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A partir da revisão bibliográfica, foi possível verificar que existe uma série de trabalhos voltados para o registro de manifestações patológicas, tanto ao redor do mundo quanto no Brasil. Apesar de existirem vários trabalhos sobre o tema, a comparação dos resultados ainda é difícil devido à falta de sistematização de coleta e análise de dados. Esta falta de sistematização pode ser atribuída a diversos fatores, que vão desde o objetivo do trabalho, tipo de edificação analisada, maneira que a informação foi coletada, qualidade e quantidade de informações disponíveis até a quantidade de amostras.

Várias foram as metodologias adotadas por pesquisadores em trabalhos passados, variando de acordo com suas disponibilidades e necessidades específicas. Os principais métodos de coleta de dados foram: através da inspeção in loco pelo pesquisador, questionários com usuários, consulta em relatório de obras de empresas, entrevistas com engenheiros, consulta a acervo de fundações, institutos e órgãos como Caixa Econômica Federal e CREA. Ao analisar os trabalhos no qual a metodologia utilizada foi a coleta de dados através de empresas ou órgãos públicos, foi possível verificar que não existe uma sistematização em relação ao registro das manifestações patológicas, e que cada fonte possui uma quantidade de informações diferentes, o que dificulta a comparação. Foi possível perceber que os trabalhos que fizeram uso de pesquisa através de acervo técnico de empresa ou questionários obtiveram um número de amostras consideravelmente maior quando comparado com o de trabalhos em que o levantamento realizado foi através da inspeção in loco.

A coleta de dados do presente trabalho, na análise das manifestações patológicas mais recorrentes em edificações executadas em Recife e região metropolitana, se deu através da consulta ao acervo técnico de três empresas. Foram coletados dados de 196 edificações, dos quais 109 foram através da análise de laudos de inspeção predial, e 86 através de propostas comerciais e relatórios de obras de reparo e/ou reforço estrutural. Apesar de detalhar as manifestações patológicas existentes em cada tipo de pavimento da edificação, os laudos de inspeção predial analisados não quantificavam quantos elementos de cada tipo eram afetados por cada manifestação. Então, para o registro das incidências das manifestações patológicas, foi utilizado uma metodologia semelhante a do “método

da intensidade”, porém com a restrição de que cada tipo de manifestação em um determinado elemento foi contabilizada, apenas, uma vez por pavimento. Através dessa metodologia, foi possível realizar diversas análises. Uma delas é que, identificando a distribuição das manifestações pelos pavimentos de uma edificação, mesmo o pavimento térreo tendo o maior número de registros de ocorrências global, o pavimento subsolo foi o que teve maior número de ocorrências por pavimento vistoriado.

Verificou-se, na pesquisa, que as empresas analisadas não tinham arquivos sistematizados que descreviam as causas e tipos manifestações atreladas as intervenções executadas com detalhes, o que dificultou a comparação dos números. Foram analisados dados de uma empresa especializada em inspeções e duas empresas especializadas em reparo e/ou reforço estrutural. Enquanto na primeira empresa foi possível verificar registros dos mais diversos tipos de manifestações patológicas, nas outras duas foi possível verificar os materiais e métodos de reparos mais utilizados em elementos estruturais.

A maior dificuldade encontrada durante a coleta foi a definição da causa e origem de uma determinada manifestação patológica. Pela revisão bibliográfica, foi possível notar que vários trabalhos trazem números voltados para origem das manifestações patológicas, definindo se a falha ocorreu na etapa de projeto, execução, escolha dos materiais ou durante o uso. Porém, por muitas vezes não foi explicado em detalhes a maneira e através de quais critérios o autor chegou até um determinado resultado. A definição da origem de uma manifestação patológica não é tarefa fácil. Em vários casos, é preciso se ter acesso aos projetos estruturais ou realizar ensaios como de resistência para o concreto, arrancamento para os revestimentos, ensaios destrutivos para se verificar a disposição das armaduras, entre outros.

No presente trabalho, não foi feito um quantitativo das origens das manifestações patológicas porque nenhum dos documentos analisados contemplaram esse objetivo. Na primeira empresa, o objetivo era realizar inspeções prediais, onde se buscava avaliar as condições técnicas de uso e de manutenção da edificação e orientar a manutenção e a qualidade predial total. Nas outras duas empresas, o objetivo era executar procedimentos de reparo e/ou reforço estrutural. Ademais, foi possível notar um padrão de procedimentos e materiais. Um simples ensaio de percussão, por exemplo, em busca do som cavo se mostrou ser uma boa

ferramenta para estimativa de área de corrosão de armadura e o groute foi o material mais utilizado para o reparo estrutural.

A corrosão de armadura, fissuras, falhas de impermeabilização e manchas de infiltração foram as manifestações patológicas mais recorrentes na edificação. São manifestações bastantes conhecidas pela indústria da construção, mas que continuam figurando com recorrência nas edificações. A divulgação deste trabalho se faz importante, para melhor entendimento dos problemas encontrados e que a busca pela construção de obras mais duráveis seja incentivada.

Através deste estudo, foi possível constatar que uma das principais ferramentas da inspeção predial é a inspeção visual, sendo bastante eficaz para o levantamento das manifestações patológicas. Porém, nem sempre pode ser conclusiva, sendo necessário o auxílio de testes e ensaios. Ao utilizar a inspeção visual, vários aspectos devem ser analisados. Os elementos estruturais, por exemplo, estão aparentes apenas em algumas partes do edifício, como no térreo ou nos subsolos. Assim, o engenheiro diagnóstico deve também estar atento aos outros sistemas, como as alvenarias e os revestimentos, pois estes sistemas podem esconder a estrutura e também interagir com ela. Uma simples fissura, por exemplo, ou um desplacamento de revestimento cerâmico, deve ser analisado com atenção pois podem revelar problemas mais sérios, como flechas em lajes em vigas ou corrosão de armadura. Ressaltando a necessidade e importância da presença de um profissional com experiência e habilitado na elaboração da inspeção predial.

Apesar das inspeções prediais serem de suma importância, não existe uma lei federal para reger o tema, ficando a cargo dos estados e municípios definir as práticas a serem obedecidas em cada região. Na prática, quando o tema é inspeção predial, suas legislações e fiscalizações ainda são precárias. O setor público, que possui o poder de fiscalizar e punir, nos fornece um péssimo exemplo. Frequentemente não observam os mínimos requisitos de segurança e manutenção existentes nas normas técnicas em suas próprias obras. No Brasil, é comum os gestores públicos se preocuparem com inauguração de novas obras, porém sem o menor interesse na manutenção das edificações existentes.

Por outro lado, a passos lentos, as normas da NBR 15.575 e NBR 5674 que versam sobre uso, desempenho e manutenção das edificações tem motivado o setor privado, onde os síndicos e construtores estão se mobilizando para o entendimento e aplicabilidade das exigências e recomendações previstas nos textos normativos

procurando, dessa maneira, evitar eventuais ações de responsabilidade.

É notória a necessidade de mudanças. Através das análises realizadas, foi possível concluir que a maioria das manifestações patológicas encontradas poderiam ser evitadas ou minimizadas caso houvesse um melhor controle de qualidade nas etapas do processo construtivo, atrelado também ao seguimento de um programa de manutenção preventiva. É esperado, portanto, que a indústria possa cada vez mais se profissionalizar e elevar o seu padrão de qualidade, e que os usuários possam cada vez mais estar cientes do seu papel de manutenção e preservação de seu patrimônio.