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As crostas ferromanganesíferas (crostas de Fe-Mn) hidrogenéticas apresentam concentrações elevadas em diversos metais de interesse como o cobalto e níquel (Co e Ni). Diversos estudos indicam que estes elementos tendem a ser adsorvidos pelos coloides de Mn e, consequentemente quanto maior a quantidade de Mn na crosta de Fe-Mn, maior será o seu conteúdo em Co. Estudos realizados em crostas de Fe-Mn recolhidas nos oceanos Pacífico, Índico e Atlântico indicam que as crostas de Fe-Mn que se formam no oceano Pacífico, estão por norma, mais enriquecidas em Co e Ni do que as que desenvolvidas nos restantes oceanos. Porém, estudos preliminares realizados por Conceição (2013) em crostas de Fe- Mn recolhidas no NE Atlântico, mais concretamente na Zona de Fractura Este dos Açores e nos montes Atlantis, Great Meteor, Plato e Small Hyeres indicam que algumas amostras apresentam concentrações de Co equiparáveis com as médias observadas no oceano Pacífico. Para complementar os estudos realizados pela autora, nesta dissertação realizaram-se estudos petrográficos e geoquímicos de 11 amostras de crostas de Fe-Mn provenientes dos locais acima referidos. Neste trabalho também se pretendia fazer um estudo mineralógico das 11 amostras, contudo uma vez que as amostras foram cedidas sob a forma de superfícies polidas, não foi possível realizar este estudo.

O estudo petrográfico detalhado das 11 amostras demonstrou que as crostas de Fe-Mn são essencialmente constituídas por uma massa de cor cinzenta, não tendo sido possível individualizar os minerais que a constituem. A nível textural predominam as de natureza botrioidal, “micronodular” e colunar. Estas texturas sugerem a preponderância de um ambiente de energia intermédia durante a formação das amostras. Para além disso, foram também identificados possíveis níveis sedimentares, bioclastos e pequenos precipitados ricos em Fe ou em Ca. O estudo geoquímico das amostras sugere que as crostas de Fe-Mn da ZFEA e dos montes Atlantis e Great Meteor apresentam quantidades de Fe superiores às de Mn, e nos montes Small Hyeres e Plato a quantidade de Fe é semelhante à de Mn. A concentração de Co e de Ni em todos os locais é semelhante ou superior à média para o oceano Atlântico (0.36 a 0.26 wt%, respectivamente). Contudo apenas as crostas dos montes Small Hyeres, Great Meteor e Plato têm concentrações de Co equiparáveis às observadas no oceano Pacífico, com concentrações acima da média para este oceano (0.67 wt%). A concentração de Cu no monte Plato é semelhante à média do oceano Atlântico (0.09 wt%) e a ZFEA e o monte Great Meteor têm concentrações semelhantes ou superiores à média para o oceano Pacífico (0.10 wt%). O estudo detalhado da variação composicional entre camadas sugere que, por norma, há enriquecimento de Mn, Co e Ni para topo e um ligeiro empobrecimento de Fe no mesmo sentido.

De acordo com o gráfico de Bau et al., (2014) todas as amostras são hidrogenéticas, corroborado pela anomalia positiva de Ce típica das amostras de origem hidrogenética. A projecção das amostras no gráfico de Bonatti et al., (1972 in Conceição, 2013) e juntamente com as razões Fe/Mn de cada amostra, parecem sugerir que as amostras da ZFEA e do monte Atlantis são constituídas maioritariamente por camadas hidrogenéticas que se formaram num ambiente de margem continental. As amostras dos montes Small Hyeres e Great Meteor também foram consideradas como hidrogenéticas de margem continental, embora sejam constituídas pela mistura de camada hidrogenéticas que se formaram em ambiente de mar aberto e de margem continental. A maioria das amostras do monte Plato apresentam génese hidrogenéticas de mar aberto, excepto a D38-003 é hidrogenética de margem continental. A datação das amostras com base nos métodos empíricos propostos por Puteanus e Halbach (1988) e Manheim e Lane-Bostwick (1988) indicam que as amostras mais recentes foram recolhidas na ZFEA e no monte Atlantis e as mais antigas no monte Plato. A datação mais detalhada das camadas que constituem as amostras, permitiu datar os enriquecimentos observados nos mapeamentos por LA-ICP- MS, no entanto não foi possível encontrar qualquer relação entre eles, possivelmente por se tratarem de pequeno enriquecimentos locais.

A incorporação dos dados de geoquímica recolhidos nesta dissertação com os dados recolhidos por Conceição (2013), Muiños et al., (2013) e Marino et al., (2016) possibilitou definir com maior precisão os montes com concentrações de Co e de Ni mais elevadas. Comparando os montes entre si, observa-se que apenas os montes Great Meteor, Small Hyeres, Plato e Nameless apresentam concentrações de Co e de Ni iguais ou superiores à média para o oceano Atlântico. Embora não tenha sido possível distinguir novos critérios que permitam justificar o porquê de as crostas a Sul do arquipélago dos Açores

63 apresentem concentrações de Co e de Ni acima da média para o oceano Atlântico, pensa-se que tal singularidade possa dever-se a: (1) génese das crostas: as amostras constituídas maioritariamente por camadas hidrogenéticas de mar aberto são as que, de forma geral, apresentam maiores teores em Co (as dos montes Great Meteor, Small Hyeres e Plato) ou (2) taxas de crescimento lentas. Para além disso, o facto de os montes Great Meteor, Plato e Small Hyeres estarem afastados da Crista Média Oceânica e do arquipélago dos Açores também poderá influenciar a composição química das crostas.

No NE Atlântico, os montes com maior potencial para futura exploração seriam os montes Great Meteor, Small Hyeres e Plato, com concentrações médias de Co a variar entre 0.75 a 1.17 wt% e de Ni entre 0.30 a 0.37 wt%. A avaliação preliminar do potencial destes montes, sugere que haja um total de 3.64105 t de Co e 1.29105 t de Ni acima dos 2000 m. Assim, propõem-se que sejam realizadas novas

campanhas de amostragem nos montes Great Meteor, Small Hyeres e Plato com o intuito de recolher novas amostras de crostas de Fe-Mn, de preferência a amostragem deve ser feita in situ. A amostragem

in situ permite avaliar com maior precisão se a profundidade tem alguma influência nas concentrações

das crostas de Fe-Mn que se formam nestes montes. Também se propõe a realização de mapas de batimétricos e a recolha de imagens de back-scatter, com o intuito de estudar em maior detalhe a batimetria dos montes e de distinguir a áreas com cobertura de sedimento mais espessa. Por fim, deve- se datar as amostras recolhidas com métodos isotópicos com o intuito de tentar inferir a idade mínima dos montes submarinos, uma vez que as crostas que neles e formam são sempre mais recentes do que os montes.

A razão isotópica de Nd ao longo da amostra D38-008, recolhida no monte Plato, representa a variação isotópica da massa de Água Profunda do Atlântico Norte. O estudo desta razão isotópica, sugere que, ao longo do crescimento da crosta de Fe-Mn, o ɛNd tem vindo a diminuir, com valores a variar entre -

10.85 a -12.33. As idades das variações do ɛNd foramcalculadas a partir de dois métodos empíricos que,

posteriormente, foram comparados com outra amostra de crosta de Fe-Mn datada por 10Be, recolhida no

monte Tropic (121DK) (Koschinsky et al., 1996 in Abouchami et al., 1998; Abouchami et al., 1998). Esta comparação sugere que as idades obtidas com o método empírico de Puteanus e Halbach (1988) são mais semelhantes às idades obtidas através da datação isotópica com 10Be, para a crosta recolhida

no monte Tropic. Todavia, importa realçar, que esta conclusão baseia-se apenas numa amostra e que o estudo de um conjunto mais alargado de amostras pode conduzir a conclusões diferentes. Por outro lado, a datação da amostra D38-008 através do método isotópico de 10Be pode ser semelhante aos resultados

obtidos com o método empírico de Manheim e Lane-Bostwick, a neste caso a amostra seria mais antiga. Assim, num trabalho futuro, propõe-se que a amostra D38-008 seja datada através de datação isotópica (e.g. 10Be) com o intuito de determinar com maior precisão a idade da amostra e das variações de ɛ

Nd.

Para complementar as análises isotópicas de Nd, seria importante estudar os isótopos de Pb. Os isótopos de Pb, por apresentarem curto tempo de residência no oceano (inferior ao de Nd), apresentam padrões de ɛPb mais consistentes entre si, podendo ser comparáveis com as variações de ɛNd (Frank, 2002). Tal,

permitiria enquadrar de forma mais precisa as variações isotópicas observadas na amostra D38-008 num determinado evento geológico e compará-la com outras amostras recolhidas no Atlântico Norte.

Estudo geoquímico e mineralógico das crostas de Fe-Mn no Atlântico Norte

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