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Conclui-se mediante os resultados da análise dos dados coletados no Conselho Nacional de Arquivos, a partir dos documentos por ele produzidos, e nas entrevistas realizadas com os atores sociais envolvidos no processo da declaração de interesse público e social, bem como na legislação vigente regulamentadora da matéria, que a definição do interesse público e social relativo aos arquivos privados não é clara, pois os seus limites não estão bem delimitados tanto na legislação quanto pelos representantes do CONARQ.

Os membros do Conselho possuem dúvidas sobre o que deve ser objeto de declaração. Em capítulo pertinente, a questão do arquivo privado custodiado em instituições públicas apresentou as divergências entre os Conselheiros do CONARQ. Uns defendem a tese que arquivos privados custodiados por instituições públicas são arquivos públicos, outros acreditam que acervos nesta situação não perdem sua natureza privada; mas por estarem incorporados no patrimônio público já são de interesse público, portanto não necessitam da chancela do estatuto do interesse público e social. Essa é uma questão realmente problemática, porque mesmo em entidades públicas direcionadas para a preservação e guarda de acervos, existem casos de arquivos privados que estão depositados nestas entidades, mas não então incorporados plenamente ao Patrimônio Público, isto é, estão em regime de comodato.

Outro ponto extremamente relevante, e que merece atenção, é a questão do acesso aos arquivos declarados como de interesse público e social. A legislação, neste aspecto, parece ser um paradoxo. A determinação legislativa é que o Poder Público pode identificar arquivos privados como de interesse público e social, desde que relevantes para a cultura, história e o desenvolvimento científico, mas a mesma legislação estabelece que a franquia do acesso está em poder do proprietário. Ora, se é de interesse público porque é de relevância cultural, história e científica, onde estão as garantias do acesso por parte do Estado? Este é de fato um ponto delicado para o Estado, por envolver direitos que são antagônicos. Contudo é um aspecto que merece ser revisto com atenção, porque deixar a franquia do acesso, única e exclusivamente, na mão do proprietário pode ocasionar restrição excessiva ou impedimento total do acesso, o que prejudicaria o desenvolvimento científico. Esta é uma questão jurídica: o Estado

tem limites em relação à propriedade privada. Considerada esta limitação, a questão é de política arquivística: que mecanismos por parte da autoridade arquivística classificadores podem induzir/fomentar o acesso? A questão da obrigatoriedade de acesso foi levantada 58

º reunião do CONARQ, quando foi sugerida a

obrigatoriedade do acesso como condição para se declarar o interesse público.

Por que a condição da obrigatoriedade do acesso foi sugerida, em reunião plenária? Essa questão foi abordada em capítulo pertinente.

Outra questão está relacionada à suficiência legislativa do mecanismo da classificação de interesse público e social. O presidente do CONARQ e os membros da Comissão Técnica de Avaliação informaram, em entrevista, que a legislação em vigor é suficiente para operacionalização do mecanismo. Se é suficiente e atende a demanda, porque questão como obrigatoriedade do acesso e fiscalização foram abordadas nas últimas reuniões do Conselho?, Outro apontamento nesse sentido é o fato de haver dúvidas, por parte dos representantes do CONARQ, sobre o objeto que o estatuto da declaração de interesse público e social contempla. Por que não há consenso entre os membros do Conselho? Não seria por que o estatuto não está bem regulamentado, ou por falta de conhecimento, análise, pesquisa sobre aquilo que dispõe a legislação quando deve ser operacionalizada?

O contra-senso observado nesta pesquisa se apresenta com a declaração dos membros da Comissão Técnica de Avaliação, sobre a responsabilidade do Estado para com estes acervos. Ao serem questionados sobre a semelhança da figura do tombamento com o mecanismo da declaração de interesse público e social esclareceram que, no caso do tombamento, o Estado partir do momento que o bem é tombado, ele tem o dever de atuar para a preservação do objeto de tombamento, mas no caso do estatuto do interesse público e social o CONARQ não tem essa obrigatoriedade. Para a Comissão Técnica o Conselho pode agir sobre alguma coisa, à medida que tenha conhecimento, mas a responsabilidade, ele não tem. Esses apontamentos são extremamente inquietantes, porque tanto a Lei 8.159 quanto o Decreto 4.073 que regulamenta o dispositivo da declaração determina um conjunto de implicações que recaem tanto sobre o arquivo classificado como para o CONARQ. Nesse sentido, cabe ao CONARQ declarar o interesse público, em contrapartida, é responsabilidade do proprietário informar ao Conselho danos, perdas, mudanças, qualquer situação que ponha o acervo em risco. No entanto o que o CONARQ faz com essas informações? A partir dos dados coletados

observou-se que até o momento o Conselho não recebeu informações nesse sentido. Diante do exposto, fica a pergunta de quem é a responsabilidade de zelar por estes arquivos? Apenas dos proprietários? O Estado declara que é de interesse público e social, mas não fiscaliza? Como que esse mecanismo protege o bem? A legislação é clara ao determinar as implicações do estatuto da declaração, e, é mais clara ainda ao estabelecer que o CONARQ é o órgão responsável por receber as comunicações relativas a qualquer alterações em arquivos privados declarados como de interesse público. Portanto, responsável pelo controle destes acervos. Até o momento o CONARQ só mencionou a questão em reunião plenária, mas não se manifestou ainda de forma prática, em capítulo pertinente a questão já foi discutida. O que se entende é que não há uma política nesta direção. Os critérios, a solução dos problemas, o próprio objeto que incide a declaração, tudo é feito pelas demandas que propõem a declaração de interesse público, isto é, a reflexão sobre as questões só ocorrem à medida que vão surgindo. A política não está definida. Observou-se que o posicionamento do Conselho Nacional de Arquivos, nesta questão dos arquivos privados de interesse público, é reativo, ou seja, ele só se manifesta quando acionado por instituições ou proprietários de acervos privados. Essas questões, num quadro menor de análise, refletem a ausência de uma política nacional de arquivos

Devido à amplitude do tema apresentado e as muitas as questões que envolvem a temática, a pesquisa não comportou uma abordagem com todos os aspectos. Pesquisas futuras podem investigar como a sociedade tem se utilizado deste mecanismo e para quais finalidades, uma abordagem mais profunda sobre a questão do acesso, a inserção desta questão em uma política nacional de arquivos . Pode-se dizer que esta pesquisa abre espaço para novas discussões, tais como: o interesse privado na declaração do interesse público, o estatuto da declaração de interesse público é eficaz? Dentre outros que a temática permite abarcar.

7. REFERÊNCIAS

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