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O desenvolvimento desta pesquisa se originou devido a vivencia do pesquisador com os trabalhadores de enfermagem que faziam uso de medicamentos sem a consulta de profissionais adequados ou informações adequadas, pondo em risco sua própria saúde, e também a de seus colegas de trabalho que sofrem junto às consequências, estas podendo então refletir nos pacientes, alvo do cuidado de enfermagem.

Quanto ao método escolhido para tratar do tema em questão compreendemos que nenhum método é bom o suficiente para alcançar todo o assunto, que não é esse o objetivo do estudo, mas permitindo uma construção correta dos dados através de apropriado objeto de investigação e bons elementos para análise, torna-se então um bom método, capaz de detectar um mundo de significados com base na prática dos sujeitos, o significado da ação humana. A abordagem qualitativa aproxima então o sujeito do objeto, pois mostram os motivos, as intenções e tornando significativas as ações e relações destes.

A automedicação é uma realidade crescente e está presente no cenário mundial, praticada por diversas classes sociais e povos, gerando um grande problema de saúde pública. Nos trabalhadores da saúde, esta prática está ligada ao ambiente de trabalho, devido às facilidades de acesso ao medicamento, a conseguir legitimar o ato de se automedicar através de receitas fornecidas por médicos sem a realização de consulta, a prática do profissional com a medicação é outro influenciador da automedicação.

Este estudo pode atender aos objetivos de conhecer os motivos e valores que levam os trabalhadores de enfermagem em terapia intensiva oncológica a utilizarem a automedicação, identificando assim as concepções sobre o uso da automedicação, traçando análise do significado da adoção da automedicação e formulando estratégias de comunicação para orientar o trabalhador ao uso seguro dos medicamentos.

A formação teórica aliada à prática do cotidiano com os medicamentos torna o profissional de enfermagem conhecedor das patologias, das sintomatologias e dos medicamentos utilizados para os tratamentos. Como pudemos levantar neste estudo, a maioria dos profissionais possuem mais de 6 anos de trabalho no serviço de enfermagem, respaldando esta formação prática.

Os trabalhadores de enfermagem da terapia intensiva oncológica entendem o que se define como automedicação, fazem uso da automedicação no seu dia a dia, citando os analgésicos e anti-inflamatórios como os medicamentos mais utilizados e demonstram de forma natural e aceitável o uso dos medicamentos para tratar seus problemas. Torna preocupante a admissibilidade do uso de drogas psicoativas como antidepressivos e ansiolíticos além dos antimicrobianos, com agravante para o abuso desses fármacos.

As complicações do uso de medicamentos são conhecidas pelos sujeitos da pesquisa. Os resultados mostram que muitos desses trabalhadores já tiveram algum tipo de complicações e outros vivenciaram experiências com colegas de serviço, algumas levando a internação do trabalhador e manifestações graves.

Para ter acesso aos medicamentos, os sujeitos do estudo incorporam hábitos de consumo inerentes à população não trabalhadora de instituições de saúde, comprando os medicamentos nas farmácias, contando com a conivência desses estabelecimentos para adquirir qualquer tipo de medicação e ainda fazem uso de medicamentos fornecidos por amigos e parentes.

Dentre as particularidades dos trabalhadores da saúde, há facilidade para aquisição dos fármacos, através da rede de amizade que este nutre com outros profissionais como médicos e farmacêuticos, que fornecem receitas e medicamentos para os profissionais de enfermagem. Outra característica contundente é o uso dos medicamentos existentes no setor de trabalho, dado a sua disponibilidade e facilidade de acesso, por estar sob a guarda dos próprios trabalhadores.

As motivações para o uso da automedicação levantadas por este estudo foram o conhecimento proveniente da formação e da prática profissional, o fácil acesso aos medicamentos, a falta de tempo para se cuidar devido ao excesso de carga horária a cumprir, o descontentamento e falta de confiança no profissional médico, além da praticidade e dos hábitos culturais inerentes ao consumo de medicamentos. Não obstante destes citados, a influência da mídia e das propagandas pelas indústrias farmacêuticas foram lembradas como ponto de impacto na decisão do consumo de medicamentos.

Imputando cargas e responsabilidades à instituição de trabalho e às especificidades da enfermagem como profissão, associam que suas atividades adoecem o profissional, causando neles cansaço e dores, revelando sofrimentos e temores devido à terminalidade de vida e tratamento paliativo, que gera estresse sendo também por isso usuários de

medicamentos, além de dar estaque ao trabalho no serviço noturno como desgastante. Como característica relevante do estudo, concluem que trabalhar na enfermagem influencia diretamente na automedicação.

As instituições de saúde têm encontrado dificuldades para fornecer ao profissional melhores condições de trabalho, seja por baixa remuneração, elevada carga horária, condições de precariedade das instalações e equipamentos ou número insuficiente de profissionais, elevando a insatisfação e angústia, levando o trabalhador a desenvolver estratégias defensivas como rota de fuga, podendo refletir em abuso de psicofármacos e chegar até a morte destes profissionais.

O emprego da automedicação é controverso na sociedade e entre os trabalhadores de enfermagem, apesar disso apontam que a automedicação pode ser uma prática positiva, à medida que contribui para a redução dos atendimentos nos hospitais, reduzindo as ausências do trabalho, podendo ser aliado na redução das complicações de saúde e até contribuindo para o bem estar dos trabalhadores, mas não tirando de vista que é uma prática que pode provocar danos se usada sem responsabilidade.

Deste modo, compreendemos que os trabalhadores de enfermagem devem ter consciência quanto às dificuldades que enfrentam no labutar diário e reorientar suas ações e práticas tendo como alvo a promoção da saúde e prevenção de agravos. Para tanto, torna- se fundamental a implementação de ferramentas que possam auxiliar os trabalhadores de enfermagem no emprego seguro da automedicação.

Elevar o nível de informações, não apenas na quantificação, mas principalmente na qualidade de tais informações disponibilizadas aos trabalhadores torna-se fundamental, seja pelas peças publicitárias, seja no conhecimento das medicações e até nos medicamentos disponíveis para a terapia da automedicação. É levantada pelo estudo como possíveis estratégias a melhoria do atendimento médico ao profissional no ambiente de trabalho, melhor controle dos fármacos disponíveis no setor de trabalho e melhorias das condições de trabalho que cercam os profissionais, com a inclusão de espaços de socialização e terapias alternativas visando a qualidade de vida e qualidade do trabalho.

Acreditamos que este estudo pode abarcar contribuições para o ensino de enfermagem, para a pesquisa e para assistência e saúde do trabalhador de enfermagem.

Ao ensino, destacamos que o estudo dos medicamentos deve levar, desde a graduação e cursos de formação em enfermagem, a uma análise crítico-reflexiva pautada

nos princípios de beneficência e não maleficência, considerando a dimensão individual, cultural, econômica e social no processo de aprendizagem do trabalhador de enfermagem.

À pesquisa em enfermagem, elevar o conhecimento sobre o tema pode repercutir positivamente na construção das ações de promoção da saúde do trabalhador possibilitando a tomada de postura crítica sobre o emprego da automedicação, servindo do campo para a criação e implementação de novas políticas públicas sobre medicamentos e uso da automedicação e minimizando a lacuna do conhecimento sobre este tema.

Quanto à assistência e saúde do trabalho este estudo contribui para a reflexão das práticas do serviço de enfermagem, desde o serviço assistencial até as gerências, no que tange ao gerenciamento das políticas de saúde voltadas para os trabalhadores de enfermagem, constantemente expostos ao estresse inerente ao trabalho que desempenham, às más condições de trabalho, aos múltiplos vínculos e o acesso facilitado aos medicamentos, revelando os medicamentos mais consumidos pelos trabalhadores de enfermagem, contribuindo para desvelar o impacto do trabalho sobre a saúde e melhores condições de saúde deste trabalhador.

Faz-se necessário uma revalidação do autocuidado dos trabalhadores, haja vista que a negligência do cuidado de si, abdicar do tempo para si em prol do trabalho, remete a preocupação com o uso indiscriminado da automedicação. Os fatores educacionais podem contribuir para a automedicação mais segura e para a redução dos riscos. Vemos a necessidade de desenvolver projetos de educação em saúde para redução dos agravos decorrentes da automedicação.

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