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Esta dissertação buscou analisar o atual estágio de fragmentação e integração produtiva das economias latino-americanas através da análise dos fluxos comerciais por estágios de produção, especificamente partes e componentes e, por fim, desenvolver uma

proxy para mensurar integração regional para a América Latina por meio da construção

de um índice de importância relativa de partes e componentes.

A análise por estágios de produção seguindo a metodologia de Gaulier, Lemoine e Ünal-Kesenci (2004) apontou uma alta representatividade de bens intermediários na atual da pauta exportadora e importadora da América Latina. No entanto, a parcela que de fato compreende P&C (nessa forma de classificação) representou apenas 11,94% das exportações para o mundo e 22,1% das importações em 2016, intra-América Latina essa representatividade foi ainda menor, o que já via tal metodologia se confirma uma fraca participação da região em processos de fragmentação produtiva. Dentre os países latino- americanos, o México respondeu sozinho por 80,90% das exportações de P&C da América Latina com o mundo e 68,98% das importações, entretanto intra-América Latina representou apenas 13,20% das exportações e 23,36% indicando que não houve uma mudança no período recente das relações produtivas entre o país e o resto da região.

A metodologia baseada em Haltmaier et al. (2007) para P&C é mais abrangente do que a de Gaulier, Lemoine e Ünal-Kesenci (2004), de modo os valores encontrados mudam um pouco, mas os resultados se mantêm os mesmos. A participação de P&C nas exportações totais da América Latina é relevante, em 2016 foi de 25% da pauta exportadora e 40% da pauta importadora, entretanto isso não se refletiu em importância relativa no comércio mundial, apenas 3,9% das exportações mundiais de P&C eram oriundas da América Latina e nas importações 5,7%, resultados muito distantes dos apresentados, por exemplo, pela União Europeia 32,09% e 25,92% e Leste Asiático 23,51% e 23,90%.

O México se destacou na análise, por apresentar a maior representatividade no comércio internacional de P&C da região. No entanto, o bom desempenho mexicano se dá pela sua estreita relação comercial com os Estados Unidos através do regime de

maquilas, que impulsiona a sua indústria automobilística, mas também concentra a sua

pauta.

Há uma forte concentração na exportação e importação latino-americana de P&C nas categorias de comércio SITC 7 (Maquinário/ Equipamento de transporte) e SITC 6

(Bens Manufaturados). A concentração maior é na exportação dos produtos SITC 784

partes e acessórios de veículos motor e SITC 68 metais não ferrosos, o que se deve em

grande parte a indústria automobilística mexicana e a exportação de cobre chilena, respectivamente. A concentração de partes e componentes em alguns grupos e produtos específicos não é um fator favorável a integração produtiva, uma vez que de certa maneira limita o comércio a uma gama de produtos; uma pauta mais diversificada possibilitaria um maior dinamismo nas relações de trocas comercias.

Em relação aos parceiros comerciais, o principal destino das exportações e origem das importações de P&C da América Latina em todos os anos é a América do Norte, especialmente os Estados Unidos, entretanto o Leste Asiático vem numa trajetória crescente, ampliando via China sua presença nas redes de produção da região. O comércio intra-América Latina de P&C persiste baixo durante todo o período analisado, demonstrando que os países da região não só não estão caminhando para se integrarem em CGV como não parecem apresentar uma tendência de aumento da complementariedade produtiva regional.

Os resultados baixos dos índices de Importância Relativa de Partes e Componentes (IRPC) para cada país da região também confirmam o baixo grau de integração regional da América Latina. A correlação entre o PIB e o IRPC-AL negativa e entre o PIB e IRPC-RM positiva infere que quanto maior o PIB menor tende a ser a integração dos países intra-América Latina e maior a sua integração com o resto do mundo, explicitando grandes economias como Brasil e México, que poderiam ser grandes expoentes no processo de integração regional, continuam mantendo uma maior relação com os mercados externos à região ao invés dos seus vizinhos.

Em síntese, respondeu-se à pergunta norteadora desse trabalho: a América Latina continua participando pouco do processo de fragmentação da produção e apresenta um baixo grau de integração produtiva regional. Tal integração poderia trazer benefícios econômicos para a região, por meio da complementaridade produtiva, redução de custos de produção, aumento da competitividade internacional. Assim como ocorreu em outras regiões do mundo, tal como apresentado na revisão de literatura, uma relação sul-sul para além de uma mera relação comercial, ou seja, uma integração produtiva de fato pode incentivar um perfil exportador mais sofisticado e diverso, do que as trocas comerciais com os países desenvolvidos, que perpetuam a histórica disparidade centro-periferia uma vez que limita os países em desenvolvimento à meros exportadores primários ou de atividades de baixo valor agregado.

Não é possível responder com este trabalho quais os entraves para a integração produtiva latino-americana, apesar da questão histórica da forma que se desenvolveram essas economias, a questão estrutural, tentativas de integração via blocos sub-regionais, serem pontos relevantes. Faz-se, portanto, necessário um aprofundamento em trabalhos futuros sobre quais as principais variáveis que têm afetado e dificultado a integração na região.

A integração regional da América Latina pode ser uma saída à dicotomia comercial que parece estar se desenvolvendo entre os Estados Unidos e a China com a possibilidade de aumento do protecionismo nesses dois gigantes. A vulnerabilidade das exportações da América Latina e seu forte impacto nas economias nacionais num possível cenário de “guerra comercial” expõe a histórica dependência das exportações latinas ao mercado externo, o que pode ser minimizado com uma maior integração regional. A fragmentação e integração produtiva são fundamentais para uma maior troca de conhecimento, agregação de valor e tecnologia, e podem ser um meio para uma transição para uma pauta exportadora mais diversa e sofisticada tecnologicamente. Isso, por sua vez, pode proporcionar maior dinamismo aos países da região no comércio exterior e um maior fortalecimento econômico, tornando-os menos dependentes da relação centro- periferia e permitindo-os uma participação mais benéfica em CGV.