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9.1 - Conclusão

É indiscutível a evolução tecnológica que a sociedade sofreu a partir da década de 60. Embora o desenvolvimento industrial tenha trazido várias conseqüências ao meio ambiente, não se cogita a reversão do processo de industrialização com a negação da comodidade e conforto causado pela aquisição de bens de consumo extremamente úteis ao cotidiano moderno, além da geração de renda observada particularmente nos países industrializados.

Este raciocínio poderia até ser complementado com a máxima “tudo tem seu preço”, se não fosse o processo de expansão dos efeitos da atividade industrial estendendo-se além dos países onde estão localizadas as unidades produtivas, fazendo com que indivíduos e estados pagassem o custo ambiental provenientes dos bens, conforto e progresso que eles desconheciam. Para conter esses efeitos, diversos encontros, conferências e leis surgiram discutindo propostas e soluções culminando com a situação atual onde o setor industrial têm consciência dos custos e benefícios de ser ambientalmente saudável.

No entanto, não é tão simples incorporar a consciência ambiental no empresariado nacional. É um equívoco esperar que a conscientização se dê da mesma forma como ocorreu nos países industrializados, onde são dados subsídios para a despoluição e onde as facilidades para obter financiamento, e investir em novas tecnologias, são bem mais amigáveis. Se os países industrializados já transpuseram a fase corretiva da poluição, buscando alternativas para reduzir e eliminar os resíduos, as empresas brasileiras ainda estão vivenciando uma fase anterior onde o controle e fiscalização vem dos órgãos ambientais, onde recursos humanos são mal-remunerados e a tecnologia encontra-se obsoleta em relação às modernas máquinas e processos de produção que foram aparelhadas as indústrias.

Ao mesmo tempo tem-se, por força da globalização de mercado, a procura pela adequação ambiental das empresas caso contrário as que exportam poderão

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ter seus produtos barrados no comércio internacional, um mercado competitivo que exige qualidade e poluir é um item que cada vez mais toma-se um fator de não- qualidade. Assim como ocorreu nos programas de Qualidade e Produtividade, onde o sucesso foi decorrência das necessidades impostas pelo mercado, espera-se que este mesmo mercado, através das restrições à atividade produtiva que cause dano ambiental seja capaz de alavancar um processo de mudança para uma postura ambiental mais ativa.

Enfim, no país dos contrastes, o nível da conscientização ambiental é tão diverso quanto o próprio parque industrial brasileiro. Existem algumas “ilhas” de modernidade, competência e eficiência, onde a conscientização ambiental já vem sendo exercida há muitos anos acompanhando a evolução mundial. Em outras, o que constitui a maioria, a conscientização sobre as vantagens de ter sua atividade desenvolvida de forma sustentável e ecológica ainda são desconhecidas, e qualquer ação nesse sentido, quando existem, são provenientes de uma postura defensiva.

E em Santa Catarina e especialmente o setor investigado, isto tomou-se evidente. Em uma região onde estão concentradas algumas das maiores indústrias têxteis do país, muitas até exportadoras, deparou-se com uma situação crítica de degradação ambiental: a poluição nos rios da bacia que banha o Vale do Itajaí.

O processo de redução da carga poluidora existente nos efluentes despejados, foi iniciado a partir das sanções punitivas e fiscalizadoras provenientes das agências governamentais, ações estas institucionalizadas através do programa de recuperação ambiental da bacia hidrográfica do rio Itajaí-Açu.

Com o estudo conduzido pela metodologia da Análise de “filière”, constatou-se que no decorrer do programa, houve particularmente nas empresas que mantinham relações com o mercado externo, uma evolução na incorporação da variável

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ambiental a nível estratégico, enquanto que outras permaneceram em caráter puramente defensivo, pois segundo entrevistas colhidas em algumas empresas da “filière”, a implantação de estações de tratamento era tão somente para satisfazer as exigências da FATMA ou para “acalmar os ânimos” da população vizinha.

Finalmente, se o mercado adotasse definitivamente dentro das limitações existentes, mecanismos e instrumentos para a proteção do meio ambiente contextualizando uma situação onde os custos ambientais estariam incorporados, os

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órgãos ambientais seriam cada vez menos necessários, a consciência ambiental das empresas - reflexo de uma necessidade de sobrevivência - seria mais eficiente e o meio ambiente seria mais saudável. Emboi^pareça ser um discurso retórico, o desenrolar dos acontecimentos sinaliza para que esta situação prevaleça.

Com isso conclui-se que este trabalho é uma contribuição para as empresas que procuram adequar-se ambientalmente seja por força dos mecanismos de controle ou por ação do mercado, já que incorpora a variável ambiental em estudos de comportamento de um setor, contribuindo para sistematizar abordagens integradas ao meio ambiente que certamente serão indispensáveis para elaborar as eco-estratégias empresariais.

9.2 - Sugestões para futuros trabalhos

A partir da realização deste trabalho, detectou-se a necessidade em realizar estudos complementares, os quais destacam-se:

• verificar a utilização da Análise do ciclo de vida do produto na leitura técnica e econômica da “filière”;

• realizar um estudo sobre uma “filière” ideal para o as empresas estudadas, ou seja, propor a reconcepção do sistema, onde suas atividades seriam o mais eficiente possível nos contextos econômico, técnico e ambiental;

• relacionar na análise técnica e econômica da “filière” os aspectos relacionados a custos e como estes são repassados ao consumidor, bem como seu reflexo na competitividade;

• complementar este trabalho com estudos sobre a influência dos consumidores “verdes” no mercado interno e externo;

• aplicar a Análise de “filière” com a incorporação da variável ambiental a outros segmentos industriais, tais como metal-mecânico, cerâmico, e agro-indústrias;

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A realização de trabalhos com base nas sugestões propostas certamente irá enriquecer a escassa literatura sobre Análise de “filière”, bem como as pesquisas sobre a implementação de eco-estratégias em importantes segmentos industriais do estado.