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A conclusão inicial que poderíamos chegar nessa pesquisa é que os professores não devem ser confundidos, em suas condições materiais de existência, com o sujeito social da revolução preconizado por Karl Marx e Friedrich Engels. Esse papel histórico pertence aqueles que efetivamente vivem do trabalho e produz a riqueza socialmente necessária, os proletários, entendidos aqui como todos aqueles trabalhadores cuja atividade promova uma transformação na natureza.

Os professores fazem parte de uma classe intermediária de trabalhadores assalariados, sendo uma classe auxiliar na reprodução do capital, podendo ser interpretada como uma classe social conservadora. Mas, por não ser uma classe social proprietária dos meios de produção e necessita vender sua força de trabalho para sobreviver, ela é uma classe que possui contradições com o sistema. Nessas contradições que ocorrem dentro de uma totalidade histórica existe um processo dialético que carrega embrionariamente o germe de uma nova sociedade.

Essa dialética se processa dentro de condições materiais que foram desenvolvidas pelo próprio sistema capitalista que criou as condições que permitem a existência da classe social necessária para a sua superação. Além disso, o desenvolvimento das forças produtivas e intercambio entre os seres humanos, mesmo que de maneira alienada, por meio de mercadorias, permitiu o surgimento do indivíduo tal como o conhecemos hoje. O indivíduo age dentro de uma generalidade numa relação dialética que o coloca contra o gênero humano, num caso de alienação capitalista, mas também o coloca contra a particularidade de sua classe, em alguns momentos permitindo o surgimento de uma consciência individual que questiona as ferramentas de opressão operadas por uma classe social dominante e reproduzidas por outras classes subalternas.

É nessa dialética que poderemos ter indivíduos propensos a dedicar suas vidas à luta pela emancipação humana. Entre os professores, existe uma série de condições que permitem esse avanço no nível da consciência (individual) e outros que, pelo contrário, os fazem regredir nesse sentido.

O elemento determinante da contradição entre capital e trabalho é que ela se dá na história, portanto, num processo de luta velado ou aberto, onde o sucesso de um dos lados necessita do apoio de outras classes para o seu projeto histórico. A burguesia trabalha para conservar o atual estado de coisas, ao passo que o interesse histórico dos proletários é a sua

emancipação. Essa luta pressiona as classes intermediárias que pendem para um dos lados. É possível existirem professores, médicos, advogados, intelectuais atuando e defendendo o projeto de emancipação proletária. Da mesma forma, é possível termos indivíduos das mesmas categorias defendendo a pauta conservadora da burguesia. Isso ocorre dessa maneira porque essa classe não é revolucionária ou conservadora em si mesma, mas suas consciências são disputadas pelas classes em contradição fundamental, burguesia e proletariado.

Como não se pode separar as categorias de classe, luta de classe e consciência de classe, temos que não existe em abstrato uma classe plenamente formada, mas em constante formação no plano real. Temos também que não é a simples localização dos indivíduos no sistema de produção que determinará a sua consciência de classe. Podemos concluir que médicos, professores, advogados, intelectuais que dedicam suas vidas à luta pela emancipação humana, estando por isso cada vez mais engajados nas lutas da classe que vive diretamente do trabalho, fazem parte da classe proletária, mas só enquanto lutam nessa perspectiva histórica. Se as suas lutas contribuem para a reprodução do capitalismo ou do reformismo, do stalinismo ou de outras degenerações eles não se constituem enquanto classe proletária, pois não contribuem para a sua consciência histórica. Antes, dificultam a formação desta.

Uma consciência de classe plenamente formada é algo que só é possível num momento revolucionário, capaz de ser verificada na ação concreta das classes em luta. Dizer que uma categoria profissional possui consciência de classe em todos os contextos históricos possíveis é uma especulação idealista. O que existe é um processo contínuo de formação de consciência que ocorre nas lutas.

Para os que almejam a emancipação humana existem diversas formas de luta, desde um curso de formação política num sindicato de base, passando por atividades de propaganda, como entregar panfletos, escrever jornais etc, participar de assembleias, fazer o debate político parlamentar, até a luta direta nas ruas por meio de greves, manifestações ou mesmo numa ação revolucionária.

Em todas essas formas de luta cabe a ação do professor. Atribuir ao educador o papel de apenas reproduzir o sistema é um forte equívoco de análise. As contradições desse sistema e a autonomia relativa da educação permitem aos professores uma condição de atuar constantemente nas lutas e ao atuar ele educa e é educado por elas, elevando seu nível de consciência política.

Ao lutar ele não luta em abstrato, mas dentro das condições reais de existência, portanto ele luta tomando lugar na contradição entre capital e trabalho. Se suas contradições com o sistema não o levam automaticamente para uma dos lados, devido ao peso do fator

subjetivo, as lutas se constituem no elemento central na análise de sua consciência. Se elas se restringirem às questões economicistas, sua consciência será influenciada pela burguesia. Se, ao contrário, nessas lutas eles perceberem que não basta lutar pela reposição da inflação ou por um benefício que o sistema pode retirar em outra conjuntura, eles darão um passo para uma consciência revolucionária.

Dessa forma, a formação da consciência de classe em todas as categorias profissionais é um processo contínuo, permanente, histórico cheio de contradições, de avanços e retrocessos, permeados pela mais intensa disputas de concepções políticas, somente sendo possível de ser analisado pela dinâmica das lutas concretas. O que distingue os professores, em particular os da educação básica, é a sua proximidade com a classe que vive diretamente do trabalho, tanto pela sua origem social como pelas suas práticas de luta.

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