O presente trabalho representa a primeira descrição neurofisiológica do EV. Foi plenamente alcançado o primeiro objetivo específico do trabalho, a partir da análise topográfica da potência do EEG em distintas bandas de frequência, nas condições Basal, Relaxamento e EV, em sujeitos experientes e iniciantes na técnica do EV. O segundo objetivo específico foi apenas preliminarmente alcançado, através da mensuração de memória de curto prazo antes e depois do EV, em ambos os grupos de sujeitos. Não foram observadas diferenças no teste de memória, mas variações no tempo de exposição das palavras tornaram o experimento inconclusivo. Outros estudos precisarão ser realizados para buscar aferir se o EV tem ou não influência nos processos mnemônicos.
Os resultados da análise do EEG revelaram uma diminuição da potência na faixa espectral teta 1 no GEXP, quando comparado ao GCONT, além da diminuição do teta do Relaxamento para a condição de EV, nesse GEXP. Tais resultados diferem de certos estudos que encontraram aumento nos ritmos teta para alguns tipos de meditação, levando a considerar-se a hipótese de que este aumento esteja mais relacionado à sonolência do que a estados meditativos relatados em outros estudos. Com relação à banda de frequência alfa, os resultados indicam que o incremento significativo do alfa 2 no GEXP, comparado ao GCONT, no eletrodo T5, e diferenças significativas dispersas por todo o escalpo, quando compara-se a condição Basal com as condições Não-EV e EV, sendo sempre menor na Basal, podem estar relacionados a processos atencionais, a exemplo de diversos estudos sobre técnicas meditativas citados na discussão.
No que concerne às bandas de frequência gama 1 e 2, os resultados encontrados sugerem a existência de diferenças significativas quando o sujeito está realizando o EV, comparando com as outras condições. Tais achados precisam ser corroborados através de análises mais detalhadas dos dados coletados, bem como de pesquisas futuras, que possam descartar a variável de interferência de artefatos musculares nestes resultados.
As sensações subjetivas devem ter substrato cerebral, mas são de difícil aferição, a exemplo dos estados de consciência relatados durante a prática de técnicas meditativas (FELL et al., 2010). No caso da pesquisa do EV, tentou-se suplantar esta dificuldade através da sinalização do início e término da percepção do EV, com uso de marcadores no EMG. Isso possibilitou a demarcação com maior precisão dos trechos dos registros de EEG que foram analisados. Estas demarcações objetivas coincidentes ao momento da percepção subjetiva do
EV poderão contribuir para a compreensão do correlato eletroencefalográfico do EV, em estudos futuros. Os registros do EMG também poderão possibilitar a verificação da existência de outros correlatos fisiológicos do EV.
Slagter et al. (2007) consideram que o maior ingrediente da meditação é o treino mental da atenção. Devido às similaridades entre padrões de ondas, principalmente de frequências mais altas, entre os sujeitos experientes no EV e os meditadores experientes, e que segundo Vieira (1986), Alegretti (2008) e Trivellato (2008), o EV precisa de treino contínuo com a atenção focalizada, levanta-se a hipótese da influência do EV nos processos atencionais.
Com relação à banda de frequência gama, faz-se necessário ainda, a análise da correlação dos dados encontrados com possíveis interferências de artefatos musculares e/ou oculares, podendo-se procurar replicar as análises feitas por Lutz et al. (2004). Esta análise poderá nos dar uma maior segurança de que as alterações encontradas possuem origem cerebral.
Existem muitas variáveis, tais como diferenças socioculturais, dieta, sono, atividade física, idade, estado de humor e ansiedade, que podem influenciar os resultados da pesquisa do EV e que ainda não foram analisadas. Considera-se importante, consequentemente, a realização de pesquisas longitudinais, associando o imageamento cerebral da prática do EV a medidas da fisiologia geral dos indivíduos, bem como de processos cognitivos e comportamentais. O presente estudo sobre o EV é um primeiro passo para que se possam desvendar os mecanismos neurais relacionados a esta técnica mental simples e de fácil aplicação. Diversas pesquisas apontam para os usos terapêuticos e incrementos de processos cognitivos e mnemônicos através de técnicas meditativas. Assim, será importante, futuramente, aferir a influência do EV em diversos aspectos da saúde física, mental e emocional dos sujeitos que apliquem esta técnica, tais como: diminuição de ansiedade, estresse, depressão, dor e déficits de atenção, bem como o aumento de sensações de bem-estar e de maior tranquilidade.
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