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3 A INDÚSTRIA DE CALÇADOS E O PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO

5.1 Conclusão

Esta dissertação visou mostrar as aglomerações produtivas e a relação destas com as cadeias produtivas globais e teve como estudo de caso a indústria de calçados no Brasil. O trabalho enfatizou o papel fundamental da associação obtida e transferida pelo estímulo da cooperação existente entre os atores dos aglomerados produtivos. Vantagens como as economias externas podem ser causadas pelo simples fato das empresas estarem concentradas geograficamente. E, também pelas empresas serem especializadas em um produto e, com isso, atraírem empresas correlatas e fornecedores. Estar em aglomerados produtivos facilita a circulação de informações e incentiva a criação de um processo de aprendizado local. Esse processo de aprendizado ocorre de forma natural e provoca transbordamentos (spill-overs) beneficiando, de forma marginal, os produtores locais. No entanto, observa-se que existe uma grande resistência dos produtores em estabelecer práticas mais freqüentes de interação e cooperação entre eles, especialmente na região Nordeste do Brasil.

Vale ressaltar a importância da participação dos atores locais junto às empresas. Eles têm papel relevante como elementos constituintes dos aglomerados produtivos. Cabe ao setor público (instituições) oferecer serviços e informações que visem capacitar e aumentar a competitividade das empresas aglomeradas. Este fato geraria transbordamentos mais significativos.

Neste estudo, também, foi evidenciado a forma de participação das aglomerações de empresas em contextos globais. Para tal foi utilizado o conceito de cadeias produtivas globais, apresentado por Gereffi (1994). Assim foi possível identificar a forma de configuração da cadeia produtiva do setor de calçados no Brasil e a importância dos vínculos globais que as empresas mantêm com os agentes externos.

De acordo com as relações existentes entre as empresas e os atores estrangeiros, as empresas poderão ou não se apropriar das vantagens proporcionadas pelas

aglomerações produtivas podem ser apropriadas pelos agentes externos e pouco apropriadas pelas próprias empresas locais.

As cadeias produtivas globais se caracterizam pela produção e comercialização de mercadorias que envolvem a tomada de decisões estratégicas e a formação de redes globais de fornecedores. Desta forma, foi apresentado o conceito de cadeias produtivas globais em que foi possível verificar que as cadeias lideradas pelos produtores possuem o controle da produção e por isso são capazes de liderar o processo. No entanto, as cadeias produtivas lideradas pelos compradores detêm a comercialização, distribuição e

marketing dos produtos.

Esses conceitos, aglomerações produtivas e cadeias produtivas globais, foram aplicados à indústria calçadista brasileira. As observações conceituais auxiliaram no estudo a respeito da inserção da indústria calçadista brasileira, em especial a da região Nordeste, no mercado externo.

A indústria de calçados é um exemplo de cadeias dirigidas pelos compradores, por isso as empresas brasileiras estão subordinadas aos interesses e decisões dos grandes compradores internacionais. Ou seja, as empresas brasileiras não são capazes de tomar decisões a respeito da comercialização e, até mesmo, da produção de calçados.

As aglomerações produtivas de calçados do Vale dos Sinos e de Franca apresentam uma estrutura produtiva mais completa. Nestas aglomerações é possível encontrar fornecedores de matéria-prima, de componentes, fornecedores de máquinas e equipamentos para calçados e de serviços especializados às empresas, como na área de comercialização e exportação. Estas aglomerações contam, ainda, com o apoio de instituições especializadas em tecnologia e qualificação de mão-de-obra.

Nos aglomerados produtivos da região Nordeste não se verifica toda essa complementaridade e articulação entre os atores. No Nordeste, o acesso a fornecedores se apresenta com um dos gargalos mais evidentes que impedem ou dificultam o crescimento das aglomerações produtivas nordestinas.

Na indústria brasileira de calçados existem algumas aglomerações importantes como as citadas regiões do Vale dos Sinos, de Franca e a região Nordeste. Nestas regiões existe a presença de empresas fabricantes de calçados e de insumos que estão geograficamente concentradas.

Todavia, o acirramento da concorrência internacional e o vertiginoso crescimento da indústria de calçados na China motivaram a relocalização da indústria brasileira de calçados que estava em busca de manter-se competitiva no mercado. Com isso, empresas da região Sul e Sudeste do país chegaram à região Nordeste para implementar suas plantas produtivas. Desta forma, as empresas nordestinas começaram a se expandir.

As empresas brasileiras exportam calçados desde a década de 60. Entretanto, as exportações têm se intensificado nos últimos anos e, recentemente, o Nordeste tem se destacado nas exportações nacionais em razão do aumento do número de empresas dedicadas à fabricação de calçados.

Os estados nordestinos que mais receberam investimentos da indústria calçadista foram Bahia, Ceará e Paraíba. A partir de então estes estados passaram a figurar entre os mais importantes produtores e exportadores de calçados do Brasil.

A transferência de empresas para o Nordeste contribuiu para que estes estados, em especial, se destacassem na produção e na exportação de calçados, especialmente sintéticos. Os calçados sintéticos são produtos de baixo valor e que sofrem diretamente com a concorrência dos produtos asiáticos, tanto no mercado internacional como no mercado nacional.

De modo geral, ficou evidente que as empresas brasileiras de calçados exercem pouca (ou nenhuma) influência na interação com os grandes compradores internacionais. Notadamente, as aglomerações produtivas de calçados da região Nordeste não são capazes de manter sua autonomia quando inseridas em contextos globais, pois não possuem o poder de decisão a respeito da comercialização, marketing e, até mesmo, do modelo a produzir.

Contudo, todo esse processo de relocalização industrial com o aumento do número de fábricas de calçados e, consequentemente, do emprego no Nordeste foi importante para incrementar a economia local e impulsionar o crescimento, principalmente, das regiões em que foram instaladas as empresas advindas de outras regiões do país.