O presente estudo refere que a preparação da contabilidade, enquanto sistema de informação, tem que ter como objetivo a apresentação, aos seus utilizadores, de informação útil sobre a posição financeira, desempenho económico e fluxos de caixa de uma entidade. No entanto, os “escândalos financeiros” a que assistimos nas últimas décadas têm suscitado dúvidas quanto ao cumprimento deste objetivo. Neste sentido, procurámos, no presente estudo, relançar o debate acerca da temática da qualidade da informação, com especial atenção na utilização de técnicas de manipulação dos resultados. Por forma a enquadrar o leitor, foram primeiramente apresentados os principais métodos e incentivos para os gestores procederem à manipulação dos resultados. Incentivos estes que devem ser entendidos como produto do próprio mercado financeiro, dos interesses pessoais dos gestores (em particular, a remuneração dos gestores), da legislação e da regulamentação aplicável às empresas.
O presente estudo visa analisar, em particular, a realidade aplicável ao contexto empresarial português, procurando refletir as conclusões das evidências recolhidas, com enfoque na esfera das PME´s. Neste sentido, a presente análise teve como objetivo verificar se as empresas que apresentam simultaneamente AID e RT menores que zero e verificar se é possível captar este efeito através do apuramento de maiores níveis de rentabilidade nos exercícios seguintes. Poder-se-ia admitir, à partida, que tal relação seria facilmente comprovável, uma vez que as empresas ao contabilizarem AID relativos a prejuízos fiscais (e RT menores que zero), têm menos incentivos para manipular os resultados, transferindo resultados para o futuro, minimizando o pagamento de impostos e beneficiando da dedução de prejuízos fiscais anteriormente reportados. Todavia, a evidência empírica obtida a partir da estimação de modelos econométricos, a qual tem por base as amostras de estudo e a amostra de controlo, não foram totalmente conclusivos mas dão suporte às nossas conclusões. Não obstante, o presente estudo contribui não só com uma vasta literatura existente sobre o tema da manipulação dos resultados, como contribui também para um conhecimento mais profundo sobre os efeitos e comportamentos da realidade empresarial portuguesa, denunciando a existência de uma forte dependência entre a contabilidade e a fiscalidade ao nível de AID, o que permite a redução dos impostos a pagar pelas empresas.
Porém, ao longo da realização deste estudo debati-me com algumas limitações, o facto de não ser possível validar o período de reporte de prejuízos e de garantir que os AID são apenas respeitantes ao reporte de perdas fiscais não utilizadas e recuperáveis em períodos futuros tal como prescrito na legislação fiscal; o facto da esfera temporal em análise ser
limitada; e por último o facto de não conseguir capturar isoladamente o efeito dimensão das empresas e os incentivos fiscais deixando de parte os incentivos contratuais.
Como sugestão para investigações futuras, poder-se-ia tentar compreender quais os efeitos que podem estar na origem dos coeficientes das regressões apresentadas em separado para cada amostra e analisar se, de facto, a origem destes efeitos pode estar ou não associado à dimensão da empresa.
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