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CONCLUSÃO

No documento Governança corporativa (páginas 48-54)

Segundo Young e O’Byrne (2001), quando administradores de uma empresa não são seus proprietários, eles não priorizam a criação de valor. Gestores podem optar por privilegiar outras metas, eventualmente conflitantes com a criação de valor, como participação de mercado, satisfação do consumidor, empregos dos funcionários e volume de vendas. A existência de mecanismos de controle busca minimizar esse conflito de agência, alinhando interesses dos gestores aos dos acionistas. Assim, esse estudo tem por objetivo verificar se mecanismos de governança corporativa impactam na criação de valor de empresas não financeiras de capital aberto brasileiras e norte-americanas no exercício de 2016.

O Q de Tobin (QT) é a proxy considerada para aferir a criação de valor nas empresas, sendo a mais frequente nos estudos empíricos de governança – vide Quadro 2. Além disso, ela é uma medida de desempenho padronizada, devido à sua ponderação pelo ativo total, sendo calculada de acordo com a fórmula proposta por Chung e Pruitt (1994). Tal fato facilita a comparação de empresas de diferentes características.

Com relação às variáveis independentes – mecanismos de governança corporativa, estabelece-se as seguintes hipóteses de pesquisa: H1 - a existência de uma liderança combinada está negativamente relacionada com a criação de valor; H2 - uma maior proporção de conselheiros independentes está positivamente relacionada com a criação de valor; H3 - um maior número de membros do conselho está positivamente relacionado com a criação de valor; H4 - uma maior concentração acionária está positivamente relacionada com a criação de valor e H5 - a emissão de ADRs está positivamente relacionada com a criação de valor.

A análise dessas hipóteses é feita por meio de correlação e regressão com dados com corte transversal. Sobre os testes de correlação, verifica-se que todas as variáveis independentes possuem relação fraca com a variável QT – valores inferiores a 50%. Ainda assim, no caso das empresas brasileiras, as variáveis tamanho do conselho (TAMC), concentração acionária (CONC) e retorno do acionista (ROE) apresentam significância estatística e sinal de acordo com o esperado. No caso das empresas norte-americanas, também há evidências estatísticas de correlação fraca; porém, com sinal esperado, entre QT e CONC, tamanho da empresa (TAME) e ROE.

Os resultados dos testes de regressão desse estudo divergem daqueles da Tabela 1, com relação às variáveis independentes. A única variável estatisticamente significante em todos os modelos é a CONC, sendo que ela é inversamente proporcional a criação de valor, conforme apontado pela H4 - uma maior concentração acionária está negativamente relacionada com a criação de valor, confirmando a teoria da agência. Tal fato implica na prática que investidores e empresas que procuram uma maior criação de valor devem focar em maior pulverização acionária.

Quanto à não significância estatística dos demais mecanismos de governança corporativa, isso pode ocorrer devido às limitações metodológicas do estudo. Porém, também pode decorrer do fato de os agentes do mercado de capitais os atribuírem uma menor importância. Essa falta de relevância pode ocorrer devido às companhias de capital aberto já estarem em um patamar superior em relação à governança corporativa ou devido à observação de outros fatores que predominam na análise dos agentes do mercado de capitais.

Os resultados das variáveis de controle tamanho e rentabilidade apresentam significância e sinal do coeficiente de acordo com o esperado. Já a variável estrutura de financiamento, apesar de significante, possui sinal contrário ao esperado pela teoria. Assim, seu resultado impacta negativamente a criação de valor. Um dos motivos para tal é que o benefício para a governança é menor que o custo marginal da dívida.

A evolução desse tema pode ocorrer via análise de outros mecanismos de governança corporativa, tais como prazo do mandato, qualificação, disponibilidade de tempo, remuneração, número de reuniões e de comitês do conselho. Além disso, sugere-se ainda a análisugere-se de um horizonte de tempo maior ou diferente do verificado, do ciclo de vida da empresa, do seu setor de atuação e posicionamento competitivo. Também podem ser desenvolvidos estudos que considerem empresas de médio e pequeno porte - que estão em um nível inferior de práticas de governança - destacando quais são seus principais mecanismos de governança corporativa.

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