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Esse estudo estudou as variáveis que potencialmente influenciam na

emissão de bonds corporativos no exterior, analisando os lançamentos de

títulos ocorridos entre janeiro de 1995 a julho de 2012. Os dados de emissão

foram extraídos da base Thomson One - Reuters e da ANBIMA. Foram

retirados da amostra os títulos públicos ou de empresas estatais, assim como

as instituições financeiras e de real estate.

A partir da análise descritiva, foi possível verificar que no mercado

brasileiro predomina a remuneração flutuante, e no exterior, a remuneração

fixa. A empresa emissora, quando recorre ao mercado internacional atraída

pelas menores remunerações, se adequa às características externas,

oferecendo remuneração fixa para seus bonds.

Essas mesmas empresas que emitiram seus títulos de dívida em

outros países e que geralmente apresentam baixos riscos de crédito

(comprovado por seus bons níveis de rating) obtiveram remunerações

atraentes. Já o mercado nacional apresentou um spread que aparenta oscilar

de acordo com variáveis não econômicas, conforme já havia sido comprovado

por Fraletti e Eid Júnior (2005).

Para determinar os principais determinantes das emissões

internacionais de empresas brasileiras, foram definidas 8 Hipóteses, a fim de

justificar as escolhas das variáveis inseridas no modelo. Foram utilizadas duas

equações que foram estimadas conjuntamente, segundo a metodologia do

probit bivariado (biprobit). Foi utilizada essa abordagem a fim verificar uma

possível evidência de endogeneidade existente entre a solicitação de rating e a

intenção de ir para o mercado internacional, o que se mostrou válido.

A Hipótese 1 referente à importância de emissão de ratings para

diminuir a assimetria de informações entre a empresa emissora e o possível

investidor estrangeiro, se mostrou válida, agregando 72% na probabilidade de

ir para fora. Tang (2009) já havia defendido a ideia da assimetria de

informações que o rating busca minimizar.

O diferencial entre a taxa de juros brasileira e a internacional,

conforme definido na Hipótese 2, também apresentou influência positiva. No

entanto, o efeito marginal dessa variável é praticamente zero. Black e Munro

(2010), Petrasek (2010) e Gozzi et al. (2012) já haviam corroborado que o

mercado internacional possui maior interesse pelos papéis estrangeiros,

refletindo em menores taxas de remuneração.

Empresas brasileiras recorrem ao mercado externo buscando

maiores prazos para suas dívidas, conforme definido pela Hipótese 3 e foi

mostrado no resultado desse trabalho. Os prazos maiores influenciam essa

decisão em 6%.

O Risco-País não interfere na emissão externa (Hipótese 4).

Acredita-se que o investidor estrangeiro assume que o risco da dívida está

atrelado à moeda de emissão (que majoritariamente é estrangeira), e não ao

país do emissor, o que pode ser influência dos mercados dessas empresas não

estarem localizados somente no Brasil.

O volume (Hipótese 5) apresentou ser uma importante variável na

decisão do empresário brasileiro em emitir sua dívida no exterior, de acordo

com a Hipótese 5: sua influência positiva de 4% vai de encontro a resultados já

verificados em outros trabalhos (Petrasek (2010) e Gozzi et al. (2012)).

O câmbio fixo, ao contrário do que foi defendido na Hipótese 6,

mostrou-se com impacto positivo e relevante para a emissão no exterior, em

27%. Emissões ocorridas antes de 1999 mostraram-se mais atraentes aos

olhos dos emissores nacionais, que conseguiram lançar seus papéis nos

mercados externos.

Já a crise de 2008 (Hipótese 7) realmente impactou negativamente

no acesso ao mercado internacional, indo contra o estudo de Gozzi et al.

(2012), que havia concluído que as emissões internacionais não haviam sido

afetadas pela crise econômica iniciada em 2008. Houve redução de 15% da

probabilidade de emissões fora do País.

A liquidez externa (Hipótese 8) contribui positivamente nas emissões

para o exterior. No entanto, seu impacto é praticamente nulo.

É importante também ressaltar que o mercado de dívidas

corporativas ainda é incipiente no país, mesmo considerando as emissões

ocorridas no território nacional. Houve um considerável avanço nos últimos

cinco anos (2008 a 2012), mas ainda há dificuldade para as empresas

brasileiras recorrerem ao mercado de capitais.

Como sugestão para futuros trabalhos, seria interessante utilizar

outras agências de rating (como a Standard & Poor’s e Fitch) para aumentar o

número de bonds que contenham a nota de crédito no momento da emissão.

Também pode-se pensar em outras potenciais variáveis para determinação de

remuneração de dívidas corporativas para verificar se há outras influências que

facilitam ou dificultam a emissão externa, tais como indicadores que reflitam as

condições econômico-financeiras das empresas a serem analisadas.

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