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O conhecimento que cada indivíduo possui das circunstâncias específicas de tempo e lugar, mesmo não sendo um conhecimento científico, coloca-o em vantagem para a escolha da melhor alocação dos recursos que possui. O Estado deve evitar sobrepor sua vontade à dos indivíduos sob a crença de que o conhecimento científico que seus especialistas possuem é superior ao dos indivíduos. Somente com a valorização do conhecimento individual o sistema de preços não será afetado e as informações naturalmente chegarão a quem as procura de forma a subsidiar as decisões sobre a alocação de recursos escassos maximizando a eficiência (Hayek). Em sentido oposto ao defendido por Hayek, está o modelo de Estado desenvolvimentista preconizado por Evans e a crença em um Estado centralizador e indutor do desenvolvimento econômico. O maior problema da teoria desenvolvimentista reside na não delimitação dos contornos do modelo. Essa ilimitada margem de atuação estatal traz à tona a possibilidade de surgimento de modelos odiosos de Estado como os que desconsideram o conhecimento do indivíduo e sua liberdade.

A ausência de limites definidos e claros para a intervenção do Estado na economia pode gerar consequências imprevisíveis e desastrosas conforme apresentado na pesquisa. Mais ainda, o incentivo do desenvolvimentismo à atuação ativa do Estado na economia pode gerar graves distorções no mercado, alterando o sistema de preços e atrapalhando a decisão dos agentes econômicos sobre investimentos.

Tendo em vista que os governantes tem grande incentivo para aumentar o gasto público com o fim de garantir legitimidade nos curto e médio prazos, o desenvolvimentismo fracassa ao não tratar em sua teoria de controles e bloqueios à sede estatal por mais recursos públicos. Abre espaço para condutas de total irresponsabilidade fiscal que, em regra, garantem poder e legitimidade a um governo no curto prazo, mas geram graves crises, anos mais tarde, que podem durar décadas.

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Ainda, os laços entre o Estado e suas elites industriais, outra característica basilar do Estado desenvolvimentista de Evans (2004), possibilitam o surgimento de grandes esquemas de corrupção que alteram por completo a busca pelos objetivos nacionais.

O Estado desenvolvimentista brasileiro do início do atual século, aos moldes de Hayek, é um marcante exemplo das falhas do desenvolvimentismo (ou um contraexemplo ao alegado por Evans). Além de não ter alcançado seu objetivo de desenvolver social e economicamente o Brasil, foi o principal responsável pela crise histórica por que passa o País.

A forte intervenção do governo brasileiro na economia enfraquecendo o mercado e a busca pela eficiência, os “estreitos” laços entre o Estado e as elites econômicas que possibilitaram o crescimento de uma corrupção endêmica, a busca por legitimidade de curto e médio prazos baseada em expansão do gasto público em contraponto à necessária gestão responsável dos recursos públicos escassos levaram o Brasil a uma das piores crises de sua história. Se por um lado não houve uma transformação industrial que fosse base para um desenvolvimento econômico sustentável, apesar das intervenções e de um planejamento acentuadamente centralizado, por outro houve um total desequilíbrio das finanças públicas brasileiras além de um fortalecimento da corrupção dentro do aparato estatal.

A irresponsabilidade na gestão fiscal do Estado desenvolvimentista brasileiro culminou, além do aumento da dívida pública de 2003 a 2013 fruto de déficits nominais anuais, mesmo sendo o referido período de crescimento econômico, em uma dívida que somou, apenas contabilizando os déficits de 2014, 2015 e 2016, o impressionante valor de um trilhão, duzentos e cinquenta bilhões de reais (R$ 1.250.000.000.000,00).

A consequência de tamanho endividamento foi um desajuste fiscal sem precedentes e que demandará um grande sacrifício de toda a população para conseguir superavits primários suficientes (ou com aumento de tributação ou redução de serviços à população) para, pelo menos estabilizar a dívida pública consolidada no longo prazo.

A ausência de limites para a atuação estatal aliada ao incentivo para fortalecer laços com as elites industriais, conforme defendido por Evans (2004), abrem espaço para resultados incontroláveis. O caso brasileiro evidencia o tamanho e a generalidade que o rentseeking pode alcançar. A “Operação Lava Jato” apresentou resultados impressionantes a respeito da extensão da corrupção.

Conclui-se no artigo que o modelo desenvolvimentista possui falhas estruturais perigosas que abrem enormes flancos para que o Estado se torne o predador de seu próprio povo.

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No documento O Estado desenvolvimentista predador (páginas 35-38)

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