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O resgate da cultura indígena, massacrada pelo invasor europeu e negligenciada pela historiografia científica, faz-se necessário. No âmbito do presente trabalho, houve um esforço no sentido de ir contra tal tendência, que busca homogeneizar os traços culturais nativos, e que consequentemente acaba por apagar as particularidades e descobertas dos íncolas brasileiros.

A elaboração de sequências didáticas que tomam a cultura indígena como contexto, objetivo deste trabalho, é um esforço no sentido de trazer para perto do processo de ensino-aprendizagem os traços culturais que foram e são constantemente distorcidos e muitas vezes apagados pela lógica de produção do conhecimento, que prioriza os trabalhos e dados oriundos do continente europeu ou da América anglo-saxônica. Tal objetivo, alcançado por tal prática pedagógica, é possível devido ao grande conjunto de atividades que podem ser desenvolvidas para que os temas sejam aprofundados: leituras em grupo ou individualmente, utilização de softwares computacionais, experimentos, atividades dialogadas, entre outras

Os questionamentos acerca das definições de Ciência, assim como das maneiras de se produzir o conhecimento científico, são o ponto de partida do trabalho, que busca traçar novas concepções para, a partir disso, elaborar sequências que sejam ao mesmo tempo didáticas e enriquecedoras. A construção do conhecimento, na perspectiva decolonialista, passa necessariamente por este ponto: de questionar os princípios epistemológicos que norteiam a produção ocidental de conhecimento, para posteriormente introduzir o contexto de vida indígena nos mais variados assuntos que permeiam o ensino de química contextualizar o ensino de química com os hábitos indígenas, sem partir de pressupostos epistemológicos nativos, é um mero contar de histórias.

A partir das reflexões sobre o método de obtenção de conhecimento dos povos indígenas, traçou-se sequências didáticas que visavam discutir conceitos científicos básicos (massa, volume, densidade, energia, entre outros) a partir do modo de vida dos íncolas, mostrando que os mesmos já lidavam com tais grandezas, e dispunham de um conhecimento próprio acerca dos processos de modificação da natureza.

Portanto, visando atribuir o justo valor que a cultura nativa merece, bem como no sentido de visar a aplicação da Lei 11.645/08 no âmbito do ensino das

Ciências da Natureza, o presente trabalho é um esforço no sentido de reorganizar a produção do conhecimento a partir das raízes ancestrais do povo brasileiro – mais propriamente indígenas -, a partir do aprendizado de conceitos básicos no estudo das ciências naturais.

Ademais, este trabalho faz parte de uma tendência recente, forjada no âmbito da reorganização global, que busca reescrever a história do conhecimento, indo contra a tendência epistemicida que é diretamente ligada aos processos de colonização das regiões dominadas e exploradas pelos povos europeus. Em um país multirracial e multifacetado com o Brasil, é urgente que outros grupos e estratos sociais tenham voz, e não apenas reproduzam a voz hegemônica que mitiga as particularidades e heterogeneidades de nosso País.

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APÊNDICE A – TABELA CONTENDO CONTEXTOS E TEMAS POSSÍVEIS DE SEREM ABORDADOS EM AULAS DE QUÍMICA.

CONTEXTO TEMA DE AULA

Preparação do curare e da farinha de mandioca

Substâncias e misturas; Separação de misturas. Produção de ácido cianídrico a partir da

linamarina e uso da rotenona (timbó)

Funções orgânicas; Reações orgânicas de hidrólise;

Química ambiental. Ervas sagradas e chás medicinais Separação de componentes de

misturas;

Compostos orgânicos; Processos bioquímicos. Utensílios utilizados na vida indígena Processos físicos e químicos;

Estudo da matéria. Conservação de alimentos em gorduras Cinética de reações químicas.

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