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A situação socioeconómica que Portugal atravessa acarreta vários problemas económicos, financeiros e sociais. Neste quadro a Economia Solidária parece adquirir uma nova expressão e oportunidade na alternativa que representa. É sobre a Economia Solidária que nos debruçámos, mas de uma perspetiva diferente uma vez que pretendemos com esta investigação perceber até que ponto esta economia `alternativa` é uma solução viável para os problemas que o país atravessa na opinião dos colaboradores que estão inseridos em instituições de economia dita alternativa. Partimos então para uma investigação com o intuito de responder à questão - O que concede a Economia Solidária de diferente aos indivíduos que trabalham nesta área?

A investigação inicia-se com uma reflexão acerca do que foi a crise de 2008-2009 e quais os seus danos no país, sobre o papel que a Economia Solidária ganha em contextos de crise; exploram- se os conceitos de Economia Solidária, Identidade Social, Inclusão Social e Inclusão Social ´alternativa´; cruza-se o conceito de Inclusão Social com as relações de trabalho e o trabalho em organizações de Economia Solidária.

Posteriormente ao quadro teórico e exploratório acerca do tema deu-se a investigação empírica. Nesse contexto foram entrevistados 19 indivíduos que trabalham em organizações de Economia Solidária no concelho de Alcobaça. As organizações contempladas neste estudo foram as seguintes: a Associação CEERIA, a Fundação Vida Nova, a Santa Casa da Misericórdia, o Montepio Geral e o Externato Cooperativo da Benedita. O concelho de Alcobaça foi caracterizado nos aspetos sociodemográficos.

No que diz respeito à parte empírica, o contato com as organizações de início não foi fácil. Inicialmente a opção por organizações na Área Metropolitana de Lisboa foi abandonada pelos contactos. Por razões de ordem pessoal (concelho de residência) e facilidade no optou-se concelho de Alcobaça. Relativamente às entrevistas e à sua realização, todo o processo correu dentro da normalidade, com rigor e organização, à exceção de duas entrevistas que se tornaram mais difíceis devido à recetividade por parte dos entrevistados, chegando mesmo uma delas a não ser realizada.

De acordo com a subjetividade dos indivíduos entrevistados neste estudo de caso percebe-se que a Economia Solidária é uma prática muito rica e com um grande retorno nas atividades que desempenha. Este retorno é plural além de uma componente profissional existe também uma grande componente pessoal de realização e desenvolvimento.

Trabalhar em organizações de Economia Solidária permite aos indivíduos criarem uma identidade social e possibilita-lhes a sua inclusão social. De encontro às dimensões analisadas - identidade social e inclusão social – percebe-se que esta outra economia possibilita aos seus

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colaboradores interações sociais, que através de vínculos de proximidade, condições de trabalho e valores semelhantes, mudanças de comportamentos e atitudes com um objetivo comum, lhes permitem criar uma identidade social e sentirem-se incluídos na sociedade. A inclusão social só é possível após a criação de uma identidade, do encontro de uma função na sociedade, de compromissos e valores partilhados por outros. A inclusão social e a identidade de um indivíduo têm uma grande expressão pela via das relações de trabalho. Neste estudo confirma-se o que foi explorado na discussão destas dimensões. Através da subjetividade dos indivíduos percebe-se que o trabalho e as relações que este proporciona têm uma grande influência na inclusão social e na identidade do indivíduo. As relações laborais são vividas pelos trabalhadores de uma forma muito próxima, existe uma grande cooperação entre colegas de trabalho e superiores, uma grande humanização das relações sociais, cooperação e grande envolvimento de cada trabalhador na organização, além do apelo à participação, aspetos que refletem a gestão participativa e democrática das organizações estudadas.

De acordo com os testemunhos dos indivíduos percebem-se as fortes relações sociais e os laços que se criam, permitindo a formação de identidade através das semelhanças que os aproximam.

Os valores que são pedidos aos indivíduos com que trabalhem também mostram as mudanças de comportamento possíveis com o trabalho numa organização com estas particularidades. Estas mudanças percebem-se quando os indivíduos são confrontados com as mudanças que sentiram acontecer e as respostas incidem sobre o olhar do mundo ao seu redor, a importância de pequenas coisas, a consciencialização dos problemas sociais, o sentimento de humanização, evolução profissional e integração.

Observa-se também que outra vertente da pluralidade da Economia Solidária é a mudança que esta provoca na vida dos indivíduos, a mudança na vida em geral, a mudança na consciencialização dos problemas sociais e a mudança na ajuda aos outros. Todas estas mudanças se tornaram muito profundas na vida dos indivíduos inquiridos. O trabalho em organizações de Economia Solidária constitui um importante articulador de relações sociais e um fator de identidade social e inclusão social. Um emprego numa organização deste tipo vai muito além de um rendimento, é uma mudança de vida e de postura diante da sociedade onde o indivíduo se insere.

Como hipóteses de futuras investigações sugiro: a) a investigação através de histórias de vida de modo a que se percebam todas as mudanças que a Economia Solidária provoca nos indivíduos; b) um estudo de caso com que permita perceber a trajetória de vida de indivíduos que se encontrem em situações sociais e económicas vulneráveis e que colaborem ou que de alguma forma estejam envolvidos em organizações de Economia Solidária.

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