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Este trabalho de investigação tem como objetivo responder à questão: “Qual a perceção dos agentes em relação à possível aplicação das Quotas Individuais Transferíveis (ITQ) nas Pescas Europeias?”.

A perspetiva teórica vê sempre as coisas como um referencial ótimo, no entanto, na prática, os pressupostos nem sempre se confirmam.

Relativamente aos dados recolhidos nas entrevistas aos agentes, pode-se afirmar que a linha geral de pensamento, em relação às ITQ, é desfavorável. A perceção é de que potencia a concentração dos direitos de pesca nas grandes empresas e nos grandes consórcios financeiros. Quem tem mais dinheiro, ganha a corrida ao direito de acesso ao recurso.

Os ITQ ao priorizar o lucro financeiro, tudo o resto é tido como secundário, não têm em conta as comunidades piscatórias e as economias locais, a pequena frota dá lugar a frotas hiperindustrializadas. Essas frotas tendem a usar os recursos numa ótica de maior lucro financeiro no curto prazo, sem terem preocupações em termos ambientais e sociais.

A liberalização do mercado europeu, sem prever salvaguardas para os países, prejudicaria muito Portugal. A longo prazo, Portugal veria as suas quotas serem adquiridas por outros países com mais capacidades financeiras e, com isso, assistir-se-ia à deslocação de quem toma a decisão da zona geográfica de onde as suas atividades têm impacto.

Tendo por base todas as entrevistas, chega-se à colusão que a perceção dos agentes sobre a questão da possível introdução dos ITQ nas pescas europeias é completamente

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desfavorável; não servem os reais interesses da maioria dos E.M; permite sobretudo beneficiar os grandes grupos financeiros ligados à pesca.

Se este sistema dos ITQ fosse implementado na PCP teria efeitos negativos nas pescas Portuguesas. O setor pesqueiro em Portugal é composto, na sua grande maioria, por pequenas embarcações, sendo difícil aos seus proprietários, no mercado livre de quotas, competir com grandes empresas.

Portugal é composto por algumas comunidades fortemente dependente das pescas, a perda de direitos de pesca revelar-se-iam catastróficas, a nível económico, para essas comunidades e para o próprio país. As pescas passariam a ser geridas por grandes empresas, sem preocupações ambientais e sociais, visando apenas o lucro.

Parece-me que um sistema de ITQ implementado a nível das pescas europeias seria bastante prejudicial a Portugal.

A elaboração deste trabalho vem acrescentar mais um contributo importante para a economia das pescas. Portugal apresenta algumas carências ao nível da investigação socioeconómica, e nesse sentido esta investigação será um ganho para a comunidade científica e para a socioeconómica das pescas.

Para o desenvolvimento de futuras investigações apresentam-se algumas sugestões de possíveis temas, que de alguma forma resultaram da investigação realizada.

Seria interessante um estudo aprofundado sobre a real situação da pequena pesca costeira em Portugal, como é que ela sobrevive?

Outra, qual a perceção dos agentes sobre a obrigação de descarga imposta pela nova PCP? E por último, que efeitos terão ao nível da PCP as Alterações Climáticas?

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