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O presente trabalho teve como objetivo demonstrar que a adoção de crianças e adolescentes por pares homoafetivos também pode contribuir para evitar que esses menores sejam adotados ou escolhidos por uma família sem estrutura. Dessa forma, se fossem adotados por pares homoafetivos poderiam ter seus direitos pessoais e patrimoniais respeitados e fariam parte de uma sociedade justa e igualitária, dando-lhes a chance de viver em uma família regada de afeto e amor.

Quanto ao estudo realizado sobre a instituição familiar, conclui-se que, tendo em vista as mudanças históricas e culturais ocorridas em nossa sociedade, aquele modelo de família, constituída apenas no vínculo do matrimônio, em que o pai tinha a função de mantenedor do lar, e a mãe a função de genitora, deu lugar a novos modelos de entidades familiares. Assim, o afeto, a solidariedade e o amor passam a ser o maior vínculo entre os integrantes da família, tendo como principal objetivo a realização pessoal e a felicidade ou desenvolvimento saudável de cada participante do grupo familiar.

Com as significativas mudanças e, consequentemente, com a vigência da Constituição Federal de 1988, verificou-se que o instituto Família passou a ganhar mais importância, elencando em seu texto outras espécies de entidades familiares, tais como a união estável, a monoparental, e outras que não estão expressas em seu rol, compreendendo as uniões homoafetivas, mas que devem ser protegidas atendendo aos princípios de dignidade da pessoa humana e da igualdade, princípios constitucionais e fundamentais do nosso ordenamento jurídico em nível nacional e internacional.

Em segundo momento, com a positivação dos direitos humanos e a contemplação dos princípios da dignidade da pessoa humana, da liberdade e igualdade, abriu-se espaço para uma visão diferente de ver o ser humano uma pessoa merecedora de respeito, livre de preconceitos e restrições, principalmente em nível de preferência sexual. A homossexualidade não é mais vista como doença, tampouco como uma opção sexual repugnante, constatando-se ser um modo natural de vida, devendo os homossexuais ter seus direitos respeitados e atendidos como os heterossexuais

Verificou-se, ainda, que, mesmo não expressamente elencadas na Constituição Federal, as uniões homoafetivas já fazem parte da realidade da sociedade. A falta da previsão legal não esgota a possibilidade de seu reconhecimento jurídico, pois encontra respaldo nos princípios constitucionais. Observa-se, por meio de um processo analógico, tratamento semelhante às uniões estáveis pelos nossos tribunais, que, de forma correta e igualitária, cumprem com seu papel principal de emanar a justiça, promovendo uma sociedade mais humana, livre de preconceitos e discriminações.

Entretanto, quando se adentra no assunto da adoção por casais homoafetivos, muitas são as restrições ainda impostas para sua efetivação. Contudo, cumpre destacar que o principal objetivo a ser alcançado no instituto da adoção é o bem-estar do menor, o atendimento às suas necessidades essenciais. Não se justifica o indeferimento de adoção por pares homoafetivos, pois, preenchidos os requisitos do melhor interesse do menor, não se lhes pode negar o direito de possuírem uma família, independente da orientação sexual da entidade familiar.

Nesse contexto, visualiza-se que esse direito do menor vem, aos poucos, ganhando corpo nas decisões judiciais, sobretudo, no que tange ao entendimento de serem também os casais homoafetivos capazes de conduzir uma família. Dessa forma, teriam plenas condições de dar aos menores marginalizados pelo abandono uma vida regrada de amor, dedicação e a tão esperada segurança emocional e material.

Dessas considerações, conclui-se que não é mais possível, frente à realidade vivida por muitos menores, deixar de reconhecer a importância e a necessidade em conceder legitimação às adoções por pares homoafetivos. Seria, sem sombras de dúvida, uma solução possível de devolver ou, muitas vezes, pela primeira vez, dar ao menor o direito de viver em uma comunidade familiar, priorizando o seu melhor interesse.

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