• Nenhum resultado encontrado

O estudo experimental e a modelagem matemática realizados na vertente do córrego Capetinga possibilitou a caracterização do comportamento da água no solo, com base no parâmetro resistividade elétrica e na identificação da carga hidráulica na área em estudo. Considerando-se os objetivos propostos, foram obtidos resultados satisfatórios quanto às variações temporal e espacial da resistividade, como indicativo da umidade do solo, e ao monitoramento do nível freático, com base nos levantamentos geofísicos e na simulação do fluxo da água na zona saturada. A abordagem adotada neste estudo permitiu identificar condições hidrogeológicos que favorecem a ampliação do entendimento dos processos hidrológicos na escala de vertente, ressaltando a adequação das ferramentas adotadas.

A metodologia geofísica limitou-se à caracterização qualitativa do comportamento da água num perfil de solo com aproximadamente 30 m de profundidade. Apesar disso, o padrão de distribuição da resistividade elétrica ao longo das profundidades investigadas, especialmente nas linhas dispostas na zona ripária (C, D e E), forneceu informações da estratigrafia do solo, permitindo o delineamento da zona saturada nas regiões com resistividade abaixo de 3.000 Ω.m. Esse valor foi característico a 15 m de profundidade na porção da vertente próxima ao córrego Capetinga, estando associado à redução na amplitude de distribuição dos dados de resistividade elétrica em comparação ao solo superficial. Os levantamentos geofísicos realizados entre agosto de 2015 e fevereiro de 2016 reforçaram então a premissa de que à medida que o solo tende à saturação, reduz-se a faixa de variação temporal dos valores de resistividade em conjunto com a ocorrência de anomalias de baixa resistividade.

A diferenciação das camadas do solo a partir do método elétrico de corrente contínua deveu-se então à redução gradual dos valores de resistividade, na zona considerada saturada, e da amplitude de variação dos mesmos. Tratando-se de registros instantâneos, os resultados do imageamento elétrico possibilitaram retratar a conformação do solo, considerando a influência da heterogeneidade do meio. Foi possível então representar a estratigrafia geoelétrica da vertente ao longo do período de estudo e associar essa informação ao processo de modelagem.

Além disso, a variação temporal dos valores de resistividade pode ser considerada um indicativo do comportamento sazonal da água no solo, com eventual redução da umidade e da posição do lençol freático em decorrência dos eventos de estiagem. Entretanto, a caracterização geoelétrica requer mecanismos que possibilitem sua validação, com o monitoramento direto da água nas zonas de umidade e de saturação, bem como com a determinação de características físicas que possam influenciar no potencial elétrico natural e na passagem da corrente elétrica no solo. Neste estudo, a medição da umidade não possibilitou comparação com dados geofísicos em função da discrepância entre as profundidades investigadas por ambos os métodos. Além disso, a caracterização física do solo, importante para ampliação das inferências a partir dos dados de resistividade elétrica, não pode ser realizada.

Os dados de umidade gravimétrica, considerados padrão em decorrência da determinação direta, possibilitaram inferências quanto ao comportamento da água num perfil de solo com 1 m de profundidade. Apesar de não terem sido correlacionados à resistividade elétrica, foi realizada a comparação desses com os dados obtidos de modo automático (sonda TDR). O método gravimétrico faz-se necessário então para a aquisição de dados que possibilitem a calibração e validação dos métodos indiretos aplicados para mesma finalidade, atribuindo maior confiabilidade aos resultados gerados. Contudo, sua aplicação é dispendiosa, sendo importante a automatização no processo de aquisição de dados, favorecendo a ampliação das escalas de monitoramento temporal e espacial.

A utilização do equipamento TDR e dos blocos de gesso se deu com esse intuito. Porém, a curta série temporal de dados para ambos os casos reduziu a possibilidade de análise e discussão dos mesmos. Tais resultados foram apresentados apenas para comparação com aqueles obtidos pelo método gravimétrico, numa tentativa de automatização do processo de monitoramento da umidade do solo. Apesar das limitações, o trabalho experimental de monitoramento da umidade do solo consistiu numa etapa inicial de aquisição de dados que, ao serem ampliados, irão subsidiar a compreensão dos processos hidrológicos na zona não saturada, com dados primários importantes para o estudo de processos hidrológicos em escala de vertente.

Considerando a condutividade hidráulica de 0,04 m/dia num perfil bidimensional vertical de solo obteve-se convergência numérica para simulação dos valores de carga hidráulica. De modo geral, o escoamento de base estimado a partir do FEFLOW foi condizente com os valores determinados por meio do filtro matemático proposto por Arnold e Allen (1999). Contudo, a calibração da recarga, bem como da condutividade hidráulica, pode favorecer um ajuste mais adequado dos valores de escoamento de base calculados, especialmente na fase inicial da simulação em regime transiente. Além disso, a abordagem de outras estratégias de discretização temporal e aperfeiçoamento da discretização espacial podem favorecer a adequação dos resultados.

Sugere-se, desse modo, em função dos resultados identificados, a continuidade dos trabalhos no intuito de ampliar a caracterização dos processos hidrológicos na vertente do córrego Capetinga. É recomendado o aprofundamento da análise correlata entre a resistividade elétrica e a umidade do solo, além da incorporação de outras variáveis igualmente interdependentes, tais como textura e matéria orgânica. Quanto ao processo de modelagem, a aquisição de dados altimétricos com resolução adequada à escala de vertente poderá reduzir as incertezas associadas aos dados de entrada utilizados na simulação do fluxo subterrâneo.

Além disso, faz-se necessária a perfuração de novos poços de observação do nível freático, para a validação dos resultados obtidos a partir das ferramentas geofísica e de modelagem numérica. Com isso, a ampliação na escala temporal dos dados ao longo da vertente e o aperfeiçoamento do arranjo experimental podem ampliar o entendimento dos processos hidrológicos na vertente, com destaque para a relação geofísica – modelagem e os reflexos nos estudos hidrológicos em escala de bacia hidrográfica.