• Nenhum resultado encontrado

48

A presente dissertação apresenta-se como uma relevante análise da temática manipulação de resultados e oferece duas contribuições para a literatura. Em primeiro, expõe uma análise significativa dos conceitos, das motivações, das estratégias e das metodologias relacionados com a temática. Em segundo, com recurso a uma metodologia quantitativa por via de modelos econométricos, permitiu constatar que existem indícios de que as empresas do setor de restauração e hotelaria promovem práticas de manipulação de resultados.

No seguimento do que é referido na literatura concluímos que os vários autores que se debruçaram sobre a temática são unânimes em admitir que os gestores se aproveitam da flexibilidade existente no normativo contabilístico para utilizarem práticas de manipulação de resultados. Este aproveitamento é motivado por interesses pessoais dos gestores (e.g. os bónus remuneratórios) ou interesses dos detentores do capital (e.g dividendos) ou ainda por fatores externos à organização, tais como os mercados de capitais, a situação política e legal ou obrigações contratuais com outras entidades. Decorre destas motivações a necessidade de colocar em prática as estratégias que melhor sirvam os propósitos dos manipuladores (e.g aumentar gastos, diminuir rendimentos). Por vezes, as práticas utilizadas vão para além do aproveitamento do vazio legal e as empresas incorrem em práticas fraudulentas. O papel do auditor é então fundamental para garantir que a informação apresentada aos stakeholders está em conformidade com o normativo legal, no limite do que é materialmente razoável.

A literatura apresenta um conjunto de modelos para a deteção da manipulação de resultados. De entre os que mais se encontram disseminados pela literatura, os que se baseiam em accruals revelam-se como sendo os que mais se utilizam na análise empírica, e no caso da presente dissertação, revelou-se aquele que melhor serviria para testar a hipótese avançada, em função da população do estudo e dos dados disponíveis. Assim, tendo por base uma amostra de 12.994 empresas portuguesas do setor de hotelaria e restauração, para o período 2006 a 2013, testou-se em que medida há indícios de manipulação de resultados, tendo como suporte para aferir esse indícios a qualidade dos accruals. A evidência empírica obtida corroborou a hipótese formulada. Há evidência de que as empresas procuram manipular resultados e que algumas características que as empresas apresentam, tais como variações dos accruals, variações do cash flow, variações dos resultados, variações nas vendas, a dimensão ou a frequência com que as empresas apresentam resultados negativos, são indiciadores de manipulação de resultados.

49

Limitações do estudo

Apesar de este estudo se revelar um contributo interessante para a literatura, apresenta algumas limitações. Em primeiro lugar existe um número de empresas que integra o presente estudo que pela sua pequena/micro dimensão não são obrigadas a apresentar a Demonstração de Fluxos de Caixa, pelo que as variáveis CFO do estudo foram obtidas com recurso a métodos indiretos, e como tal podem não refletir os valores exatos. Uma segunda limitação é o facto de a metodologia utilizada não permitir distinguir os dados financeiros que estão afetados por uma ação deliberada dos órgãos de gestão com vista à manipulação de resultados. Por outro lado, os resultados obtidos não constituem uma medida de mensuração da manipulação de resultados, mas apenas um indício da sua existência, tal como foi já referido.

Sugestões de investigação futura

Tendo em conta as limitações apresentadas, uma sugestão de investigação futura seria utilizar uma amostra de empresas que apresentem a Demonstração de Fluxos de Caixa, permitindo assim obter dados mais precisos dos cash flow. Uma segunda sugestão passaria por aplicar à mesma amostra quer a metodologia do presente estudo quer outras metodologias e comparar os resultados apresentados.

50

Referências Bibliográficas

Barth, M. E., Nelson, K. K., & Cram, D. P. (2001). Accruals and the Prediction of Future Cash Flows. The Accounting Review, 76(1), 27–58.

Beneish, M. D. (2001). Earnings Management: A Perspective. Managerial Finance, 27, 3- 17.

Borges, A., Rodrigues, A., & Rodrigues, R. (2010). Elementos de Contabilidade Geral (25ª Edição). Áreas Editora.

Burgstahler, D., & Dichev, I. D. (1997). Earnings management to avoid earnings decreases and losses. Journal of Accounting and Economics, 24, 99–126.

Comiskey, E., & Mulford, C. (2002). The financial numbers game: detecting creative accounting practices. John Wiley & Sons, Ltd.

Cunha, M. R. (2013). Métodos empíricos para detetar práticas de manipulação de resultados. Revisores E Auditores, 63, 15-23.

DeAngelo, H., DeAngelo, L. E., & Skinner, D. J. (1994). Accounting choice in troubled companies. Journal of Accounting and Economics, 17, 113–143.

DeAngelo, L. E. (1986). Accounting Numbers as Market Valuation Substitutes: A Study of Management Buyouts of Public Stockholders. The Accounting Review, 61, 400–420.

Dechow, P. M. (1994). Accounting & Economics The role of accounting accruals. Journal of Accounting and Economics, 18, 3–42.

Dechow, P. M., & Dichev, I. D. (2002). The Qualityof Accruals and Earnings : The Role of Accruals Estimation Errors. The Accounting Review, 77, 35–59.

Dechow, P. M., Richardson, S. a, & Tuna, I. (2003). Why Are Earnings Kinky? An Examination of the Earnings Management Explanation. Review of Accounting

Studies, 8, 355–384.

Dechow, P. M., & Skinner, D. J. (2000). Earnings Management: Reconciling the Views of Accounting Academics, Practitioners, and Regulators. Accounting Horizons, 14, 235– 250.

51

Dechow, P. M., Sloan, R. G., & Sweeney, A. P. (1995). Detecting Earnings Management.

The Accounting Review, 193–225.

Dechow, P. M., Sloan, R. G., & Sweeney, A. P. (1996). Causes and Consequences of Earnings Manipulation: An Analysis of Firms Subject to Enforcement Actions by the SEC. Contemporary Accounting Research, 13, 1–36.

Eisenhardt, K. M. (1989). Agency Theory: An Assessment and Review. Academy of

Management Review, 14, 57–74.

Healy, P. M. (1985). The effect of bonus schemes on accounting decisions. Journal of

Accounting and Economics, 7, 85–107.

Healy, P. M., & Wahlen, J. M. (1999). A Review of the Earnings Management Literature and Its Implications for Standard Setting. Accounting Horizons, 13, 365–383.

Jacobson, D. D. (2009). Revisiting IT governance in the light of institutional theory. In

System Sciences, 2009. HICSS'09. 42nd Hawaii International Conference on (pp. 1-

9). IEEE.

Jensen, M. C., & Meckling, W. (1976). Theory of the Firm: Managerial Behaviour, Agency Costs y Ownership Structure. Journal of Financial Economics, 3, 305–360.

Jones, J. J. (1991). Earnings Management During Import Relief Investigations. Journal of

Accounting Research, 29, 193–228.

Jones, M. (2011). Creative accounting, fraud and international accounting scandals. John Wiley & Sons, Ltd.

Kang, S.-H., & Sivaramakrishnan, K. (1995). Issues in Testing Earnings Management and an Instrumental Variable Approach. Journal of Accounting Research, 33, 353–367.

Mckee, T. E., & Eilifsen, A. (2000). Current Materiality Guidance for Auditors. The CPA

Journal, 70, 54-57.

McNichols, M. F. (2000). Research design issues in earnings management studies.

Journal of Accounting and Public Policy, 19, 313-345.

McNichols, M. F., & Wilson, G. P. (1988). Evidence of Earnings Management from the Provision for Bad Debts. Journal of Accounting Research, 26, 1–31.

52

Moreira, J. A. C. (2006a). Are financing needs a constraint to earnings management? Evidence for private Portuguese firms. Discussion Papers (CETE, FEP/UP).

Moreira, J. A. C. (2006b). Manipulação para evitar perdas: o impacto do conservantismo.

Contabilidade e Gestão, Revista Cientifica Da Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas, 3, 33–63.

Moreira, J. A. C. (2008a). A manipulação dos resultados das empresas: um contributo para o estudo do caso português. Jornal Da Contabilidade (APOTEC), 373 e 374, pp. 112–120 e 144–153.

Moreira, J. A. C. (2008b). Incentivos à manipulação dos resultados no contexto português : o impacto do Pagamento Especial por Conta ( PEC ). AECA Revista Da Associación Española de Contabilidade E Administración de Empresas, 83, 66–69.

Moreira, J. A. C. (2013). Pode um investidor medianamente diligente detectar a manipulação dos resultados das empresas? Estudo do caso Worldcom, Working Paper 29, OBEGEF – Observatório de Economia e Gestão de Fraude.

Moses, O. D. (1987). Income smoothing and incentives: empirical tests using accouting changes. The Accounting Review, 62, 358–377.

Nunes, R. (2014). As implicações das práticas de alisamento de resultados na qualidade da informação. Revisores E Auditores, 64, 32–40.

Penman, S. H. (2013). Financial Statement Analysis and Security Valuation (5th Edition). MacGraw-Hill.

Schilit, H. (2010). Financial Shenanigans. McGraw-Hill.

Schipper, K. (1989). Commentary on earnings management. Accounting Horizons, 91– 102.

Silva, E. L. & Menezes, E. M. (2005). Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação (4ª edição). Florianópolis: UFSC

Viana, L. (2009). Manipulação de resultados contabilísticos, 1–26. Acedido em 3, janeiro, 2015, em http://nrhomem.no.sapo.pt/manipulacaoderesultados.pdf

53

Watts, R. L., & Zimmerman, J. L. (1983). Agency Problems, Auditing, and the Theory of the Firm: Some Evidence. The Journal of Law and Economics, 26, 613.

Bibliografia não referenciada

Associação da hotelaria, restauração e similares de Portugal, Insituição de Utilidade Pública. (2015), Caracterização do setor - Restauração e Hotelaria. Acedido em 18, outubro, 2015, em:

http://www.ahresp.com/files/filemanager/COMUNICACAO/Documentos/untitled%20f older2/AHRESP%20-%20Caracterizacao%20do%20Setor%20-%202013.pdf

Banco de Portugal. (2014) Análise do setor do Turismo – Estudos da Central de

No documento o setor da hotelaria e restauração (páginas 56-62)

Documentos relacionados