• Nenhum resultado encontrado

O estudo dos casais inférteis é sempre difícil de pontuar temporalmente, no sentido em que a infertilidade, mais do que um diagnóstico clínico definitivo e restrito a um dado momento, constitui um processo longo, com difícil definição do seu início ou fim. Para alguns casais, pode começar logo nos primeiros meses após a decisão de ter um filho, em que se abandonam os esforços para evitar uma gravidez; para outros, pode iniciar-se apenas quando decidem procurar ajuda pela dificuldade em engravidar ou até mesmo após a confirmação do diagnóstico pelo médico. Também o fim deste processo pode ser ambíguo, pois se alguns casais optam por finalizar os tratamentos e todos os esforços para engravidar, aceitando a sua condição de ‘sem filhos’, para outros, mesmo após o final dos tratamentos fica a expectativa de engravidar espontaneamente (Wirtberg et al, 2007 citados por Ramos, 2011).

Durante a realização deste estudo recorreu-se a uma revisão da literatura que procurou ser o mais atual possível, de forma a aprofundar e consolidar conhecimentos relacionados com o tema estudado. Utilizamos este momento final para extrair as principais conclusões e fazer bem como propor algumas sugestões que poderão contribuir para trabalhos futuros. Embora o nosso estudo tenha sido realizado em dois eixos, as conclusões serão apresentadas de uma forma global.

Os métodos utilizados na sua realização foram os mais viáveis, e consideramos ainda que, os resultados obtidos nos permitem adquirir um conhecimento mais real sobre a problemática da infertilidade, identificando dificuldades emocionais das mulheres, de modo a oferecer ajuda. Embora estejamos cientes das limitações existentes no nosso estudo, pensamos ter atingido os objetivos a que nos propusemos, uma vez que analisamos as características sociodemográficas, variáveis obstétricas e antecedentes pessoais das mulheres da amostra, Cruzamo-las com o ajustamento à fertilidade e a satisfação conjugal, identificando os fatores que interferem no ajustamento e na satisfação.

No final deste percurso, após um longo trabalho de pesquisa, análise e interpretação chegou o momento de efetuar as conclusões tidas como pertinentes.

com cerca de 34 anos de idade, casada ou em união de facto, que possui o 12º ano como habilitações literárias, encontrando-se empregada e exercendo funções nas profissões intelectuais e residente na cidade.

Os antecedentes obstétricos e pessoais, da nossa amostra revelam uma mulher que nunca teve grávida anteriormente e que se encontra há mais de três anos a tentar engravidar, que teve a menarca aos 13 anos, que sofre de dismenorreia e com uma duração de período menstrual superior a cinco dias. É, também uma mulher que apresenta história de infeções vaginais e que realizou tratamento, refere ser saudável e não toma medicação habitualmente e o ser viço em questão é o primeiro serviço a que recorreu.

No respeitante ao ajustamento à fertilidade é uma mulher que apresenta um menor ajustamento na dimensão “Ajustamento Total” e um maior ajustamento evidencia-se a dimensão “Aceitação da Vida sem Filhos”.

Relativamente à satisfação conjugal é uma mulher que apresenta uma maior satisfação na dimensão “Satisfação Conjugal Global” e uma menor satisfação evidencia-se na dimensão “Tempos Livres”.

Os resultados obtidos vêm demonstrar que existe uma relação entre uma variável sociodemográfica (idade), as variáveis obstétricas e antecedentes pessoais (existência de gestações anteriores e número de serviços de infertilidade a que recorre) e o ajustamento à fertilidade. Existe, também, uma relação entre as variáveis sociodemográficas (escolaridade e situação profissional), os antecedentes pessoais (história de infeções vaginais e tempo de início dos tratamentos de infertilidade) e a satisfação conjugal.

No que concerne à relação entre o ajustamento à fertilidade e a satisfação conjugal, não se obtiveram diferenças estatisticamente significativas, concluindo que o ajustamento à fertilidade não influencia a satisfação conjugal da mulher com diagnóstico de infertilidade. No entanto, concluímos também, que a “Vida em Suspenso” é preditora da “Intimidade Emocional”, da “Sexualidade” e da “Comunicação/Conflito”, e que estabelece uma relação inversa com estas variáveis o que nos leva a concluir que quanto menor a satisfação relacionada com a “Intimidade Emocional”, com a “Sexualidade” e com “Comunicação/Conflito”, menor a “Vida em Suspenso”. Também, a “Centralidade da Parentalidade” é preditora da “Autonomia” estabelecem com esta uma relação direta, o que nos leva a concluir que quanto menor a satisfação relacionada com a “Autonomia”, maior a “Centralidade da Parentalidade”.

Nesta investigação, tornou-se evidente que o ajustamento à fertilidade pode não influenciar na totalidade a satisfação conjugal, mas influencia aspetos muito importantes da

ajustamento à fertilidade, como é o caso da “Intimidade Emocional”, da “Sexualidade” e da “Comunicação/Conflito” na “Vida em Suspenso” e da “Autonomia” na “Centralidade da Parentalidade”.

Esperamos que os resultados deste estudo tenham trazido à tona aspetos cruciais que influenciam o ajustamento à fertilidade da mulher e a sua satisfação conjugal, e que, o leque de informações obtidas com a realização deste estudo possa contribuir para o aprofundamento dos conhecimentos já existentes nesta área. Desta forma, esperamos também contribuir para uma tomada de consciência/reflexão relativamente às práticas profissionais, o que se traduzirá em benefício para a mulher/casal/sociedade.

Através deste estudo, tornou-se pois evidente a importância dos profissionais de saúde no atendimento ao casal com problemas de infertilidade e a valorização dos aspetos emocionais e dificuldades de adaptação que enfrentam, devido à sua natureza particular, evidenciamos, ainda, a importância de os Enfermeiros Especialistas em Saúde Materna Obstetrícia e Ginecologia estarem preparados para lidar com os aspetos psicossociais com que as mulheres/casais se confrontam quando utilizam os serviços de infertilidade, de modo a melhorar as suas condições e possibilitar a oportunidade de estabelecer bases sólidas para o ajustamento à sua situação.

Os profissionais necessitam estar preparados para lidar com as incertezas e emoções que os casais sofrem quando recorrem a um serviço de Medicina Reprodutiva. Pois como Delgado (2007) refere, as competências comunicacionais e a qualificação das equipas são imprescindíveis, tanto mais que, devido à importância atribuída à conquista do seu desejo de ter um filho, a equipa toma um lugar central na vida dos casais inférteis, conferindo uma natureza especial à relação estabelecida com os profissionais. Daqui se salienta também, a importância do desenvolvimento destas competências em todos os elementos da equipa, pois todos devem contribuir para a criação de um ambiente favorável. Se existe um espectro previsível de respostas à infertilidade, então a intervenção deve ser planeada no sentido de ajudar o casal a vivenciar o percurso da sua infertilidade, o caminho das suas emoções, da melhor forma possível.

Após o que já foi referido anteriormente consideramos importante, providenciar mais informação aos casais acerca dos tratamentos, nomeadamente sobre os procedimentos envolvidos, as taxas de sucesso e a as reações emocionais que frequentemente acompanham estes casais. Identificar os casais com maior risco de apresentar dificuldades de adaptação, parece-nos uma mais valia, assim como, ajudar os casais a lidar com as diferentes fases do tratamento. Os cuidados de saúde relativos à infertilidade inserem-se

conhecidas e evitáveis da infertilidade, com programas de educação em saúde e para uma sexualidade responsável, a implementação de serviços de aconselhamento e a investigação relativa a outras causas não conhecidas.

No documento Infertilidade e satisfação conjugal (páginas 175-181)

Documentos relacionados