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CONCLUSÃO

No documento DADE FER Porto, 2 CHADO M (páginas 126-130)

Ao discorrermos a respeito dos conceitos de adolescência e adulto jovem, percebemos que estes sofreram alterações com o passar dos anos. A adolescência sequer existia, da forma como a conhecemos hoje, antes do período industrial. Antes, o indivíduo deixava de ser criança para tornar-se adulto e com isso adquiria mais responsabilidades.

Hoje, a adolescência começa mais cedo e termina mais tarde, mas os teóricos já não conseguem mais precisar, com rigidez, a idade que limita uma fase ou outra. A fase adulta está subdividida – adulto jovem, adulto médio e adulto maduro, cada etapa destas implica em comportamentos esperados, porém sabe-se da variabilidade que estas sofrem, de acordo com a cultura, época ou situação socioeconómica.

O mesmo ocorreu com a escolha profissional e consequentemente com a orientação profissional. O período industrial foi o divisor de águas, até ele os sujeitos recebiam dos pais as profissões que exerceriam, não havia dúvidas, porque o caminho estava trilhado. Após este período e com a disseminação dos testes psicotécnicos, passou-se a colocar o homem certo no lugar certo. Bohoslavsky (2007) chamou de psicologia actuarial a ciência que promovia trabalhos voltados a Orientação Profissional, baseado apenas na aplicação de testes.

Ao passar dos anos, os conhecimentos a respeito do ser humano foram evoluindo conforme às descobertas tanto científicas, quanto antropológicas ou sociais. Ora, se durante um período havia a certeza de que um indivíduo não era mais considerado adolescente e já era adulto, também deveria haver certezas a respeito das escolhas profissionais, e os testes vocacionais proporcionavam tais certezas.

Hoje, os cientistas sociais têm cuidado ao firmar uma teoria como verdade absoluta, pois a relativização faz com que exista a compreensão, por parte dos estudiosos, que um fenómeno, um fato ou um comportamento considerado normal numa sociedade, para outra pode ser abominável. Portanto, os papéis atribuídos ao género, ao

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adolescente ou ao adulto, entre outros, são norteados pelo contexto ao qual o sujeito está inserido.

De início, nesta pesquisa, imaginamos que os sujeitos pertencentes à classe mais abastada teriam maior facilidade para escolher o curso pretendido, para preparar-se para ingressar no mercado de trabalho.

Os índices apresentados nesta pesquisa mostraram que, realmente, o indivíduo com boas condições financeiras têm suas chances aumentadas para conseguir um trabalho, uma vez que eles permanecem mais tempo na escola, e ainda acedem a outros conhecimentos fornecidos pelo convívio com os pais, que já têm ensino superior e podem pagar por cursos de idiomas, por exemplo. Por outro lado, destes sujeitos é esperado que eles sigam ou superem seus pais via a escolha de cursos com alto status social.

Os indivíduos pertencentes à classe popular conseguem ou almejam superar seus pais, uma vez que eles têm apenas ensino fundamental incompleto. Porém, estes enfrentam outras barreiras para atingir seus objectivos, tais como a dificuldade de manter-se na escola, preparar-se, adequadamente, para prestar um concurso, para fazer vestibular. Quando o caminho que eles almejam é a faculdade, como é o caso da amostra desta pesquisa, verificamos que eles precisam encontrar tempo para trabalhar e estudar, e ainda achar um curso que lhes interessam, dentre uma minoria oferecida à noite, nas instituições públicas.

Esta pesquisa não tem a intenção de generalizar conclusões a respeito da determinação do meio sobre os indivíduos, porém pretendemos sim reafirmar que tanto os processos de orientação profissional, quanto às políticas de governo (brasileiro) precisam ser repensados.

Constatamos, através desta pesquisa, que a escolaridade dos pais pode ter influências tanto positivas quanto negativas, elas podem incidir directa ou indirectamente nas escolhas dos indivíduos. A influência é positiva quando serve de orientação e de aquisição de conhecimentos a respeito do mercado de trabalho e das

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profissões. Aqueles pais com maior escolaridade, também são os que mais recebem, portanto, podem oferecer melhores condições de estudos aos filhos.

A influência é negativa, quando os sujeitos ficam alienados às condições paternas, aqueles pertencentes aos estratos económicos mais favorecidos, têm suas escolhas baseadas no mercado de trabalho, provavelmente, porque pretendem manter o status familiar.

Os indivíduos oriundos de classe popular, em função das restrições económicas, precisam trabalhar e estudar, pois as actividades dos pais não são suficientes para cobrir todas as despesas. Os pais destes sujeitos, possuem baixa escolaridade, levando-os a exercer profissões de menor status, portanto, menor remunerada. Resta a estes sujeitos que precisam trabalhar durante o dia uma quantidade menor de alternativas, pois os cursos nocturnos ainda são minoria nas instituições públicas.

Esta pesquisa contribuiu para que reflectíssemos a respeito da importância de um trabalho voltado à orientação profissional, ao mesmo tempo em que ratifica, o que outros pesquisadores já afirmaram sobre a necessidade de adequar os métodos conforme a situação socioeconómica dos indivíduos.

Ao afirmarmos isto, não queremos passar a ideia da criação de guetos, e de reservar aos que detém o poder as possibilidades de escolhas voltadas ao ensino superior, e manter o sujeito de classe popular como empregado, exercendo actividades rotineiras e de nível inferior.

Acreditamos, porém, que se realizarmos uma orientação profissional padronizada, desconsiderando a realidade dos sujeitos, estaremos gerando ainda mais sofrimento, pois ao trazemos à tona, via os testes e inventários de interesses, todos os seus desejos e habilidades, se ele não poderá realizá-lo, pois não tem condições financeiras necessárias, para preparar-se para o concurso e tão pouco para custear o curso.

Alguns pesquisadores já comentaram e gostaríamos de reforçar que os instrumentos utilizados em orientação profissional, ainda são transportados de pesquisas norte-americanas e padronizados para um tipo único de classe social.

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Em orientação profissional, ainda, trabalha-se enfocando os cursos universitários. São raros os trabalhos que norteiam suas actividades e técnicas conforme a classe social do sujeito. São raros os trabalhos realizados com populações carentes, e quando realizados, muitas vezes, não são adequados a realidade dos mesmos, gerando mais angústia e sensação de impotência.

Entendemos a partir desta pesquisa, que a situação socioeconómica do indivíduo tem grande influência sobre suas possibilidades de acesso ao conhecimento, tanto básico, quanto superior. Se a comunidade, os cientistas sociais e o governo deixar de lado esta realidade, terão cada vez mais um contingente de pessoas exercendo actividades de forma automatizada, sem desejo, sem satisfação e sem sentido, apenas esperando a aposentadoria chegar.

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No documento DADE FER Porto, 2 CHADO M (páginas 126-130)

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