trabalhador, sendo possível, ainda, haver a cumulação de tais pedidos em eventuais ações reparatórias.

Na atualidade o princípio da boa-fé objetiva conforma o principal fundamento da responsabilidade civil na fase pré-contratual, atribuindo-se aos contraentes a obrigação de proceder com probidade, lealdade e informação em todas as etapas da fase pré-negocial. Alia-se a este a tutela da confiança negocial que opera como elemento integrador do comportamento das partes e como parâmetro de solução para eventual controvérsia entre a efetiva vontade dos negociantes e a declaração manifestada posteriormente.

Finalmente, tem-se que a Justiça Especializada é competente para processar e julgar as ações reparatórias dos danos oriundos da fase pré-contratual, ante a ampliação de sua jurisdição com a edição da Emenda Constitucional n. 45 e considerando a redação do artigo 114 da CF, o qual dispõe que é de competência da Justiça do Trabalho as ações pautadas na relação de trabalho.

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